29 de out. de 2012

A Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado

Por eunapolis.ifba.edu.br
Guerra do Contestado (1912- 1916)
No período compreendido entre 1912 a 1916, na área então disputada pelos Estados de Santa Catarina e Paraná, denominada região do Contestado, uma luta pela posse de terra levou às armas, cerca de 20 mil sertanejos.
Revoltados com os governos estaduais, que promoviam a concentração da terra, nas mãos de poucos e com o governo federal, que concedeu uma extensa área, já habitada, à empresa norte-americana responsável pela construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul no território, os cablocos enfrentaram as forças militares dos dois Estados e do Exército Nacionais, encarregados da repressão.
Liderados inicialmente por um monge peregrino, que um ano mais tarde, após sua morte, faria eclodir um movimento messiânico de crença na sua ressurreição e na instauração de um reinado de paz, justiça e fraternidade, os revoltosos chegaram a controlar uma área de 28 mil quilômetros quadrados. Com o propósito de garantir direito de terras, combateram a entrada do capital estrangeiro, que explorava a madeira e vendia a terra a colonos imigrantes.

A "Guerra do Contestado” como ficou conhecido o episódio, terminou em massacre e a rendição em massa dos sertanejos que, embora tivessem se empolgado com as primeiras vitórias, não puderam resistir à superioridade bélica das forças repressivas. Além do fuzil do canhão e da metralhadora, pela primeira vez na América Latina era usados a aviação com fins militares.
 Terminada a Guerra, Paraná e Santa Catarina chegam a um acordo sobre a Questão dos Limites e a colonização da região é intensificada. Surgem as primeiras cidades e uma cultura regional começa a ser delineada. A economia extrativista da erva-mate e da madeira vai cedendo lugar aos novos empreendimentos de processamento da matéria-prima. A modernização atinge também a propriedade rural. A região passa a viver uma nova realidade sócio-econômica e cultural.
O desenvolvimento, que acontece a passos largos, preserva, contudo, o espírito inconformista e empreendedor do homem do Contestado, que venceu as adversidades de uma região inóspita e conflitante na luta por sua sobrevivência e na busca de seus direitos. A lição está estampada na cultura e nas marcas que hoje se erguem por todo o território como marcos e referências turísticas porque resgatam um dos mais importantes episódios da história brasileira.
Os fatos históricos e culturais inerentes à Questão do Contestado, associados à natureza e aos produtos da região, constituem importante roteiro turístico regional.

Personagens
Monge José Maria Agostinho
Nesta época, as regiões mais pobres do Brasil eram terreno fértil para o aparecimento de lideranças religiosas de caráter messiânico. Na área do Contestado não foi diferente, pois, diante da crise e insatisfação popular, ganhou força a figura do beato José Maria. Este pregava a criação de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viveriam em paz, com prosperidade justiça e terras para trabalhar. José Maria conseguiu reunir milhares de seguidores, principalmente de camponeses sem terras.

Maria Rosa
Maria Rosa é como ficou conhecida a personagem brasileira que foi uma das líderes da Guerra do Contestado (1912-1916). Dizem os historiadores que, com apenas 15 anos, Maria Rosa lutou como homem nesta guerra. Considerada como uma Joana D'Arc do sertão, "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Assumiu a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos do Contestado, então eram cerca de 6000 homens, após a morte do dito monge João Maria. Este monge santo, cujo nome era Miguel Lucena de Boaventura - ,e que também se autodenominava José Maria Agostinho, tem registro de passagem como militar no Paraná, foragido após cometer delitos. Maria Rosa morreu em 28 de Março de 1915, da vila de Reinchardt, lutando contra o capitão Tertuliano Potyguara e um efetivo de cerca de 710 homens. Maria Rosa morreu às margens do rio Caçador.

Estatísticas
Área conflagrada: 20.000 km²
População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes
Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó, Três Barras, União da Vitória e Palmas;
Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos Canoinhas e Porto União;
início da Guerra: outubro de 1912;
Tempo da Guerra: 46 meses (out/1912 a ago/1916);
Auge da Guerra: Março-abril de 1915, em Santa Maria, na Serra do Espigão;
Final da Guerra: Agosto de 1916, com a captura de Adeodato, o último líder do Contestado;
Combatentes militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis contratados;
Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra;
Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos e desertores;
Baixas na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e desaparecidos;
Custo da Guerra para a União: cerca de 3.000:000$000, mais soldados militares;
A Guerra do Contestado durou mais tempo e produziu mais mortes que a Guerra de Canudos, outro conflito semelhante em terras do Brasil;
Em cinco anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.

A luta pela terra no Brasil
A história do Brasil é repleta de revoluções e guerras onde a parte explorada se volta contra a parte exploradora. Na Guerra do Contestado vimos que o fato de grandes propriedades de terras estarem nas mãos de poucos despertou os revoltosos que decidiram lutar pela posse de terra.
Hoje ainda temos movimentos que lutam pela terra como o MLT (Movimento de Luta pela Terra) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Tais movimentos são mostrados pela mídia como revoltas descontroladas que geram violência e mortes absurdas. O ex-ministro Roberto Rodrigues diz “nos incomoda bastante, pois está ligado à garantia do direito de propriedade, que tem a ver com o mercado, com investimentos estrangeiros e, de uma forma muito contundente, preocupa os agricultores nacionais e o Brasil inteiro", mostrando assim como a igualdade social não interessa ao governo nem aos grandes proprietários que lucram com suas terras no mercado nacional e internacional.
Na Guerra do Contestado o governo conteve os revoltosos com o uso de metralhadoras, fuzis e canhões e aviões pela primeira vez na América Latina. Hoje a população Rural tem o direito de lutar por suas terras e busca de duas formas o que chamamos de Reforma Agrária, pela lei ou pela força. Reforma Agrária é a reorganização do espaço rural com a intervenção do governo, democratizando as terras. Dentro dessa luta, vemos que o governo abre brechas para isso, porém é ineficiente em alguns pontos.
Na constituição de 1988 há a garantia da desapropriação de latifúndios para a finalidade pública e interesse social. Porém não é dada aos beneficiados qualquer condição de produzir naquela área, o que causa um êxodo rural, onde se abandona a terra pra tentar uma melhor qualidade de vida na cidade.
No Brasil a luta pela terra existe há muito tempo e não vemos próximo o fim desse problema. Vemos que o governo, de formas diferentes sempre reagiu contra o interesse da democratização das terras e sempre controlou a oposição civil. Esperamos que um dia o Brasil dê um importante passo rumo ao desenvolvimento social não apenas a favor do trabalhador rural mas do estudante, do profissional, do doente e de todo interesse público nesse país.

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