"Traiu sua presidenta": Paulo Paim discute com Cristovam Buarque no Senado
Por mais uns dois minutos, os parlamentares seguiram com as ofensas e Cristovam saiu do plenário encerrando uma sessão celebrada no início por ser amigável e livre
Em contraponto ao meio da semana, às sextas-feiras pela manhã no Senado costumam ser serenas. Para aqueles que acompanham de perto as atividades legislativas, é comum se deparar com os mesmos três ou quatro senadores que aproveitam a tranquilidade para realizar sessões de debates. Só que a normalidade anda meio esquisita no meio político. Até em um plenário vazio, dois senadores conseguiram bater boca sobre a reforma trabalhista, prevista para ser apreciada na próxima semana.
Determinado a derrubar a proposta apresentada pelo governo e aprovada pela Câmara, o senador Paulo Paim (PT-RS) convidou o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), na noite da quinta-feira, para a sessão porque são necessários, no mínimo, dois senadores para que ela seja aberta oficialmente. “Encerramos essa sessão informal de um debate que não houve”, terminava Paulo Paim, visivelmente irritado, cerca de 40 minutos depois. Pelo outro lado, Cristovam saia ofendido.
A rusga começou quando Cristovam tentou defender a intrajornada — a redução do intervalo de almoço para meia hora prevista no projeto. “Já vi que a sua proposta é semelhante a uma que tem na Câmara, de um deputado que é favorável a 18h de trabalho. A sua linha de raciocínio me lembra o tempo dos escravocratas”, rebateu Paim. A comparação irritou Cristovam. “Não me confunda com esse tipo de gente. O senhor sabe pelo que eu luto. E eu luto para completar a abolição da escravatura que ainda não foi completada.”
Na sequência, o senador do Distrito Federal afirma que a escravidão no país só vai acabar quando o filho do trabalhador estiver na mesma escola que o filho do patrão. “E, para isso, não vejo o apoio de ninguém aqui. Quando falo que tem ter dinheiro para escola e não para estádio, o senhor defende o contrário. Como o seu governo fez nesse país”, lançou para o gaúcho. “Governo que vossa excelência fez parte”, lembrou Paim. A partir daí os ataques foram para o lado pessoal:
— “Fiz parte sim e saí”, disse Cristovam.
— “Saiu porque foi posto na rua”, respondeu Paim ao lembrar que Cristovam foi demitido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do cargo de ministro da Educação.
— “Fui posto para rua com muito orgulho, senador. Agradeço a Deus”, falou Cristovam.
— “E depois traiu sua presidenta”, comentou Paim.
— “Vou embora porque não dá para debater com Vossa Excelência. Achei que o nível seria outro (...) O senhor está muito agressivo”, falou Cristovam.
Por mais uns dois minutos, os parlamentares seguiram com as ofensas e Cristovam saiu do plenário encerrando uma sessão celebrada no início por ser amigável e livre.
Clima
Questionado sobre a briga, com a cabeça mais fria, Paim afirmou que o conflito é reflexo do clima tenso que ronda o país e “infelizmente, uma preliminar do que vai acontecer na próxima semana”. “Nós sempre nos demos muito bem, mas esse acirramento só se deu devido a esse clima tão tenso. Estão faltando lideranças que se sentem e construam uma saída para o país. Aí, os ataques acabam virando pessoais e beiram quase a agressão física”, comentou lembrando que não tem nada contra o colega.
Cristovam afirmou que o clima no país esteja impossibilitando o diálogo entre as pessoas, em especial, entre parlamentares. “O parlamento deixou de ser um lugar que parlamenta. Os ânimos estão tão acirrados que as pessoas não querem mais ouvir opiniões divergentes. E, infelizmente, o país ainda vai demorar muito para voltar a ser um lugar onde as ideias são respeitadas porque, hoje, não se busca coesão, se busca divisão e isso não é pensar no futuro”, lamentou.
por Natália Lambert no Correio Braziliense
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