13 de jan. de 2015

E o Vento Levou

No tempo em que eu era adolescente, os meus inimigos estavam na natureza: “Desce dessa árvore, menino, você vai cair...” – Gritava minha mãe achando que uma manga não valia o risco de um braço ou perna quebrados.

De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

“Não vá para o rio, você não sabe nadar"....  Continuava ela com seu sábio raciocínio que avaliava tão bem o custo-benefício das coisas.

Hoje, nas poucas vezes em que ligo a TV, fico refletindo sobre o que está levando as pessoas à praticarem tanta barbaridade. É claro que não existe UM problema, mesmo porque o processo de “burrificamento” que o povo vem sofrendo é secular, mas algumas coisas tem me chamado a atenção:

A Banalização da Morte
A mídia, principal estimuladora dessa banalização, tem a maior parcela de responsabilidade nesse processo, principalmente porque tem o “poder” de divulgar notícias influenciando pessoas de maneira sutil, às vezes de maneira escancarada mesmo. 

Basta pensar naquele massacre de realengo, em 2012, mesmo tendo participado do programa“Domingão do Faustão”, o policial que atuou na escola durante o tiroteio e matou o bandido, teve menos exposição na mídia do que o assassino. 

O poder de alcance da TV é imenso mas não dá para comparar com  as centenas de milhares de tabloides, jornais e revistas espalhados pelo país, que estamparam a foto do bandido em suas capas, durante várias edições seguidas.  Resultado: por incrível que possa parecer acaba estimulando, principalmente os jovens da periferia, à inclusão na vida do crime (além de outros fatores, claro).

A Igreja
Como sempre, não move uma palha para combater essa banalização, não se posiciona de uma maneira colaborativa na construção de alternativas de combate a essa banalização. 

Em sua megalomania de acumular poder e dinheiro os “representantes do altíssimo” veem nessa conivência promíscua a melhor oportunidade de se promoverem. 

E o som que sai dessas igrejas é o cacarejo da crítica sem sentido e sem objetivo algum, fazendo de seus púlpitos palanques da hipocrisia. 

A Intelectualidade
Muitos artistas e intelectuais também se calam diante da desgraça da banalização. 

Quantos livros são lançados no Brasil que tenham “pensares” sobre o problema? 

Quantas mobilizações foram feitas chamando a sociedade ao debate? Nenhuma! Pelo contrário, o “moído” é sempre o mesmo: Criticar é mais fácil do que fazer e dá maior notoriedade. 

Meus inimigos hoje são muito diferentes: a intolerância, a desigualdade social , o egoísmo, a busca furiosa e desenfreada pelo poder e todos aqueles que acham que o mundo é do tamanho dos seus umbigos.

Mas o maior inimigo do Homem em nossos dias é o próprio Homem, até que volte a pensar...

Um comentário:

Tiago disse...

Estava escrevendo um texto e usei o termo "burrificação".
O corretor ortográfico, sei lá por que cargas d'água, sugeriu o termo "burrificamento".
Achei estranho e procurei no Google.
O resultado foi seu texto.
Li e é praticamente sobre o mesmo assunto que eu estava escrevendo.
Assustadoramente é de 2015.
Creio que, como humanos, pensamos que mudamos e somos muito diferentes.
Parece que nem tanto rs