Acabo de viver o dia mais triste da minha vida nos meus 22 anos de magistério. Fui convidado a dar aula como voluntário no preparatório para o ENEM do CEM 02 de Ceilândia, uma escola de referência.
O tema da aula: Estado Islâmico, terrorismo e a crise dos imigrantes no Mediterrâneo. Os estudantes, concentrados, acompanhavam as narrativas dessas diferentes formas de violência.
Histéricos gritos femininos são ouvidos na sala ao lado. Pedi aos alunos que ignorassem, acreditando se tratar de "zoeira" juvenil no intervalo escolar.
*por Reginaldo Veras.
Um coordenador me chama no canto e pede ajuda. Um aluno acabara de esfaquear outro. O SAMU chega rápida e tardiamente. O óbito se confirmara.
Alunos choram. Professores choram. Outros alunos iniciam um processo de linchamento, impedido pelos heroicos professores. Atônito e impotente tento ajudar. Não havia o que fazer.
Os pais da vítima chegam. Todos, sem jamais sentir na mesma intensidade, choram a dor dos familiares.
Um poeta disse que não devemos chorar a morte de alguém e sim sorrir pelo que viveu. Pergunto-me: sorrir de que vida? O que viveu um jovem que teve a vida ceifada aos 17 anos? O que viveu o outro jovem, assassino aos 16? Ambos morreram na noite de hoje. Famílias morreram parcialmente.
Carregarão a dor e o remorso eternos.
Reflito: aquela criança síria morta na praia da Turquia que comoveu o mundo pode representar todas as crianças e jovens brasileiros que perdem, de forma banal, a vida para a violência?
Sinto-me impotente. Desde o início do ano venho exaustivamente chamando a atenção para a violência no perímetro das escolas. Falei em plenário. Realizei audiência pública. Exigi o reforço do Batalhão Escolar e de concreto pouco.
Apesar de tudo, não podemos encarar a violência com naturalidade. Cada estudante que ajudamos a formar representa uma forma de combater o mal e de formar uma sociedade mais justa e fraterna.
O Diretor da escola, Wilson, em prantos, perguntou-me se não era melhor desistir, se vale a pena? Respondo que vale a pena. Se não o mal prevalecerá e numa outra forma de Estrado Islâmico se instalará definitivamente em nossas escolas e em nossas vidas.
*Reginaldo Veras é professor e deputado distrital pelo PDT
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