Sexualidade, Higiene e Intimidade durante os séculos.
Por Gabriel Barbosa Rossi,
via http://literatortura.com
Até olhar pelo buraco da fechadura, ninguém conhece ninguém na cama, até estar lá também. Agora, passando pelos vários anos de história da humanidade, podemos olhar pelo buraco da fechadura dos nossos antepassados, e descobrir como estes se relacionavam? De fechaduras propriamente ditas, não! Elas eram caras pra caramba e a maioria da população medieval era pobre. A não ser que queiramos falar de reis, imperadores e nobres. Mas, como na sua maioria, a vida sexual deles não era segredo pra ninguém, esses chatos que fiquem de lados. A privacidade do camponês é mais interessante. Então, já que não podemos olhar pelas fechaduras, olhemos rachaduras em muros e portas, bem como frestas e vãos.
Principalmente na colônias europeias do século XV, algumas noções que temos hoje sobre sexualidade, higiene e intimidade são combatidas pelos padrões de comportamento europeu já estabelecido. Também cabe lembrar que a Europa “superou” esse mesmo problema, tendo em vista que séculos antes partilhavam das mesmas concepções que o “viver coletivo” traz. Para início de conversa, privacidade não era um conceito pronto, privacidade é um conceito que surgiu no século XVIII, então, alguns anos antes, não havia problemas com ela, afinal, ela não existia. Mas não existia como conceito de regra e moral social. Não existir privacidade quer dizer que andar nu e dormir na mesma cama com várias pessoas (todas nus) é extremamente normal. Sendo assim, em 1718 “surge” a palavra PRIVADO, que significava: Uma pessoa que trata só de sua pessoa, de sua família e de seus interesses domésticos. Agora conhecemos PRIVADO por designar algo que pertence a uma particular pessoa.
Os hábitos de higiene: tendo em vista que a parte mais limpa era o PÉ, a higiene não era algo muito disseminado! Seja andando descalço ou calçado, o pé sempre “ganhava uma lavada”. Diferentemente do restante do corpo, que também ficava exposto durante o dia, mas não era tratado com tanta higiene. A própria cama e as casa, além de serem mal arejadas, não eram bem limpas e não existia esforço algum para que isso melhorasse. A higiene que hoje é associada ao prazer físico, difere de antes, onde a sujeira sempre esteve mais presente que a limpeza. No Brasil colonial, a parte da higiene íntima, o “cheiro de mulher” agradava mais que qualquer coisa. O cheiro feminino era tido como o ápice do erotismo e, se uma mulher lavasse suas partes intimas antes do ato sexual, era tida como uma ruptura sexual. Era necessário um equilíbrio de odores para o erotismo.
Gregório de Matos, o Boca do Inferno, poeta baiano conhecido por suas obscenidades, criticava o ato de lavar-se da mulher, e dizia que então, se fosse assim, qualquer mulher poderia lavar-se, já que agora virou moda. Onde dizia “Lavai-vos, minha Babu, cada vez que vós quiseres, já que aqui são as mulheres lavadeiras do seu … (encontrem a rima para Bambu):
“Lavai-vos quando os sujeis
E Porque vos fique o ensaio
Depois de foder lavai-o
Mas antes não o laveis”
Relatos dizem que tais odores ainda mantinham afastados mosquitos, baratas, moscas. Dejetos só eram removidos uma vez por semana. Não era um ambiente muito propício a relações sexuais, não como conhecemos hoje – se bem que tem gente, que né? -, naquela época, já bastava. A noção de intimidade do século XVI não tem nada a ver com a que temos hoje, do século XXI.
A Igreja foi responsável por acabar com tudo isso. Os jesuítas vieram com seus conceitos europeus, refreando principalmente a questão do desejo, cobrindo o corpo da mulher e trazendo o império da higiene, tentando pelo menos modificar a aparência, melhorá-la, para aumentar a força do “pecado”. Portanto se a igreja não permite que a mulher seja bela, a cultura o fará, com o passar do tempo, mulheres que andavam nuas são “substituídas” por mulheres cobertas, fazendo com que agora, qualquer tornozelo ou pescoço seja motivo de erotismo.
Sinal de deturpação através dos tempos é de que a história é cíclica, antes as mulheres andavam nuas e era necessário mais que isso para reações eróticas. Com o tempo a igreja proíbe isso e, qualquer pele à mostra no século XIX era pra deixar um homem louco. Hoje “voltamos no tempo”, a questão do seminu retornou, assim como nas colônias do século XV, agora é necessário mais do que muita pele para o erotismo propriamente dito. Ou seja, o erotismo, como tantos outros conceitos da História, não é permanente, alterando-se conforme o contexto e a imposição social.
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