Morte de jovem negro choca menos que de jovem branco
Números revelam haver o reconhecimento da população de que a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco
Foto: Manifestantes protestam contra onda de violência que atinge jovens negros e pobres na periferia de São Paulo |
O Senado e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República firmaram acordo de colaboração na campanha Igualdade Racial é Pra Valer. O objetivo é ampliar os debates sobre igualdade racial para ajudar no processo de conscientização dos brasileiros sobre a importância do enfrentamento do racismo.
Nesta quarta-feira (7/11), o DataSenado, instituto de pesquisa da Casa, apresentou o resultado de entrevistas sobre o tema feitas por telefone com 1.234 pessoas. As entrevistas foram feitas em 123 municípios no período de 1º a 11 de outubro.
O objetivo da consulta foi aferir o grau de consciência da sociedade sobre a violência contra a juventude negra no Brasil. Dados de 2010 do Ministério da Saúde mostram que a maioria dos homicídios cometidos no país atinge jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 75% são negros.
A pesquisa do DataSenado indica que 67,1% dos entrevistados acham que as mulheres sofrem mais com a violência e que 66,9% têm consciência de que as principais vítimas são negros.
Os números tabulados demonstram que, entre os entrevistados, há o reconhecimento de que a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco.
Estatísticas
53% dos homicídios vitimam pessoas jovens, das quais mais de 75% são jovens negros, de baixa escolaridade, sendo a maioria do sexo masculino. O número de mortes de jovens negros passou de 14.055 em 2000 para 19.255 em 2010 – um crescimento de 37%.
Os resultados da pesquisa mostram que a disseminação de informações e a assimilação delas pela população está aquém do esperado. Ainda assim, os pesquisadores captaram entre os brasileiros a visão já consolidada de que, sem levar em conta a faixa etária, a violência atinge mais as mulheres e os negros. Os principais grupos vulneráveis à violência foram indicados por aproximadamente 67% dos entrevistados.
Renda
Segundo a diretora da Secretaria de Opinião Pública do Senado (Sepop), Elga Lopes, “a população parece aceitar com mais facilidade a ideia de que as mortes violentas estão associadas a fatores socioeconômicos do que a fatores raciais”. Um indício dessa afirmação é que 90,4% declararam acreditar que a violência mata mais pobres do que ricos.
Perguntados sobre as causas das mortes entre jovens, 63% dos entrevistados atribuíram a violência a aspectos sociais, enquanto 34,8% identificaram fatores comumente associados ao comportamento juvenil de risco. Quando inquiridos especificamente sobre a principal causa de morte entre os jovens, a maioria indicou o uso de drogas (56,2%), os acidentes de trânsito (22,4%) e os homicídios (19,8%).
A fim de evitar que as respostas a perguntas genéricas distorcessem uma percepção mais apurada do que os entrevistados pensam sobre a questão da violência, os entrevistadores apresentaram indagações mais específicas. Diante, por exemplo, da frase “homicídio é a principal causa de morte dos jovens negros”, 56,6% dos entrevistados se manifestaram favoravelmente. Percentual semelhante (55,8%) foi registrado para os que concordaram com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte violenta de um jovem branco”. E para 55,1% dos participantes da pesquisa é correto afirmar que “a principal causa de homicídios de jovens negros é o racismo”.
Elga Lopes chama a atenção para outros resultados que merecem análise. Os pesquisadores procuraram mensurar a consciência dos entrevistados sobre “o estigma da pele, uma marca de nascença que influencia a vida das pessoas e é carregada até à morte”. Questionados, quase 52% afirmaram que ser negro ou branco no Brasil, hoje, afeta a vida de uma pessoa – contra 46% que acreditam não afetar.
A diretora destaca, ainda, que a diferença de tratamento por policiais, experimentado por brancos e negros participantes da pesquisa, “chega a ser gritante”. Cerca de 20% dos brancos afirmaram ter se sentido ameaçados ou ofendidos por policiais, quando abordados. Esse mesmo percentual, entre os negros, chega próximo de 30%. Já o tratamento cordial e polido foi relatado por mais de 60% dos brancos – e por menos de 45% dos negros.
Imagens negativas
Na opinião da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, os dados mostram a dimensão da diferença de valor que têm as vidas dos brancos e negros no Brasil.
- Esses resultados decorrem dos vários estereótipos e das imagens negativas que o racismo cola na pessoa negra. Na verdade, o racismo é uma tentativa de desumanização daqueles grupos considerados inferiores – avaliou a ministra.
Luíza Bairros apontou como principal contribuição da pesquisa revelar que “os brasileiros estão perdendo o medo de revelar conflitos derivados do racismo na nossa sociedade”.
- Isso é muito bom. Quando o problema é admitido, há mais condições de combatê-lo – observou.
Na opinião de 36,4% dos entrevistados, a principal ação para combater o racismo deve ser a melhoria do ensino nas escolas. A mudança nas leis foi assinalada por 22,7% ao passo que 20,8% consideraram, como principal ação, a garantia do cumprimento das leis.
– A partir da pesquisa, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário poderão fazer um trabalho de combate mais forte contra o preconceito. A própria pesquisa mostra que há dois caminhos: mais investimento em educação e a legislação. Por isso, aprovamos o Estatuto da Igualdade Racial e a política de cotas nas universidades – disse o senador Paulo Paim (PT-RS).
Agência Brasil e Pragmatismo Político
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