Por Altamiro Borges
Duas notinhas publicadas na Folha talvez ajudem a explicar o desespero dos barões da mídia, que nos últimos tempos radicalizaram ainda mais as suas posições políticas e escancararam o seu golpismo. A primeira revela a força da internet, que ameaça o modelo de negócios da imprensa tradicional. Segundo a coluna Painel desta segunda-feira (22), “a internet deve passar a receber mais publicidade federal. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência elabora para este ano uma nova norma para atualizar a fatia da internet na partilha da comunicação social do país – em 2015, os investimentos federais na internet foram de 12,4%, marca que o Executivo considera insatisfatória”.
A notinha até tenta fazer intriga, especulando que “o Planalto promete não mudar os critérios de mídia técnica, uma reivindicação do PT para repassar mais recursos a blogs e sites simpáticos às causas do partido. Segundo previsões internas, a fatia da internet subiria para algo próximo a 20%. O governo diz que deseja ‘qualificar a audiência’, mexendo na forma de medir os acessos na internet”. Mas ela não deixa de evidenciar os temores da famiglia Frias, que presencia acentuada queda da tiragem do seu jornal – de mais de um milhão de exemplares nos anos 1980 para menos de 200 mil atualmente. A explosão da internet, entre outros fatores, seria uma das principais causas da decadência do jornalão.
Assinaturas canceladas
A outra nota foi publicada na quinta-feira passada (18) e representa mais um revés para a mídia impressa. Ela informa que “a Mesa Diretora da Câmara Federal, presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu cancelar as assinaturas de jornais e revistas, que geraram um custo de R$ 1,96 milhão no ano passado, de acordo com a Primeira Secretaria... O edital do contrato, firmado em 2010 e renovado até fevereiro deste ano, previa 621 exemplares do ‘Correio Braziliense’, 572 assinaturas da Folha, 377 de ‘O Globo’ e 259 de ‘O Estado de S. Paulo’, entre outros jornais. No caso das revistas, os maiores volumes de assinaturas eram de ‘Veja’ (416), ‘IstoÉ’ (233), ‘Época’ (161) e ‘Carta Capital’ (120)”.
A Folha tucana, que sempre se jactou de ser o jornal mais lido pelos parlamentares em Brasília, até tenta disfarçar o impacto da medida. Após festejar a eleição do golpista Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal, ela agora se faz de vítima de perseguição política. “A decisão [de cancelar as assinaturas] ocorre em um momento em que o peemedebista é alvo de acusações de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras e após sofrer uma derrota na Câmara, com a vitória de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para líder do partido na Casa. Eduardo Cunha tem reclamado da atuação da imprensa na cobertura dos casos envolvendo seu nome”. Ou seja: a famiglia Frias engoliu o seu próprio veneno!
‘Folha’ morre de medo de Lula
Em recente texto de opinião assinado pelo próprio editor de “Poder” da Folha, Fábio Zanini, o principal diário brasileiro explicitou a sua tática de “sangrar” Dilma e “matar” Lula. O articulista não vacilou em escrever que “decretar o fim da carreira política de Lula é tentador”, mas confessou que a tarefa oposicionista não é tão fácil assim. Após lembrar que “Lula já foi dado como acabado pelo menos três vezes em sua longa carreira política e sempre ressurgiu para surpreender seus críticos”, ele analisa que a continuidade do ciclo político iniciado pelo líder petista dependerá da evolução da economia e dos próprios méritos do ex-presidente. De forma marota, ele dá a linha para a oposição partidária.
Para ele, Lula “mantém muito de seu status mítico dentro do partido. Tem recall, carisma e dois mandatos que nem os opositores mais ferozes negam que tenham sido bem-sucedidos. Ele conta, assim, com uma base sobre a qual concorrer em 2018, na hipótese de conseguir em algum momento parar de afundar. Num cenário de economia em alguma recuperação, ainda que tímida, teria uma chance de chegar ao segundo turno. E, daí, é uma eleição aberta”. Em outras palavras, a orientação para evitar uma quinta vitória do “lulopetismo” consiste em dois movimentos: desgastar o governo Dilma, inclusive no terreno econômico, e fazer de tudo para desconstruir o “mítico” legado de Lula.
Por que esta orientação tática é tão “tentadora” para a famiglia Frias? Por duas razões. A primeira é eminentemente política. Os barões da mídia não toleram sequer o “reformismo brando” dos governos Dilma e Lula e sonham com a volta dos neoliberais puros ao poder – com sua política de desmonte do Estado, da nação e do trabalho. A segunda componente é mais mesquinha, mercenária. Diante da grave crise que atinge o modelo de negócios da mídia tradicional, em decorrência da explosão da internet e da perda acentuada da sua credibilidade, eles contam os dias para o retorno ao Palácio do Planalto dos seus amigos demotucanos – que retribuiriam a gentiliza com publicidade, isenções, empréstimos e outras mutretas. Eles se recordam de FHC, o grande amante dos barões da mídia!
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