Eu admirei Ciro Gomes e relevei seus arroubos, grosserias e idiossincrasias até ele fugir para Paris, um dia após o resultado do primeiro turno das eleições de 2018.
Não entro nem faço parte dessa discussão idiota de que Fernando Haddad teria ou não sido eleito se, ao invés de fugir, Ciro tivesse tido a hombridade de ficar ao lado da verdadeira luta que se travava, então.
Mesmo com o apoio dos eleitores de Ciro, o que, aliás, se deu em grande escala, Haddad iria perder no segundo turno. As forças reacionárias que se levantaram contra a esquerda já estavam serviço de Bolsonaro, logo após perceberem que eleger o decrépito Geraldo Alckmin, do PSDB, seria, simplesmente, impossível .
Sérgio Moro havia prendido Lula, o Judiciário estava dominado, o poder econômico azeitava a máquina de fake news e os eleitores, envenenados por kits gays e mamadeiras de pirocas, caminhavam, bovinamente, para o abatedouro moral das urnas.
Ninguém, em sã consciência, achava sinceramente que o apoio de Ciro Gomes iria reverter o segundo turno. Até porque não era disso que se tratava.
No segundo turno, o Brasil já havia deixado o debate eleitoral para tratar de algo muito mais sério: o embate civilizatório contra o fascismo.
E foi, justamente, nessa quadra da luta, que Ciro fugiu para Paris.
Poderia ter ido para Sobral e, de lá, em meio a suas maluquices e surtos psicóticos, comandado seu apoio à luta.
Mas preferiu fugir para Paris, com todo simbolismo de deboche e desprezo de classe que, ele sabia, isso iria significar.
Fugiu. Não tentem pensar em outro verbo.
Estávamos todos de mãos dadas, com os bárbaros de dentes arreganhados em frente às nossas portas, e Ciro fugiu, pusilânime, covarde.
Agora, diante do desastre que não ousou enfrentar, voltou ao seu estilo cuspidor de impropérios, xingamentos e repentes de revolucionário de bordel.
Finge ter apenas curtido férias merecidas, em Paris.
Mas nós sabemos, todo mundo sabe, Ciro, que você fugiu.
O cirismo é um delírio de quem precisa acreditar, desesperadamente, na existência de um antipetismo honesto.
No limite, não passa, também, de uma fuga.
Leandro Fortes
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