Obra rara de Tolstói ganha tradução direta para português
Cossacos, ilustração do livro |
Fora de catálogo há décadas, “Os Cossacos” recebe primeira versão traduzida diretamente do russo.
Pouco conhecida entre as obras de Tolstói, “Os Cossacos” goza de grande reputação entre seus leitores. Vencedor do Nobel em 1933 e um dos seus entusiastas, Ivan Búnin se referia ao romance como “um dos mais belos da língua russa”. Esgotado no Brasil há décadas, o livro ganha pela primeira vez tradução direta do russo. O trabalho da russa radicada no Brasil, Klara Gourianova, estampa o novo livro do selo Amarilys, da Manole, editora paulistana que já anunciou a ampliação de seu catálogo de obras russas.
“Os Cossacos” conta a história de Olénin, bem-nascido, mas desencantado jovem de Moscou, que se junta ao exército no Cáucaso no fim do século 19. Na convivência com os cossacos, em meio à paixão por uma moça da comunidade chamada Mariana, ele passa a questionar os valores da sociedade à qual pertence.
Essa obra de Tolstói chegou ao mercado brasileiro nas primeiras décadas do século 20, quando os russos começam a ser lidos com avidez no país. Não havia mais edição brasileira desde então. A primeira versão foi provavelmente lançada em 1931, por uma pequena editora chamada Marisa, passando a fazer parte do catálogo da José Olympio em 1942. Dois anos depois, foi editada pelo Clube do Livro, segundo registro no catálogo on-line da Fundação Biblioteca Nacional.
“A ideia de publicar autores russos partiu do dono da editora, Dinu Manole, que é um grande apreciador da literatura russa”, informa um dos editores responsáveis, Enrico Giglio de Oliveira. “Entramos em contato com tradutores e estudiosos da área e começamos a receber projetos. Selecionamos os mais interessantes e começamos a montar uma linha de literatura russa dentro do selo Amarilys”.
Além de “A morte de Ivan Ilítch e outras histórias”, também de Tolstói, e “O duelo”, de Tchecov, ambos lançados em 2001, a editora planeja outros dois volumes para este ano, “Águas de Primavera”, de Turguéniev, e uma antologia de contos de Búnin.
“Para mim foi um desafio publicar os russos principalmente por não ter conhecimento da língua”, conta Giglio de Oliveira. “É preciso ter muito cuidado com a tradução, que é a etapa mais importante da edição nesse caso, com o tratamento dado ao texto, com as informações adicionais que se pretende inserir na obra e com a forma em que esse conteúdo será apresentado.”
Os russos também já estão presentes no catálogo de literatura infantil. No começo de 2012, entraram dois volumes ilustrados que compilam as principais fábulas de Krylov, traduzidas e adaptadas por Tatiana Belinky.
Relato autobiográfico
A obra guarda traços autobiográficos: Tolstói, assim como Olénin, partiu aos 21 anos em busca de aperfeiçoamento moral no Cáucaso, uma cordilheira montanhosa situada entre os mares Cáspio e Negro que separa o sul da Rússia e o norte do Irã.
O personagem acredita que o contato com a natureza contribuirá para que cumpra seu intento na jornada. Logo se alista no exército de cavalaria como cadete, para levar a vida de um oficial da nobreza. Mas a decisão acaba sendo frustrante para quem aspirava seguir caminho o oposto ao da guerra. Afinal, os russos, junto aos cossacos, combatiam os montanheses pelo domínio da região.
Em vias de concluir seu primeiro livro, “Infância” (1852), Tolstói observa o Cáucaso daqueles dias e escreve rotineiramente em seu diário. As anotações sobre a paisagem e os moradores locais vão ser aproveitadas no futuro ao recriar o que viu na obra “Os Cossacos” (1863).
Fonte Gazeta Russa
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