Meus amigos às vezes caçoam de mim porque costumo afirmar que a subjetividade tem um enorme peso na vida dos poderosos – como na vida de todos nós — podendo determinar o êxito ou o fracasso de grandes empreitadas, conforme seja a relação dessa pessoa consigo mesma e com aqueles com quem interage no dia a dia. Para mim, nosso “eu”, nossos afetos interferem fortemente em nossas ações e, principalmente, em nossas reações. Para alguns desses amigos, o que digo não passa de coisa de “poeta”, de idealista, de gente que lê demais – ou seja, de um tolo –, porque, na verdade, tudo é resultado de trabalho puro e simples, e que todas as batalhas são travadas em cima de uma única coisa: dinheiro! A busca por dinheiro! Que fracasso, debacle, bancarrota é consequência apenas de trabalho mal feito. E ainda, que eu atribuo uma sabedoria excessiva ao meu mestre William Shakespeare, ao querer explicar o que acontece no mundo por intermédio de seus personagens, suas peças e poemas... Risos!
Por Theófilo Silva em seu Blog
Na verdade, sei que não estou dizendo novidade alguma, pois qualquer psicólogo me daria razão, já que se trata do óbvio! Quem achar que a Soberba: vaidade, orgulho, arrogância e prepotência não são tão destruidoras quanto um contrato malfeito está completamente errado. Não é por menos que o cristianismo nos legou os Sete Pecados Capitais. Portanto, Gula, Soberba, Avareza, Ira, Vaidade e Luxúria podem causar danos irreparáveis à vida daqueles que chafurdam neles.
E é no exercício do poder que essas “danadas” se apresentam com mais força, tendo em vista a pressão que os líderes enfrentam todos os dias. E o Poder assusta. O ditado “Quer conhecer alguém, dê poder a ele” é insuficiente para descrever as enormes implicações que o poder e seu exercício exercem sobre as pessoas. É no equilíbrio desses “pecados” que o líder poderá demonstrará que é sábio e digno ou se um mero ladravaz. São tantas as nuances e variáveis que rodeiam o líder, que ele corre o rico de ser engolido e destruído por elas.
No teatro de Shakespeare encontramos seus reis pomposos batalhando, vencendo e conquistando, como é o caso do jovem Henrique V, que tinha tudo para dar errado como rei, mas que sabendo balancear sua juventude, depois de ser educado por Falstaff, conquista a França, vencendo uma batalha em que seu exército era cinco vezes menor que o francês. Ou de Ricardo II que, com toda uma vida pela frente e condições favoráveis para fazer um grande reinado, apega-se exageradamente a Teoria do Direito Divino, vaidoso como um pavão, agindo como um deus ungido, cerca-se de bajuladores, cai no desprezo do povo, e acaba sendo destronado, preso e logo em seguida assassinado.
A Segunda Guerra Mundial foi fruto da arrogância alemã, que achava que podia dominar o mundo. Regidos por um louco megalomaníaco, os alemães quase destruíram a civilização. Por outro lado, a guerra poderia ter terminado meses antes – esse é um dos motivos e não o único –, não fosse a arrogância do feioso e insuportável marechal de campo inglês Montgomery, vaidosíssimo, que às turras com o paciente e consciencioso Eisenhower, cometeu erros colossais no ataque a Arhem, na Holanda – que gerou o filme Um Ponte Longe Demais – matando dezenas de milhares de soldados e esticando a guerra por mais dois meses. Assim era também o general Charles de Gaulle, líder da completamente desmoralizada França, exigindo tratamento de rei, quando não passava de um mero general de brigada – tratando ingleses e americanos que lhe deram “casa, comida, roupa lavada e dinheiro” com uma soberba que tirava Churchill e Roosevelt do sério. Sua arrogância atrapalhou acordos, emperrou tratados, criando caos nas relações diplomáticas entre os aliados. Aliás, se fôssemos apontar onde mais ocorrem atos de profunda estupidez, monstruosamente destruidores, ocasionados por arrogância, vaidade e prepotência, seriam entre os militares – principalmente entre os oficiais – durante as guerras. O outro é o terreno da política. São poucos os políticos que não terminam suas carreiras completamente amargurados ou defenestrados!
Santo Agostinho enxergava a Soberba como a rainha de todos os males. Shakespeare concordaria com ele, pois diz pela boca de Agamenon, em Troilus e Créssida: “O orgulhoso se devora a si mesmo: o orgulho é seu próprio espelho, sua própria trombeta, sua própria crônica”.
Ousam discordar de mim, “Olhai a vossa volta”.
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