No dia 25 de dezembro de 1867, em um sobrado da antiga rua Corredor do Bispo número 813, no Recife, hoje chamada de rua Oliveira Lima, nasce o pesquisador, jornalista e historiador Manoel de Oliveira Lima. Seu pai era o comerciante português Luís de Oliveira Lima e, sua mãe, Maria Benedita Miranda, uma brasileira nascida no Rio Formoso, em Pernambuco.
Em 1873, com seis anos de idade, o menino Manuel parte com os pais para viver em Portugal. Lá concluiu o ensino fundamental e médio, respectivamente, no colégio dos Lazaristas e na Escola Acadêmica, ambos em Lisboa. Ingressou na Escola Superior de Letras em 1885, período em que dá início à sua correspondência com o Jornal do Recife. Nela, ele passa a elaborar artigos sobre as artes plásticas e o movimento teatral de Lisboa, e tecer comentários sobre a política inglesa.
Dominando perfeitamente as línguas francesa e inglesa, além da portuguesa, Oliveira Lima finaliza o curso superior em 1887, e manifesta interesse para a carreira diplomática e a área de História. Apesar de nutrir uma grande admiração pela família imperial portuguesa - em particular, por Dom João VI - o jovem Manuel se torna um republicano.
Ele retorna ao Recife dezessete anos depois - em setembro de 1890 -, por ocasião do falecimento do seu pai. Apaixona-se, então, por Flora Cavalcanti, uma jovem professora de inglês e francês nascida no engenho Cachoeirinha, na cidade de Vitória de Santo Antão, e que lecionava no Poço da Panela, no Recife. Dez meses depois, o casamento civil - por procuração -, foi realizado em Cachoeirinha, e o casamento religioso teve lugar em Lisboa. Com Flora, Manuel viveu durante toda a sua vida. Contudo, o casal nunca teve filhos.
Oliveira Lima embarca para a Alemanha em 1892, após ter sido nomeado Secretário da Legação do Brasil, em Berlim. Nesta cidade, em 1894, ele publica o seu primeiro livro:Pernambuco - seu desenvolvimento histórico; e, posteriormente, edita um novo trabalho: Aspectos da literatura colonial brasileira. Ele funda também o Jornal Correio do Brasil, em Lisboa; e, ainda jovem, colabora com a Revista Brasileira e se torna correspondente de vários jornais: o Jornal do Recife, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e O Estado de São Paulo.
Em 1896, Manuel Oliveira Lima ingressa na carreira diplomática, como secretário da Legação do Brasil em Washington. Entretanto, devido a um grave desentendimento com um dos seus superiores - no caso, Assis Brasil -, que quase termina em duelo, o diplomata é transferido para Londres, em janeiro de 1900. Nesta cidade, ele publica os livros Nos Estados Unidos, Memória sobre o descobrimento do Brasil e Reconhecimento do Império. É ainda nesta cidade que Oliveira Lima estreita suas relações de amizade com um brasileiro: Joaquim Nabuco, o líder abolicionista pelo qual nutria uma grande admiração. Como esse último era muito sensível às críticas, de um modo geral, e o diplomata sempre expressava a sincera opinião sobre os fatos, a amizade entre os dois foi rompida.
De Londres, Oliveira Lima seguiu para a cidade de Tóquio, no Japão, onde permaneceu por dois anos como representante e embaixador do Brasil. Nessa cidade ele publica um novo livro: No Japão. O grande desejo do historiador-diplomata, contudo, era servir na Europa, uma vez que dera início à obra Dom João VI no Brasil e suas principais fontes documentais se encontravam em Londres, Lisboa, Paris e Viena. Sendo assim, ele solicita sua transferência para Londres, mas, em decorrência de sua simpatia pelo sistema monárquico (ele sempre enaltecia os benefícios que a monarquia trouxe para a formação e o progresso do Brasil), o Barão de Rio Branco não atende ao seu pedido - encorajado por Joaquim Nabuco e os seus colegas do Senado. O Chanceler sugere a transferência do diplomata para a cidade de Lima, no Peru. Muito aborrecido com o fato, Oliveira Lima não aceita o cargo.
Só após negociar com o Barão do Rio Branco por um ano e meio, Manuel é finalmente nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil junto ao Governo da Venezuela. O pernambucano parte para Caracas, então, com a finalidade principal de negociar uma questão bastante delicada: a delimitação das fronteiras entre os dois países que, desde 1884, não conseguia ser resolvida. Naquele país, o diplomata permanece até o ano de 1906.
Como um dos primeiros literatos, Manuel Oliveira Lima assume uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, no dia 17 de julho de 1903. Dando prosseguimento à ordem cronológica, Bruxelas e Estocolmo constituem-se em novos pontos de destino para o diplomata. Em Bruxelas, ele publica Dom João VI no Brasil (em dois volumes), trabalho que considera representar sua obra principal. Em 1907, ele publica Panamericanismo e Cartas de Estocolmo.
Considerado como um importante intelectual, Oliveira Lima é convidado, em 1912, para dar conferências em várias universidades americanas. Um ano antes, na Universidade de Paris, o historiador pronuncia uma série de conferências por ele intituladas Formação da nacionalidade brasileira.
Devido à uma série de declarações nas quais ressaltava a superioridade do regime monárquico (em alguns aspectos), em relação à atual república (que ora cometia desmandos e agia de modo prepotente), e das pressões decorrentes das posturas adotadas, Oliveira Lima pede sua aposentadoria da vida diplomática em 1913. No entanto, o historiador pernambucano continua a produzir: publica o livro Na Argentina, colabora com vários jornais e revistas, leciona na Universidade de Lisboa a disciplina Estudos Brasileiros (em 1923); lança o livro D. Pedro I e D. Miguel, em 1925; e, em 1927, um outro: O Império brasileiro. O escritor sempre falava que redigia "com as cores que lhe ditavam o cérebro e o coração".
Por sua vez, ele temia que a herança cultural européia do Brasil se visse diminuída, caso o País seguisse a política externa dos Estados Unidos, ao invés de manter-se mais ligado à Europa - lugar de origem de suas tradições culturais e políticas. Defendendo uma política baseada em um contexto de bipolaridade, portanto, e avesso a qualquer tentativa de supremacia, Oliveira Lima - começando a contrariar os dogmas da política externa brasileira, válidos há muito tempo - criticava inclusive a Doutrina de Monroe, transformada em instrumento de expansão política e econômica de Washington. Através dessa Doutrina, que pregava o pan-americanismo, os Estados Unidos - na época governado por Theodore Roosevelt -, desejavam impor a sua liderança no continente sul-americano.
No tocante à modernização da diplomacia brasileira, Oliveira Lima declarava: "O imperialismo contemporâneo assenta sobre o negócio. A pujante democracia norte-americana nasceu do conúbio da liberdade com o interesse: os frutos da frondosa árvore são os pomos de ouro da antiga fábula. O dever primordial dos nossos governantes é tratar de colocar e tornar assim remuneradora a produção nacional, pois que sem fortuna não há vigor e sem vigor, não se pode infundir respeito". Neste sentido, o pensamento do historiador-diplomata acerca da condução dos negócios externos do Brasil - defendendo sempre a dignidade do seu País de origem - não coincidia com os objetivos prioritários do Barão de Rio Branco, tampouco lhe agradava.
O historiador morava em Londres quando estourou a 1a. Guerra Mundial. Por não concordar também com a doutrina dos Aliados, ele viaja da Europa para os Estados Unidos e fixa sua residência em Washington. Na manhã de 24 de março de 1928, quando ainda escrevia dois outros livros - D. Miguel no trono e Memórias - que foram publicados postumamente, ele vem a falecer naquela cidade.
Todo o seu acervo bibliográfico - quarenta mil livros - é doado à Universidade de Washington. O diplomata-historiador foi enterrado no cemitério de Mount Olivet, na cidade onde residia. No túmulo do ilustre homem de letras, investigador de arquivos e leitor de papéis seculares, lê-se apenas as palavras que ele mais apreciava: "Aqui jaz um amigo dos livros".
O pernambucano Manuel Oliveira Lima, no início do século XX, foi um dos mais polêmicos e intelectualizados homens de letras do Brasil. Participou de importantes debates e levantou bandeiras que interessavam a toda a humanidade. Mesmo hoje, em se tratando das modernas relações internacionais, muitos ainda o consideram como uma das figuras mais representativas da diplomacia. Um famoso escritor sueco ressaltou que o historiador-diplomata era "o embaixador da intelectualidade brasileira". Como uma das homenagens que lhe foram feitas, na casa onde nasceu Oliveira Lima, no bairro da Boa Vista, no Recife, funciona hoje o Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco.
fonte Pernambuco Arcaiso
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