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Wesley Safadão Foto TV Globo |
Opinião
Editorial do Blog do Arretadinho sobre o cachê de Wesley Safadão nos festejos de São João em Campina Grande
Por Joaquim Dantas
O que há de errado em um cantor cobrar mais de R$ 500 mil para fazer uma única apresentação nos festejos de São João? Nada!
O que deve servir de motivo para reflexão sobre este tema são os aspectos que o cercam. Todos os noticiários da grande mídia pautaram a "polêmica" do valor cobrado pelo cantor Wesley Safadão, para se apresentar no próximo dia 25 nos festejos de São João em Caruaru, no estado de Pernambuco, mais de R$ 500 mil para uma única apresentação.
O Ministério Público Federal, MPF, questionou a diferença do valor cobrado pelo cantor, para cantar em Caruaru e em Campina Grande Grande, na Paraíba, no mesmo dia. Enquanto a prefeitura da cidade pernambucana vai pagar mais de meio milhão de Reais para o cantor, a prefeitura da cidade paraibana pagará R$ 195 mil pelo mesmo show no mesmo dia.
As questões periféricas deste tema é que deveriam ser tema de questionamento do MPF, por exemplo, a população da cidade de Campina Grande sofre com um racionamento de água, desde 2014, sem que o poder público faça os investimentos necessários para solucionar o problema, sem falar nos outros problemas que afligem os moradores da cidade paraibana nas áreas da Saúde, Educação e Segurança e que dependem, exclusivamente, das ações do Executivo municipal.
Já na cidade pernambucana de Caruaru, a situação não é diferente nos quesitos que interferem no cotidiano do cidadão e que parecem distantes de encontrar solução, como saneamento público, por exemplo. Além da diferença de 300% no valor pago entre as duas prefeituras, levando em conta as necessidades básicas da população, um valor ou outro é uma imoralidade.
Honestamente, não vejo este assunto como uma polêmica, mas como uma questão objetiva. As festas juninas no Nordeste são, além de tradicionais e seculares, uma grande fonte de renda para a população e de arrecadação para o Estado. A questão objetiva é a de que, ao invés da prefeitura desembolsar mais de meio milhão de Reais para um único cantor, dividisse esse pagamento com a iniciativa privada e contemplasse os músicos regionais, que interpretam o verdadeiro forró, diferente do Safadão, que é um intérprete do forró de plástico, como bem batizou esse ritmo o cantor Chico Cesar, que quando exerceu o cargo de secretário de Cultura da Paraíba, fez valer uma Lei que estava esquecida e que proíbe o pagamento de cachês, com recursos públicos, aos artistas que não interpretem as tradicionais manifestações culturais da Paraíba.
Chico Cesar Foto Joaquim Dantas |
Safadão não surgiu na cena musical ontem, ele tem mais de 12 anos de carreira. Ele começou por acaso na banda Garota Safada, formada pela mãe, pelo tio e por outros integrantes da família.
Um certo dia, o antigo vocalista se negou a subir no palco minutos antes do show e Wesley assumiu o microfone. A carreira foi crescendo progressivamente e a fama começou no Nordeste. Em 2013, ele assinou um contrato com duas empresas, uma delas administrada pelos "sertanejos" Jorge e Mateus.
O forró de plástico surgiu na década de 1990 e um dos protagonistas da transformação do forró pé de serra em forró de plástico e em um grande negócio, foi o empresário Emanuel Gurgel. Ele conta que, nessa época, o forró era considerado brega e visto com muito preconceito pela mídia.
Gurgel "estilizou" o ritmo tradicional com coreografias e letras "sensualizadas", além de inovar na divulgação dessas bandas.
Após administrar alguns fracassos, Gurgel lançou a banda Mastruz com Leite, que fez um grande sucesso. Antes as bandas só tocavam três músicas de forró pé de serra no Nordeste, geralmente nos intervalos dos shows. O Mastruz tocava durante cinco horas e para segurar o público, a formação da banda possuía dois músicos para cada função. Depois ele introduziu guitarra, baixo, dançarinas com roupas sensuais e jogos de luz nos shows, recriando o estilo.
No início dos anos 2000, enquanto o mundo brigava contra a internet e a pirataria, os empresários do forró de plástico desenvolveram uma estratégia que usava a internet e a pirataria como instrumento de divulgação.
Eles começaram a distribuir os CDs das bandas gratuitamente e lucrar a partir dos eventos e menções a empresas dentro das músicas. No meio do show, o cantor dava um “alô” para determinada marca, esse show era gravado e distribuído gratuitamente em CDs e posteriormente, via downloads na internet, divulgando o nome da empresa junto. Uma estratégia muito parecida com essa foi adotada também na cena tecnobrega, na região Norte, alguns anos depois do forró de plástico.
Para ampliar a divulgação das bandas os empresários passaram a comprar horários nas rádios locais, com o objetivo de fidelizar o público com o ritmo, em seguida, começaram a comprar epaço em programas de TV como o Domingão do Faustão, ampliando o alcance das bandas em todo o território nacional.
Como se pode perceber, desconstruímos a tese de que ritmos como o interpretado por Safadão, são "uma preferência nacional", mas sim, uma imposição do capital.
Polêmicas à parte, viva o autêntico forró, viva Gonzagão!
com informações de Agatha Justino
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