“Ele claramente faz apologia ao estupro. O que publiquei não foi uma mentira, foi uma análise”, afirma Dias sobre o deputado. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) |
Da Redação do Sul 21
Na sexta-feira (23), Roberto Carlos Dias saiu do trabalho com amigos e colegas para jantar em um restaurante no centro de Caxias do Sul. Sentaram em uma mesa na calçada. Pouco tempo depois, um homem se aproximou. Dias é jornalista, sindicalista e membro da direção do PCdoB municipal. Ele chegou a assessorar o estabelecimento; achou que o homem fosse um conhecido e estendeu a mão para cumprimentá-lo. O homem, no entanto, pegou seu celular e começou a filmar Dias. O jornalista conta que ele demandava saber o que Dias teria a dizer para o deputado e pré-candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSC).
Dois dias antes, Dias se manifestou em seu perfil no Facebook através de um texto sobre o estupro seguido de assassinato de Naiara Soares Gomes, de 7 anos, cujo corpo foi encontrado em Caxias do Sul. “Não adianta lamentar a morte de uma criança por estupro e defender Bolsonaro”, escreveu o jornalista. Segundo conta, Dias passou a receber mensagens agressivas em seu perfil como: “Vai ver o Bolsonaro estuprou ele e ele não gostou”. Além de ameaças de agressão: “Tem que pegar esse lixo e desmontar” – ao que ele respondia com o vídeo do político dizendo para a deputada Maria do Rosário (PT) que ela “não merecia ser estuprada”. Em 2015, Bolsonaro chegou a ser condenado por conta das ofensas. “Ele claramente faz apologia ao estupro. O que publiquei não foi uma mentira, foi uma análise”, afirma Dias.
Porém, o jornalista conta que a situação começou a tomar proporções exageradas na noite do dia 23. Após a aproximação agressiva do homem desconhecido, Dias diz ter se sentido acuado. Um grande número de pessoas se juntaram em torno da situação, o que não coagiu o homem com o celular. “Ele continuava investindo com a câmera no meu rosto. […] Disse que usar a imagem sem permissão é crime, que o que eu tinha feito era uma análise política.” Um amigo interveio, assim como o irmão do dono do restaurante que conseguiram tirar o homem do local. Ele, porém, caminhou cerca de 100 metros, em direção a um ponto de táxi, se posicionando em um local onde poderia ser visto por Dias de sua mesa.
“Enquanto ia embora ele me dizia para esperar, que uma hora eu ia estar sozinho. Ficou repetindo várias vezes que ia me pegar.” Dias diz ter visto outro homem chegar, se juntar ao agressor e apontar para sua mesa. Logo, uma viatura da Brigada Militar passou e Dias relatou o que aconteceu aos oficiais. “Eles nos ouviram em silêncio, deram meia volta, passaram por eles e não fizeram nenhuma abordagem.”
No dia seguinte, Dias compareceu a um encontro do partido em Porto Alegre. Na capital, um amigo teria informado o jornalista que seu texto e suas fotos circulavam em grupos de Whatsapp pró-Bolsonaro acompanhados de mensagens violentas. Segundo Dias, dentro do grupo “Bolsonaro Caxias do Sul”, o homem da noite anterior publicou que “iria descer o braço nele” se não o tivessem impedido. Outra amiga o informou de que uma foto estaria circulando por outros grupos com o rosto de Dias e informações para que os participantes marcassem sua face na memória.
Assim, Dias imprimiu as capturas de tela dos grupos que recebeu, registrou as impressões em cartório e fez um boletim de ocorrência. O caso também foi denunciando nas Comissões de Direitos Humanos e Cidadania na Câmara de Vereadores de Caxias. Na semana passada, o deputado Jeferson Fernandes (PT) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e a vereadora Denise Pessôa (PT) se comprometeram a fazer a denúncia na tribuna dos dois parlamentos.
Dias lembra que, esse sábado (31) marca os 54 anos do início do Golpe Militar de 1964. “Assim como na ditadura, eles tolheram minha liberdade de expressão, meu direito de ir e vir. […] Eles me agridem e, ainda assim, fico prisioneiro de mim mesmo”, desabafa, afirmando que tem procurado ficar o máximo de tempo possível em casa, com medo de novas agressões.
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