12 de jan. de 2015

Resistência - por Sharllene Silva

O fotógrafo não permitiu que eu tirasse uma foto sem ser sorrindo, pois afirmou ele " esse é um momento de alegria, você está se formando!" e como não tive alternativa eu sorri. 

por Sharllene Silva
colaborou Simone Gomes de Freitas

Pois bem, o sorriso estampado na foto na verdade esconde lágrimas da resistência que foram esses longos 4 anos e meio dentro de uma instituição pública e elitista. Respirei fundo muitas (muitas) vezes.... Por vezes quase cedi...

Quase o racismo venceu... 

Quase cedi ao padrão estético de beleza..
Quase criei outro eu só pra "passar" logo por essa fase. 
Quase não fui eu. Mas, RESISTI. 

Fui até meados deste ano assim...Dreads. Eu. 

Os dreads caracterizavam-me pelos corredores da UFRJ, e bloqueava diversos sentimentos , positivos e negativos, em relação a minha identidade africana. 

A famosa frase:" Mas como vc, da área de saúde....com esse cabelo??? E se o paciente não quiser ser atendido por você??? Como vai arrumar emprego num Barra D'or assim?? 
...Só de lembrar tenho náuseas. 

Para os racistas e preconceituosos discriminadores que infelizmente passaram em minha humilde vidinha.... RESISTI PELO MEU POVO

Para os professores e alunos que não acreditaram em mim e/ou nunca acreditou que aquele único 10,0 da turma era meu, e sobretudo, os que foram intolerantes religiosos comigo.... AGORA SOMOS COLEGAS DE PROFISSÃO

Para meus professores, colegas de turma e os mais chegados que acompanharam toda minha luta e afirmação política dentro desta instituição, e direta ou indiretamente me apoiaram nos momentos difíceis, sobretudo em meu período de preceito religioso....O MEU MUITO OBRIGADA (COMO A IMENSIDÃO DO MAR), VOCÊS TAMBÉM RESISTIRAM
Foram momentos duros e que sem o fortalecimento espiritual que veio na hora precisa, talvez eu teria cedido. Mas, eu RESISTI.

Chegar no ultimo período sem o tão famosos dreads causou um espanto na nação. Não balancei. Não os perdi, não foi em vão. Fortaleci.

E mais uma vez estava eu.... RESISTINDO. Resistindo pela minha religião. Ou seja, Luta! 
Parece irônico, mas andar toda de branco com um 'turbante' branco pelos corredores também causou muito incômodo.... e no fim, Resisti.

A partir de agora o recado é entender que meu cabelo não era só um cabelo, que o considerado 'diferente' não é pra ser visto desta forma, nem mesmo julgar alguém por conta de sua religião, e acima de tudo entender e que o estereótipo é só mais uma arma do racismo contra nós pretos. Sempre nossa trajetória acadêmica será sofrida, mas fomos criados para sermos fortes e resistentes nesse mundo ocidental. Eu chegar até aqui significa a vitória de muitos! 

Portanto, SEMPRE RESISTAM!

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