10 de jul. de 2015

Devemos ser solidários por egoísmo

O discurso insano de ódio, preconceituoso e racista que vemos todos os dias, proferido por parte da sociedade, não se restringe apenas aos assuntos da política partidária. Ele está presente no ônibus, quando o jovem finge estar dormindo para não ceder o lugar a uma pessoa mais velha.

Por Joaquim Dantas

Esse discurso está presente no prazer que algumas pessoas sentem ao receber o troco a mais, sem se importar que o equívoco cometido pelo caixa será descontado do seu minguado salário. Se parasse para pensar que erro cometido talvez tenha sido provocado pela extensa jornada e pelas péssimas condições de trabalho, devolveria o dinheiro que recebeu a mais.

Quando eu ouço que "bandido bom é bandido morto, não importa a idade", mais eu me convenço de que as pessoas esqueceram definitivamente o significado da palavra solidariedade humana e digo isto não porque eu defenda quem comete crimes, muito pelo contrário. Esqueceram o que é solidariedade porque a frase em aspas acima, reflete a preocupação em resolver a consequência e não a causa do problema.

Nós, enquanto sociedade, somos sócios dos problemas da Segurança Pública, da Saúde Pública, da Educação Pública e assim por diante. Ouvi uma estudante de cerca de 12 anos falar para sua mãe na porta da escola que uma outra menina a estava encarando minutos antes. A mãe respondeu que a filha, além de encarar a outra garota também, deveria partir pra cima e tomar satisfações com ela. Que tipo de cidadã esta mãe está formando? 

A escola pública hoje é praticamente um depósito de jovens, onde os pais transferem para os professores a responsabilidade de ensinar valores que são competência da família, como respeito, honestidade e assim por diante. De novo a solidariedade foi para a lata do lixo.

Nos dias atuais, infelizmente, a solidariedade é praticada com o sentimento de piedade, de esmola ou até mesmo como sentimento de superioridade. Eu posso, ele não.

Deveríamos ser solidários para sentirmo-nos bem, como dizia o Raul Seixas: "o meu egoísmo é tão egoísta, que o auge do meu egoísmo é querer ajudar, eu faço porque me faz bem, se não me fizer mais bem eu vou deixar de fazer".

Pesaroso e triste é este caminho que escolheu a nossa sociedade, cega pelo pelo ódio e pelo consumo não só de bens, mas de notoriedade narcisista e burra, sobretudo porque este caminho levará, os que são solidários por egoísmo, ao isolamento e a solidão. 

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