De cobrador de trens a maior exportador de peles do Brasil, Delmiro Gouveia diversificou negócios, superou crises, fugiu de perseguições, flertou com as oligarquias e ajudou a implantar a industrialização no sertão nordestino
Poucos ouviram falar em Delmiro Gouveia, mas quem conhece a história do desenvolvimento da economia nordestina na virada do século 19 para o 20 certamente já deparou com esse personagem.
Delmiro foi um dos principais capitalistas nordestinos, pois renovou o ambiente com a sua ação transformadora, sua atividade de industrial e criador de novas riquezas, chegando a influenciar poderosamente em todo o Nordeste, pela sua vocação empreendedora.
Essa singular figura de pioneiro, hoje perpetuada na nossa cultura econômica no mesmo plano de um barão de Mauá ou conde Matarazzo, representante dos ideais nacionalistas na economia brasileira, Delmiro Gouveia fez fortuna com o comércio de exportação de peles e construiu a primeira usina hidrelétrica do Nordeste.
O último capítulo de sua trajetória quase romanesca tem início quando se instala em Pedra, vilarejo do sertão alagoano que hoje leva o seu nome, onde foi assassinado. Mas ali nem tudo foi modernidade. Em alguns momentos, o comportamento herdado da cultura colonial se manifestava e um tratamento escravagista podia ser constatado em sua empresa, a Fábrica da Pedra, onde as práticas coativas, tais como abusos e violências contra o trabalhador, eram frequentes.
ASCENSÃO SINGULAR
A história familiar de Delmiro Gouveia é curiosa. A mãe, Leonila Flora da Cruz Gouveia, tinha 14 anos quando foi raptada por Delmiro Porfírio de Farias, de 34 anos, após vivenciarem um romance idílico no interior cearense. Tiveram dois filhos: a primogênita Maria Augusta, que nasceu em dezembro de 1861; e Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, nascido em 5 de junho de 1863, em Ipu, Ceará. Logo que soube da morte do companheiro, combatente na Guerra do Paraguai, Leonila Gouveia migrou para Pernambuco, onde faleceu em outubro de 1878.
Órfão, Delmiro começou a trabalhar como cobrador de trens, as Maxambombas, na cidade do Recife. As primeiras letras lhe ensinaram em casa, somente aos 7 anos foi matriculado no colégio dirigido pelo republicano Laudelino Rocha. Em seguida, foi despachante de barcaças e negociador, realizando viagens pelo interior nordestino em busca de peles e algodão. Em uma dessas viagens, conhece Anunciada Cândida de Melo Falcão, com quem se casou em 1883 após um rápido namoro. O casal foi morar em Recife.
Em 30 de julho de 1891, constituiu a sociedade Levy & Delmiro, dissolvida em 27 de abril de 1893, ficando Delmiro com todo o ativo, assumindo todas as responsabilidades comerciais. Ele começou a formar sua fortuna quando passou a fazer transações para a firma norte-americana J. H. Rossbach Brothers. Sua principal atividade passou a ser a negociação de couros e peles para exportação.
Em 1896, obteve vultosos empréstimos graças à confiança desses parceiros comerciais. Burguês e empreendedor, Delmiro fazia grandes festas em sua mansão, à qual chamou de Vila Anunciada, em homenagem à esposa.
Esbanjador e dado a grandes ostentações, promovia festas com jantares de fineza europeia, acolhendo convidados ilustres; em certa ocasião, foi até agraciado com um punhal pelo caudilho gaúcho Pinheiro Machado. No caminho do enriquecimento, o empresário arrematou a Usina Beltrão para refinar e embalar açúcar, mas, não levando muito a sério o negócio, fechou as portas pouco tempo depois.
Constituiu a firma Fiúza & Cia. com o sócio Martins Fiúza. Em fevereiro de 1898, firmou um contrato com o prefeito de Recife, José Coelho Cintra, para a construção do mercado do Derby, o mais moderno da América do Sul, algo sem similares até então e considerado o primeiro shopping center do Brasil.
Todavia, Delmiro se desentendeu com o sucessor de Coelho Cintra, o político Esmeraldino Bandeira, por dificuldades no transporte de mercadorias para o Derby. Ao mesmo tempo, os oligarcas pernambucanos estavam contrariados, pois o mercado de Delmiro oferecia produtos nacionais e estrangeiros a preços abaixo da concorrência.
fonte Ciência & Vida
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