Por (*) André Barreto
Para o Blog do Arretadinho
Quando falamos ou escrevemos sobre a violência do capital sobre o mundo do trabalho e sobre os trabalhadores, muitas vezes, a tendência é ficarmos no plano das ideias ou nos atermos a fatos ocorridos nos séculos passados.
Mas, e quando esse embate causa mortes e vira manchete de jornais mundo afora em 2016?
No final de novembro passado, os brasileiros - e boa parte do mundo - acompanharam estarrecidos as notícias sobre a queda do avião da LaMia - um Avro RJ85 -, que levava a delegação da Chapecoense para a primeira partida da decisão da Copa Sul-Americana de futebol, contra o Atlético Nacional, em Medellín, Colômbia.
Sonhos foram ceifados; famílias destruídas; sangue inocente derramado. Esse foi o saldo da tragédia, chamada por muitos de "acidente".
As causas apontam um erro primário do piloto do voo CP-2933, Miguel Quiroga, que também morreu na tragédia. As investigações concluíram que o avião que transportava o elenco da Chapecoense e profissionais de imprensa do Brasil continha o mínimo de combustível necessário para realizar o trajeto, sem uma quantidade extra, como manda a legislação.
O piloto já havia realizado quatro outras viagens no limite do combustível, sendo que uma delas durou somente quatro minutos a menos do que o percurso encerrado em tragédia com o time de Santa Catarina.
Então, o problema da queda pode ser resumido: falta de combustível.
Porém, o que leva um trabalhador (piloto experiente) a negligenciar de tal forma o seu trabalho a ponto de se expor - e os passageiros - a risco de morte por conta de combustível?
A resposta também pode ser resumida: dinheiro.
Acontece que Quiroga, além de piloto, era um dos dois sócios da LaMia.
Na hora da decisão - abastecer ou não; gastar dinheiro ou não - falou mais alto o lado "empresarial" do piloto, pois abastecer significava menos lucros e mais tempo para prestar um serviço.
O raciocínio do piloto estava completamente dividido entre ganhar mais dinheiro, arriscando o voo, ou colocar combustível, perdendo alguns trocados e aumentando o tempo de viagem - ou de serviço prestado, perdendo "eficiência" e “produtividade”.
Para reforçar a tese empresarial da tragédia, o piloto - em momento algum - relatou à torre de Medellín que estava com falta de combustível, pois isso significaria uma série de sanções e inviabilizaria, em parte, a empresa LaMia. Se relatasse a verdade - como qualquer trabalhador faria nesse caso -, o piloto teria alguma chance de aterrissar com certa segurança.
Quiroga fez a opção errada; deixou a faceta patronal ditar as ordens e a sequência dos acontecimentos. Mirou o lucro e colheu 71 mortes, inclusive a dele.
A truculência do lado "empresário" sobre o lado "trabalhador" em uma mesma pessoa, dentro de uma mesma cabeça, foi gritante e fatal.
A queda do avião da LaMia passa agora a ser emblemática quando o assunto é a luta entre capital e trabalho. Desta vez levada a extremos.
(*)André Barreto é Jornalista em Brasília
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