16 de jan. de 2020

Menino do mato

Desde o começo do mundo água e chão se amam e se entram amorosamente e se fecundam.

Nascem peixes para habitar os rios.

E nascem pássaros para habitar as árvores.

As águas ainda ajudam na formação dos caracóis e das suas lesmas.

As águas são a epifania da criação.

Agora eu penso nas águas do Pantanal.

Penso nos rios infantis que ainda procuram declives para escorrer.

Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas para alegria das garças.

Estes pequenos corixos ainda precisam de formar barrancos para se comportarem em seus leitos.

Penso com humildade que fui convidado para o banquete destas águas.

Porque sou de bugre.

Porque sou de brejo.

Acho agora que estas águas que bem conhecem a inocência de seus pássaros e de suas árvores.

Que elas pertencem também de nossas origens.

Louvo portanto esta fonte de todos os seres e de todas as plantas.

Vez que todos somos devedores destas águas.

Louvo ainda as vozes dos habitantes deste lugar que trazem para nós, na umidez de suas palavras, a boa inocência de nossas origens.

Manoel de Barros - poeta das miudezas

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