25 de ago. de 2016

A mulher que calculou as rotas da chegada do homem à Lua

FOTO: NASA
Vida de Katherine Johnson será retratada no filme ‘Hidden Figures’, com previsão de lançamento para 2017
Atualmente em processo de pós-produção, o filme “Hidden Figures” (“Cálculos Ocultos”, em uma tradução livre) conta a história da matemática, física e cientista espacial negra Katherine Johnson, uma figura pouco conhecida que calculou a trajetória da nave Apolo 11, na primeira viagem do homem à Lua, em 1969.

A previsão é de que a obra, dirigida por Theodore Melfi e com trilha sonora de Pharrell Williams, seja lançado em janeiro 2017.

Além de Katherine, vivida por Taraji P. Henson, a obra também retratará as trajetórias de Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), que também trabalharam para a Nasa (agência espacial americana) na mesma época.

Atualmente com 98 anos, Katherine é reverenciada pelos seus sucessores na instituição e dá palestras em universidades americanas nas quais incentiva seus alunos a seguirem carreiras no ramo da tecnologia.

 
 Juventude brilhante
Katherine Johnson nasceu em 1918 na cidade de White Sulphur Springs, no Estado de Virgínia Ocidental. Seus pais eram a professora Joylette Coleman e o zelador Joshua Coleman.

Precoce, ela entrou no ensino médio aos 10 anos, e se formou aos 14. “Eu contava tudo. Eu contava os passos até a estrada, os paços até a igreja e qualquer coisa que pudesse ser contada”, afirmou em entrevista concedida em 2013 ao site da Nasa (agência espacial americana). Aos 15 anos já cursava a Universidade de Virgínia Ocidental.

“Eu iria me tornar uma professora de matemática porque era isso o que existia: você podia ser uma enfermeira ou uma professora”, afirmou em entrevista não datada ao site Makers, que reúne histórias inspiradoras de mulheres.

Na universidade, ela travou contato com o famoso doutor em matemática William W. Shieffelin Claytor, que também era negro e encorajou Katherine a estudar matemática avançada. Ele chegou a criar um curso de geometria analítica do espaço especialmente para a aluna.

“Ele disse: ‘você poderia ser uma boa pesquisadora em matemática. Eu respondi ‘o que eles fazem?’. Ele disse ‘você vai descobrir’. Ele fez com que eu fizesse todos os cursos que existiam no catálogo. Algumas vezes eu era a única no curso”
Katherine Johnson
Em entrevista concedida ao site Makers, sem data
Início da carreira
Ela se formou em francês e matemática aos 18 anos, mas a aplicação do potencial completo de seus conhecimentos não veio imediatamente.

Katherine deu aulas no ensino médio por sete anos antes de tentar, com sucesso, uma vaga no Langley Research Center, em 1953. Criado em 1917, ele foi o primeiro laboratório de aviação civil dos Estados Unidos.

“Os números sempre foram uma parte do que eu fazia. Na matemática você está certo ou você está errado. Eu gostava disso”
Katherine Johnson
Em entrevista concedida ao site Makers, sem data
A segregação racial ainda vigorava nos Estados Unidos naquela época, o que impedia, por exemplo, negros de estudarem nas mesmas escolas do que brancos em alguns Estados do país.

Mas Katherine se beneficiou indiretamente de um decreto assinado 12 anos pelo presidente Franklin Delano Roosevelt.

Partindo do diagnóstico de que o país não poderia se dar ao luxo de desperdiçar mão de obra qualificada, o documento assinado pelo presidente proibia expressamente que órgãos públicos exercessem discriminação de raça, credo ou nacionalidade. Em paralelo, eles foram incentivados a contratar profissionais negros.

Katherine foi contratada pouco depois de o Langley Research Center ter aberto vagas voltadas especialmente para mulheres negras. “Eles tinham um grupo de mulheres matemáticas. Só queriam alguém para fazer as coisas miúdas enquanto eles pensavam. Nós éramos chamadas de ‘computadores’, ‘computadores mulheres’”, afirmou em entrevista ao Makers.

Seu trabalho consistia em realizar cálculos seguindo orientação de engenheiros da instituição. Mas logo ela se destacou por suas habilidades e espírito questionador. Além da barreira racial, teve, para isso, que superar também restrições a mulheres.

“Eu trabalhava com caras, e quando eles foram receber novas instruções eu pedi permissão para ir junto. Eles disseram ‘as garotas normalmente não vão.’ E eu disse ‘tem uma lei nesse sentido?’ E eles responderam ‘não’. Então meu chefe disse ‘deixem ela ir’”
Katherine Johnson
Em entrevista concedida ao site Makers, sem data
Como Katherine calculou rotas de naves espaciais
Mais tarde, o centro foi assimilado pela Nasa. Em 1961, ela foi a responsável por calcular a rota da primeira nave americana a ir ao espaço, a Mercury-Redstone 3, tripulada por Alan Shepard.

Em 1962, a Nasa lançou a missão Friendship 7 ao espaço, na qual John Glenn se tornou o primeiro astronauta americano a orbitar o planeta. Os cálculos para este lançamento foram feitos por computador, mas o próprio Glenn pediu que Katherine checasse a conta. Ela demorou um dia e meio, e chegou a exatamente os mesmos resultados.

Um de seus trabalhos mais importantes foi calcular a trajetória da nave Apollo 11, que foi a primeira a pousar na lua, em 1969. Para isso, levou em consideração fatores como a velocidade da nave, e onde a Terra e a lua estariam em cada momento da ida e da volta.

“Nós estávamos muito preocupados quando eles estavam deixando a Lua e voltando. Se ele [o piloto da nave, Neil Armstrong] errasse um grau, não entraria na órbita da Terra. Eu olhava para a televisão e pensava ‘espero que ele tenha entendido’. E também esperava que eu estivesse certa”, afirmou.
FOTO: KATHERINE JOHNSON/ACERVO PESSOAL
Aposentadoria e reconhecimento
Johnson trabalhou para a Nasa até 1986, quando se aposentou após ter trabalhado por 33 anos. Em 1997, recebeu o título de matemática do ano da National Technical Association, e também diversas premiações ligadas aos voos espaciais da Nasa.

Ela também recebeu os títulos de doutora honorária em direito pela Universidade do Estado de Nova York e de doutora em ciência pelo Capitol College em Maryland e pela Old Dominion University no Estado de Virgínia. Com frequência, ela dá palestras incentivando alunos a seguirem carreiras ligadas a tecnologia em universidades americanas.

do nexojornal.com.br

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