29 de jan. de 2015

Conselho reprova 55% dos médicos em SP

Mais da metade dos médicos submetidos a prova do Conselho de Medicina são reprovados

De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

Reprovação chega a 55% dos recém-formados em Medicina no estado. Índice alcança 65% entre escolas privadas, informou na manhã desta quinta (29) o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Cremesp.

Em outubro de 2014, 2.891 médicos recém-formados no estado de São paulo, foram submetidos a décima edição do Exame Cremesp, para avaliação de desempenho. Apesar do exame existir há dez anos, esta é a terceira edição desde que o exame passou a ser obrigatório para quem vai exercer a medicina no estado, no entanto, o registro do CRM não depende do desempenho do médico ou da sua aprovação no mesmo, ou seja, mesmo que não seja aprovado no exame do conselho, o médico pode exercer a profissão livremente.

Quem perde com isso é a população, que é submetida a um profissional não qualificado e o que é pior, com o aval do Conselho Regional de Medicina (CRM).

Este é um dado grave e que merece a atenção da população e do governo federal, segundo dados do próprio Cremesp, "dos 2.891 recém-formados em escolas médicas do Estado de São Paulo que participaram do Exame em 2014, um total de 1.589 – ou 55% deles – não atingiu o critério mínimo definido pelo Cremesp. Ou seja, acertaram menos de 60% do conteúdo da prova. Os outros 45% – ou 1.302 egressos – acertaram mais de 60% do conteúdo. Entre as escolas públicas paulistas, a reprovação foi de 33%. Já entre os cursos de Medicina privados do Estado de São Paulo, 65,1% foram reprovados.

Para o presidente da entidade, Bráulio Luna Filho, “Toda vez que um indivíduo despreparado entra para atender no sistema de saúde, propicia o mau uso dos recursos, tais como exames etc, além de representar um risco para os pacientes assistidos”.

Embora este resultado espelhe a realidade das escolas de medicina de SP, o presidente disse que “Esse resultado demonstra a má qualidade do ensino médico no País”, uma incoerência que demonstra a posição da entidade em não criticar o governo do PSDB, que tem a obrigação de fiscalizar e avaliar as escolas de medicina do estado.

O conselho ainda avalia a possibilidade de monitorar os recém-formados que não conseguiram desempenho mínimo na prova, por meio do acompanhamento de frequência em cursos de atualização, entre outros.

As dificuldades dos participantes em várias questões revelam a falta de conhecimento na solução de eventos frequentes no cotidiano da prática médica, levando-os a cometerem erros para questões básicas:


  • 67% não souberam como avaliar risco operatório e qual exame/procedimento deve ser feito antes da cirurgia, em senhora de 46 anos com colelitíase (pedra na vesícula), sintomática, diabética, hipertensiva, com histórico de angina a esforços moderados. O correto é utilizar o índice de Goldman ou Detsky modificado, para avaliar o risco operatório; e realizar o cateterismo cardíaco antes da cirurgia.

  • 67% erraram diagnóstico em lactente de 6 semanas, apresentando história de tosse leve a moderada há 10 dias, sem febre e levemente taquipneico (respiração acelerada e superficial). O diagnóstico correto é de pneumonia por Chlamydia.

  • 67% não souberam o mecanismo de ação da lidocaína, droga usada no tratamento de arritmia cardíaca e como anestésico local. A ação da lidocaína é bloquearos canais de sódio.

  • 66% erraram a melhor conduta para paciente obeso mórbido, 35 anos, que se encontra no oitavo dia de pós-operatório de gastroplastia redutora com bypass gástrico. A cavidade foi drenada e o paciente refere dor no abdome e no ombro esquerdo e apresenta frequências cardíaca e respiratória aumentadas. O procedimento adequado é a exploração cirúrgica imediata.

  • 47% erraram sequência de conduta no caso de rapaz, 23 anos, vítima de ferimento por arma branca no 4º espaço intercostal direito, próximo à linha hemiclavicular. Resposta correta: exame clínico seriado, com monitoramento do débito do dreno.

  • 37% não souberam diagnosticar problema de saúde em senhora de 45 anos, sem antecedentes médicos significativos, internada por apresentar dor aguda em epigástrio, associada a vômitos; exames laboratoriais indicando Amilase sérica: 1.200 U/L; leucócitos = 10.000/mm3; AST: 80 U/L;ALT: 95 U/L; e ultrassom indicando microcálculo na vesícula. O diagnóstico correto é pancreatite aguda.


A edição 2014 do Exame contou com 120 questões objetivas de múltipla escolha, abrangendo problemas comuns da prática médica em nove áreas básicas: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria, Ginecologia, Obstetrícia, Saúde Mental, epidemiologia, Ciências Básicas e Bioética.

O índice de facilidade da prova foi avaliado, pelos critérios da Fundação Carlos Chagas (FCC), como “fácil” para 33% das questões, 4,6% como “muito fácil” e “médio” para 32,4% delas. As demais questões (29,6% do total da prova) foram consideradas difíceis.

O índice de facilidade equivale à proporção de questões corretas dadas pelo conjunto de participantes em cada pergunta.

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