Não são esquerdistas, são petistas. Não são manifestantes, são petistas. Não são eleitores, são petistas. Não são cidadãos, são petistas.
De forma sutil, taxam todos de petistas e assim nos despem de nossos direitos políticos e até mesmo de nossa individualidade. Quando a polícia vem bater na gente em atos covardes e injustificados, a primeira coisa que se ouve é que eram todos petistas, bando de vagabundos, ladrões, defensores de bandidos etc. – Bate neles! Desce o cacete!
Ora, eu não sou petista, não sou militante do PT e nunca fui filiado ao partido. Podem dizer que sou progressista, social democrata, produtor e músico, podem me chamar de louco, podem até dizer que simpatizo com o socialismo, mas dizer que sou petista é mentira.
Não que isso me ofenda. Ao contrário. Já fui sim fiscal de eleições pelo Partido dos Trabalhadores e nas eleições de 1989 eu carregava aquela estrela no meu peito com muito orgulho, mas petista era outra coisa. É uma gente bonita, guerreira e decente, orgulhosa de seus ideias, gente que veste vermelho para lembrar o sangue dos companheiros torturados e mortos nos calabouços da maldita ditadura. Muitos que nem chegaram a ver o nascimento do partido.
Sim, com 18 anos eu toquei minha canção Zeferino no que foi um dos primeiros comícios do PT no Rio bem ali na praça Tiradentes. Subi num palco frente à cerca de 3000 mil petistas que me receberam com carinho e me aplaudiram como a um artista famoso. Mas não me chame de petista, pois eu não mereço essa honra. Petista era meu irmão, o professor Luiz Eduardo Fontoura, que vestia aquela estrela todos os dias e cumpriu sua linda missão aqui na terra muito cedo, mas que hoje corre pelo firmamento, o céu vermelho do final da tarde, montado numa linda estrela branca, homem de muito mais valor que qualquer um destes que nos xingam. Petista era meu outro irmão, Ricardo Monteiro Rodrigues, que se foi mais cedo ainda e que deve estar cochichando no ouvido de Jesus, pedindo a ele que interceda por todos nós no momento em que essa nuvem negra sorrateiramente encobre nossa nação. Seria petista se tivesse o calibre de um Frei Beto, um Eduardo Suplicy, um Leonardo Boff, uma Benedita da Silva, um Olívio Dutra... Sim, um Luiz Inácio Lula da Silva.
Não. Eu não sou petista. Se fosse não teria partido para o exílio. Se fosse estaria nas trincheiras, lutando para salvar nosso patrimônio, nossas florestas, nossa água, nossa liberdade. Sou apenas um democrata progressista assistindo meu país ir para o brejo com uma lágrima no canto do olho e muito temor no coração. Um reles seguidor de Péricles, discípulo de Platão e de Carl Jung, devoto de Francisco e Clara de Assis ... um velho menino que com muito orgulho se formou na ala progressista da Igreja Católica da América Latina em plena ditadura militar e que por isso odeia o autoritarismo em todas as suas formas com todas as suas forças.
Sou bisneto do poeta e político que escreveu a primeira lei de proteção florestal no Brasil, amigo de Bertha Lutz e que num tempo em que não havia mulheres na política, serviu de porta voz no congresso para que as elas pudessem votar e ser representadas. Outro avô, por parte de mãe, era coronel médico do exército. Cuidava dos pobres de graça, pegou em armas nos anos 30 pelo socialismo e felizmente morreu sem ver o que os militares fariam com o nosso país. Esses avós sim, são dignos de serem chamados de petistas.
Não. Não sou petista, mas com muito orgulho faço parte da maioria da população que elegeu Lula e Dilma e teve seu voto roubado em 2016. Não sou petista, porque quando nos chamam de petista, roubam a nossa cidadania. A cidadania de mais de 50% da população que pensa para frente e quer levar esse país para um futuro sem miséria, sem donos do poder, sem injustiça, mas que é impedida pela outra metade que quer o retrocesso, que está na contramão da história e insiste em nos rotular nos chamando de petistas... como se fosse um insulto.
Lufe Lima
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