por Marcos Sorrentino
O principal impacto das políticas econômicas do governo atual no campo ambiental é o da venda do país e de todos os seus bens naturais, incluindo a força de trabalho da nossa gente, aos interesses do mercado.
A (re)primarização da nossa economia, para que sejamos apenas exportadores de recursos naturais - minerais, solo, alimentos, água, sem agregar valor, muito pelo contrário, sendo compradores/consumidores do valor agregado por outras economias/sociedades é o principal impacto da política econômica dos golpistas e daqueles que os orientaram e incentivaram nesse crime que custará muito caro ao país.
É bem verdade que essa sempre foi política hegemônica no Brasil, mesmo nos governos nacionalistas e de centro esquerda, mas ela, nos últimos 13 anos, até o início de 2016, estava também apontando para uma maior autonomia e independência em relação ao sistema rentista internacional.
O protagonismo do Brasil na criação dos BRICS e em relações bi e multilaterais diversas, a maior atuação do BNDES no financiamento da dinamização da economia, maior apoio à agricultura familiar, fortalecimento do mercado interno com melhoria de renda para famílias extremamente pobres e para as simplesmente pobres, o aumento de empregos registrados e uma brutal redução nas taxas de desemprego, são alguns exemplos que não poderiam ser abortados em nome de um pseudo liberalismo que apenas entrega os bens naturais para os interesses colonizadores.
Tal política foi ardilosamente e violentamente golpeada, por um conluio midiático-jurídico-parlamentar-empresarial, que tirou Dilma (que não era nenhuma maravilha para muitas das bandeiras específicas do ambientalismo) em 2016 e prendeu Lula em 2018 (é necessário dizer que ele também desagradou a nós ambientalistas, com o seu incentivo ao consumo e com um ufanismo desenvolvimentista que não contemplava alternativas de menor impacto ambiental e de felicidade sem consumo).
O processo de mudanças na política econômica, pelo (des)governo golpista, trouxe junto todos os piores sentimentos conservadores, reacionários e desavergonhadamente anti-humanitários, violentos e anti-democráticos, de parcelas do povo brasileiro.
Não somos ingênuos ao ponto de ignorar a timidez dos governos do PT em relação às urgências da reforma agrária e de políticas de fortalecimento do campo e da agricultura familiar (desde escolas do campo até as de compra e escoamento dos alimentos da agricultura familiar), mas elas existiam e criavam uma correlação de forças mais favorável para impedir ou coibir a atuação da polícia mantenedora do sistema, por exemplo, nas reintegrações de posse.
Aqui também é necessário reconhecer os avanços que ocorreram nos governos do PT nas políticas de aquisição de alimentos da agricultura familiar e para a merenda escolar, bem como no Pronera – Programa Nacional de Educação para a Reforma Agrária
Também não somos ingênuos, ao ponto de não criticar as políticas desenvolvimentistas expressas em obras como as das grandes hidrelétricas e na manutenção do programa nuclear, ou na transposição do São Francisco e na lentidão da demarcação das terras, indígenas, muito menos em relação às políticas de mobilidade urbana que supervalorizaram o carro em detrimento dos transportes coletivos, ciclovias e cidades mais humanas (aqui não se pode deixar de reconhecer o enorme avanço no diálogo sobre mobilidade por bicicletas que ocorreu durante a última gestão do PT à frente da prefeitura de São Paulo).
Todas essas são lutas que sempre travamos contra um pensamento moderno hegemônico ainda prevalente na sociedade brasileira e continuaremos a travar em relação a qualquer governo que não promova uma séria política voltada a mudanças culturais, dialógicas, democráticas e responsáveis em relação ao Planeta e às futuras gerações.
O impacto que denunciamos, das políticas econômicas do atual (des)governo, em relação ao meio ambiente, é por elas serem no atacado e descaradamente comprometidas com a entrega dos bens naturais deste país, entre os quais está a força de trabalho da nossa gente, com as reformas trabalhistas e outras perdas de direitos, aos interesses do capital e das elites econômicas de todo o Planeta. Trump é apenas uma caricatura do que é Temer (ou vice-versa) - fazem parte da ponta do iceberg das “forças do mal” que avançam sobre a natureza, compreendidas aqui como Vida (meio ambiente, seres humanos e não humanos e todas as energias que viabilizam essa complexa trama da vida).
As políticas econômicas que privilegiam a posse da terra como bem imobiliário especulativo, como mercadoria, e por isto não querem demarcar terras indígenas e de Unidades de Conservação, nem demarcar assentamentos de reforma agrária e promover acesso à moradia para todas as famílias que poderiam estar nas mais de sete milhões de moradias vazias no país, são políticas contra o meio ambiente.
As políticas econômicas que exportam de forma continuadamente crescente a nossa força de trabalho e a natureza do país na forma de minerais, animais e vegetais, sem deixar todos os benefícios possíveis para a nossa sociedade, certamente impactam o meio ambiente.
As políticas econômicas de privatização das universidades públicas e da educação em geral e de sucateamento da ciência e tecnologia produzidas no país, são políticas que impactam o meio ambiente.
Igualmente, as políticas econômicas relacionadas à aprovação dos transgênicos e de patenteamento de sementes têm amplo impacto no meio ambiente e na vida como um todo.
As políticas econômicas são a expressão mais visível de um projeto de país. As atuais, do (des)governo golpista e de todos os setores com ele comprometidos, revelam um projeto no qual o meio ambiente e a nossa gente são apenas oportunidades a serem exploradas para a manutenção de uma velha ordem mundial.
Para eles, é importante que este país seja subserviente, um povo domesticado, dócil e alienado.
Como falar de ambientalismo/ecologismo e de educação ambiental neste contexto?
Qual outra economia é possível? Qual é o projeto de país para uma transição ambientalista ou ecológica em direção a sociedades sustentáveis?
Primeiramente, Lula Livre e como opção de voto nas próximas eleições!
Fora Temer e toda a sua camarilha composta por seus ministros e forças políticas e midiáticas que lhes dão sustentação!
Em seguida, Marielle, Presente! Para sempre presente, revigorando todas as nossas lutas e conquistas por direitos humanos e por uma cultura de procedimentos democráticos.
E aí, reforma agrária, demarcação das terras indígenas, demarcação e efetivação de todas as unidades de conservação e áreas protegidas (aqui incluindo as terras quilombolas, os fundos de pasto e tantas outras áreas comunitárias que fogem da lógica da terra como mercadoria especulativa)!
Democratização de todos os Meios de Comunicação!
Taxação das grandes fortunas e grandes heranças!
Pela retomada de uma política de cooperação internacional diversificada e que promova a soberania das nações, das comunidades e de seus povos! Por uma cultura de paz na resolução dos conflitos! Pela conversão de recursos destinados a armamentos em recursos para a valorização da diversidade cultural e da natureza.
Diminuição efetiva dos juros bancários e incentivo à economia descentralizada e solidária, dos circuitos curtos à agricultura urbana e periurbana, das feiras livres às conexões agricultor/consumidor, das cooperativas às inovações nos arranjos produtivos e organizacionais, dos bancos populares aos créditos rotativos!
Retomada dos Projetos de autonomia energética e incentivo às tecnologias apropriadas!
Saneamento básico e moradia para todos habitantes deste país! Por uma decidida política de resolução definitiva da falta de teto e de saneamento básico em todas as cidades brasileiras e no campo!
Humanização das cidades, com mobilidade urbana por transportes públicos de qualidade, por bons espaços para ciclovias e para pedestres!
E tantas outras propostas a serem decididas e implantadas por um vigoroso processo de educação e participação popular, fundamentado na organização e no protagonismo do município e das comunidades.
Apenas um governo genuinamente democrático pode dar conta de uma agenda que contemple os pontos levantados acima e tantos outros que sejam do interesse da sociedade brasileira. Sua efetiva construção e implantação passam por eleições livres e sem triagens ideológicas, como essa que impede Lula de ser candidato, com amplas possibilidades de acesso e diálogo sobre as propostas dos partidos e suas candidaturas. Passa também por uma assembléia nacional constituinte, democrática, soberana e focada na reforma política, com representantes eleitos apenas para essa missão e sem a possibilidade de se candidatarem a qualquer cargo eletivo nos próximos vinte anos.
Finalizo reafirmando, de livre memória, uma bandeira de luta atribuída ao papa Francisco: terra, teto e trabalho para todos, com soberania nacional. A ela agregaria, as bandeiras da universalização do acesso à saúde, educação e natureza, públicas, gratuitas e de qualidade e uma última, tão essencial nas sociedades contemporâneas, que é a da participação política, acesso universalizado à comunicação e à educomunicação e por uma cultura que revitalize sentidos existenciais pós-materialistas, que podem ser explicitados pelo “bem viver” e pelo “saber cuidar”, valorizando uma espiritualidade laica, compartilhada por religiosos, ateus e agnósticos.
Nas eleições de 2018 teremos um divisor de águas na história deste país. Ou elegemos pessoas para os cargos executivos e legislativos empenhadas em criar condições para a sociedade brasileira continuar a perseguir essas conquistas para todas as pessoas:
Terra, Teto e Trabalho!
Saúde, Educação e Natureza!
Participação, Comunicação e Espiritualidade!
Ou continuaremos a ser uma colônia subserviente aos interesses de elites internacionais que daqui apenas querem tirar seus prazeres diversionistas de uma vida focada no hiper-consumo ignorando que ele se dá pela propagação de necessidades materiais simbólicas que levam aos desperdícios e à degradação socioambiental e humana.
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