Em MG, preso é transferido para cursar educação física em federal
Carlos Eduardo Cherem
Do UOL, em Belo Horizonte
Bruno de Oliveira Reis, 32, espera "com ansiedade" sua transferência de Muriaé (316 Km de Belo Horizonte) para Visçosa (226 Km da capital mineira). Presidiário, Bruno vai de uma penitenciária para a outra para começar a graduação de educação física na UFV (Universidade Federal de Viçosa). Suas aulas começam dia 13 de maio.
Para frequentar as aulas, Bruno vai ter escolta policial já que está preso em regime fechado. Sua pena é de nove anos e oito meses de prisão, por receptação e furto qualificado. Com a graduação, ele terá a chance de reduzir sua tempo na prisão - a cada 12 horas de estudo, a pena é reduzida em um dia.
"Sempre tive o incentivo dos meus pais, que são professores de ensino superior", conta o calouro da UFV. "Tive o apoio da família, independente do meu erro. Meus pais ficaram muito felizes com a minha conquista."
Há 54 presidiários fazendo curso superior no Estado de Minas.
Estudava quatro horas por dia
"Durante três meses, entre setembro e dezembro do ano passado, estudei cerca de quatro horas por dia. Fiquei oito anos afastado dos estudos e tive a oportunidade de voltar a estudar", conta.
Sobre a relação com os novos colegas de faculdade, Reis acredita que não terá dificuldades em manter uma boa convivência.
"Não acredito que o preconceito vá me atrapalhar, caso exista algum. Vou me empenhar bastante para aproveitar o máximo esta oportunidade. Fiquei realizado e certo do meu potencial. A tendência agora é progredir. Dar aula de educação física e trabalhar numa faculdade. Futuramente, quem sabe, posso até montar uma academia".
Quando foi preso, em setembro de 2012, Reis não tinha terminado o ensino médio. Longe dos livros e cadernos por oito anos, prestou o Enem Prisional, junto com 3.141 presos de 95 penitenciárias de Minas Gerais. Teve média de 666,40.
Na unidade em que ele cumpre pena, outros 32 presos fizeram tentaram vagas pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada).
Movimento do bem
Cerca de 30% dos 20 mil presos de Minas Gerais, com condenação definitiva, estudam. Espalhados por 71 escolas de alfabetização, do fundamental e do ensino médio, esses seis mil detentos frequentam cursos com carga horária e conteúdo das disciplinas idênticos aos mantidos na rede de escolas estaduais.
"O preso precisa sair melhor do que entrou. É essa a meta, que inclui estudo e trabalho", afirma diz o superintendente de Atendimento ao Preso da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, Helil Bruzadelli.
Atualmente, 400 empresas estão dentro dos presídios mineiros ou contratam detentos para serviços externos. Para cada três dias de oito horas de trabalho, os presos têm um dia de redução nas penas. Com registro na Carteira de Trabalho, recebem por mês três quartos de salário mínimo. Cerca de 300 detentos trabalharam durante dois anos nas obras de reforma do Mineirão para a Copa do Mundo 2014, reinaugurado no início de 2013. Segundo Bruzadelli, com isso, conseguiram em média a diminuição de 240 dias nas penas que têm de cumprir. "É um movimento do bem. Trabalhamos a cidadania"
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