Aliás, o vídeo que o levou a ser (merecidamente) preso não é só um show de fascistismo, mas mais uma evidência de como o bolsonarismo jogou o nível de tudo no fundo do esgoto: mesmo tendo gravado o próprio "discurso", o deputado é incapaz de articular uma ideia coerente; no lugar da coerência, há gritos, teatro de machice, vulgaridades e a velha obsessão com "culhões" e outras expressões que denotam a insegurança que esses caras sentem com relação a si mesmos e que os leva a encenar um espetáculo do que julgam ser um "ideal" patético de "virilidade".
O bolsonarismo é cada vez menos um movimento político em sua estética e mais uma performance de ignorância, ódio e - na visão adolescente de seus líderes e seguidores - "machice". Não é à toa que uma outra deputada soltou vídeo socando um saco de areia esse fim de semana, como se quisesse demonstrar que o fato de ser mulher não a impede de exibir o mesmo comportamento estúpido do qual tantos homens se orgulham.
Mas o fato de ser cada vez mais espetáculo não torna o bolsonarismo menos perigoso; ao contrário, ele vem assumindo que o que move seus seguidores não são ideias, mas emoções. E estas operam no nível da irracionalidade, saltam qualquer pensamento lógico e por isso são temíveis. As comparações frequentes com o nazismo podem enfraquecer o argumento, mas (infelizmente) são úteis: o que o fez crescer entre Guerras foi, em grande parte, a habilidade dos fascistas de moldar a irracionalidade e os sentimentos não articulados dos alemães.
Frustração é arma.
É por esta razão que se torna cada vez mais urgente cortar pela raiz (a esta altura, galhos) a escalada fascistoide bolsonarista. Eles já marcharam com tochas, já ameaçaram fechar o supremo, já falaram que jornais e sites deviam sair de circulação, já pregaram "metralhar" a oposição, já estão fazendo o possível pra armar seus seguidores, já estão falando que só perderão a eleição se houver "fraude", já contam com generais de pijama soltando notas antidemocráticas e mobilizam suas hordas pra insultar e ameaçar opositores nas redes e nas ruas (como fizeram hoje com um homem de muletas que carregava uma placa com o nome de Marielle).
Não estamos mais vivendo um cenário hipotético de ameaça à democracia: as intenções do bolsonarismo são declaradas e cada vez mais agressivas. As instituições seguem tímidas em notas de repúdio que não são obstáculos reais ao fascismo; apenas o encorajam pela inação.
Acordemos.
por Pablo Villaça
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