Marco Antonio Villa acusa Tais Araújo de “picaretagem”
Após os comentários desastrosos do presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Laerte Rimoli, sobre a atriz Taís Araújo, uma horda racista se levantou contra ela na internet. Esse tipo de ataque é estimulado por comentários como o que foi feito na quarta-feira 22 na Jovem Pan pelo comentarista Marco Antonio Villa.
Villa se referiu a comentário feito pela atriz no TEDxSão Paulo em agosto, no qual ela disse, em síntese, que, se o seu filho pequeno estiver saindo de um jogo de futebol todo sujo, sem camisa, e estiver em uma calçada de um bairro daqueles em que quase todo mundo é branco, as pessoas iriam atravessar para a outra calçada confundindo o garoto com um infrator.
Seguiu-se uma onda de ataques racistas a Taís estimulados por comentários inaceitáveis como o que proferiu o comentarista da Jovem Pan Marco Antonio villa sobre Taís. Os ataques foram tão intensos que a Polícia Civil do Rio de Janeiro, em nota, informou que o diretor do Departamento Geral da Polícia Especializada (DGPE), Ronaldo Oliveira, determinou à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) abertura de inquérito.
Nunca é demais lembrar que o racismo é crime no Brasil. Por lei, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional pode ser condenado a reclusão de um a três anos, além de pagar multa.
As pessoas apostam na seletividade da aplicação da lei, ou na leniência, mas a sociedade brasileira está se levantando contra essa barbaridade que é o racismo em um país de maioria afrodescendente.
Foi nesse contexto que Villa proferiu o seguinte comentário sobre a fala de Taís Araújo no evento supracitado:
“Eu vi, recentemente, uma atriz, aí, dizendo assim: ‘Quando eu caminho com meu filho, alguém vem, me vê com meu filho, atravessa a rua, vai pra outra calçada’. Ah, que que é isso? Ela tá imaginando que o Brasil é a África do Sul, é o Apartheid? Que isso? E uma atriz da classe dominante, que ganha ‘milhões’? Haja picaretagem!”
Antes, para negar dissimuladamente o racismo (apesar de dizer que “reconhece” que exista no país), Villa tentou atacar os afrodescendentes pela suposta conduta de UM negro, Zumbi dos Palmares, de quem a data da morte, 20 de novembro, tornou-se o feriado nacional da “Consciência Negra”.
No vídeo abaixo, aos 24 segundos Villa afirma que Zumbi dos Palmares teria seus próprios “escravos” negros e, sobre a fala de Taís, aos 2minutos e 12 segundos chamou-a (a fala) de “picaretagem”.
Quero dar minha resposta a esse indivíduo.
Em primeiro lugar, sobre Zumbi dos Palmares, ele se refere a tese do escritor Leandro Narloch presente em seu livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, no qual afirma que Zumbi tinha seus próprios escravos no Quilombo dos Palmares.
Parece uma tese sólida para ser repetida assim, mas o fato é que o autor que fez Villa dar essa declaração sobre Zumbi dos Palmares, Leandro Narloch, reconhece que até hoje se sabe muito pouco sobre Zumbi, apenas que viveu no século XVII, e que faltam dados históricos e autores para sustentar essa tese.
Sabe de onde foi tirada a tese que um historiador como Villa espalhou como fato incontestável? De suposições de Narloch. Nada mais. A tese é absolutamente pífia para combater a escolha do dia da consciência negra. Mas o pior não é isso.
Villa chamou Taís de “picareta” por, supostamente, ela ter inventado que, no Brasil, as pessoas confundam negros com bandidos por conta da cor da pele. Eu poderia citar o caso do jovem ator negro que foi espancado por assaltantes próximo a uma estação de metrô de São Paulo porque os seguranças da estação o entregaram aos assaltantes após ele ir pedir ajuda porque os assaltantes eram brancos e o ator, negro.
Talvez ele devesse dar uma olhada nessa reportagem do portal R7.
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