Quase nunca recorro à filosofia para justificar meus argumentos. Primeiro, porque conheço pouco de filosofia e, segundo, porque encontro na obra de Shakespeare conhecimento mais do que suficiente para abastecer meus textos sem precisar recorrer a Platão e Kant.
Por Theófilo Silva via email
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No entanto, dessa vez, vou usar a dialética de Hegel – um admirador de Shakespeare – para falar sobre algo que está ocorrendo na política brasileira. A dialética de Hegel é óbvia, por isso genial. Para Hegel, uma coisa não pode existir sem o seu contrário, ou seja, as coisas não podem existir sem as outras. Daí que, para existir um escravo tem que haver um senhor; para existir patrão, tem que ter um empregado.
Então, vamos lá. As estatísticas afirmam que algo em torno de 10% do eleitorado brasileiro é de extrema direita, aproximadamente catorze milhões de eleitores, o suficiente para eleger cinquenta deputados federais. É um eleitorado que está disponível esperando que alguém o colha.
A extrema direita defende mais ou menos o seguinte: a pena de morte, que a sociedade deva andar armada, não ao auxílio financeiro para presos, prisão para menores acima de catorze anos, contra sistema de cotas, contra a direitos das minorias, contra os programas assistenciais, vale gás, vale luz, e outros benefícios. Para resumir, é a “bancada da bala” – não somente por receber financiamento de fabricantes de armas, mas pelo extremo conservadorismo – aqueles que dizem que “bandido bom é bandido morto”, paródia do slogan do velho oeste americano “um índio bom é um índio morto”.
A maioria desses parlamentares são policiais e militares, radialistas e evangélicos para-pentecostais. O representante mais famoso deles é o capitão do exército Jair Bolsonaro, do Rio de Janeiro, que já formou uma dinastia, tem um filho deputado estadual pelo Rio e outro deputado federal por São Paulo. A lista segue com Coronel Telhada, Alberto Fraga, Laerte Bessa, Pastor Marco Feliciano, Rogério Mendonça e outros.
Pois muito bem, todos esses parlamentares têm procurado antagonistas – provando a tese de Hegel – deputados que pensem o oposto deles. O que também não significa que os extremamente liberais não os chamem para a briga. Para isso, vale todo tipo de baixaria, chegando quase à agressão física. Assim, todos os holofotes da mídia vão para cima deles.
Jair Bolsonaro (DEM-RJ) escolheu Maria do Rosário (PT-RS e Jean Wyllys (PSOL-RJ) como seus contrários. Marco Feliciano PTB-SP também tem como antagonista Jean Willys. Alberto Fraga (DEM-DF) escolheu Jandira Feghali (PCdoB-RJ). O ringue está formado. A extrema direita contra à esquerda. São duas mulheres e um ativista do movimento gay contra um capitão do exército, um pastor e um coronel da polícia.
Jair Bolsonaro, em discussão com Maria do Rosário, disse que “não estupro você porque você não merece” e vive às turras com Jean Wyllys. Marco Feliciano antagoniza com Wyllys por este fazer a defesa dos gays. Alberto Fraga disse para Jandira Feghali que “mulher que bate em homem tem que apanhar como homem). São declarações truculentas que estão na contramão da sociedade moderna.
Mas a imprensa adora. E, nas redes sociais, principalmente facebook, as querelas “bombam” em centenas de milhares de visualizações e grupos de discussão, o sonho de qualquer parlamentar.
Não tenho dúvida alguma de que todas as agressões provocadas por esses parlamentares contra essas deputadas mulheres e contra um deputado homossexual são premeditadas e têm dia e hora para acontecer, e o objetivo é obter mídia e voto. Todos eles multiplicaram, praticamente dobraram suas votações nas eleições seguintes. Não posso deixar de citar o inexpressivo Levy Fidelix, candidato a Presidente da República, que, com sua grosseira declaração sobre os gays, multiplicou por vinte sua votação em relação a eleição anterior. A obscena declaração de Levy foi calculada em detalhes pelos marketeiros!
Este artigo é um recado para os ingênuos que atacam Bolsonaro e suas crias nas redes sociais. Em vez de enfraquecê-los, estão fortalecendo-os. O objetivo desses políticos extremistas é serem chamados de trogloditas, fascistas, nazistas, homofóbicos, misóginos, agressores de mulheres e coisas semelhantes. Querem que o Ministério Público os processe por suas agressões verbais. Eles sabem que os processos não vão dar em nada, no máximo uma multa que eles jamais pagarão. Suas agressões chegarão aos 10% de eleitores (percentual que está crescendo) que os aplaudirão por “enfrentarem os comunas”. Portanto, se querem combatê-los, e isso deve ser feito, façam-no em silêncio. De outra forma. Do jeito que o combate está sendo feito, vocês fazem o jogo deles e transformam-se em marionetes. Um bando de tolos. É isso!
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