Chilenos lembram 40 anos do golpe e criticam pedidos de perdão
Michele Bachelet se emocionou durante visita a antigo centro de tortura/ Foto: Efe |
do sitio Portal Vermelho
Na véspera dos 40 anos do golpe de Estado que destituiu o governo socialista de Salvador Allende, a ex-presidenta e candidata favorita nas eleições de novembro, Michelle Bachelet, visitou o lugar onde ela e a mãe, Ângela Jeria, foram torturadas após o golpe de Estado que também matou seu pai, um general da Força Aérea que se opôs ao golpe e morreu na prisão em março de 1974. Em todo o país estão sendo realizados diversos atos para lembrar a data.
Durante ato realizado para marcar o aniversário do golpe, Bachelet se emocionou e, no final, deixou um cravo vermelho no chamado Muro dos Nomes. Nesse muro, sob o verso de Mario Benedetti - "O esquecimento está cheio de memória" -, estão gravados os nomes dos prisioneiros executados e desaparecidos no lugar, denominado "Quartel Terranova" pela polícia secreta da ditadura.
Na segunda-feira (9), foi realizado um grande ato, composto por mais de 40 mil pessoas que marcharam para lembrar o 11 de setembro. Na ocasião, o presidente do Partido Comunista do Chile, Guillermo Teillier, ressaltou que "a verdade e a justiça são indispensáveis, especialmente porque ainda há famílias que não conhecem o destino de seus entes queridos que foram executados e desapareceram por obra dos militares". Ele acrescentou que "o caráter massivo desta marcha mostra que o povo não esquece suas vítimas e heróis, reivindica Salvador Allende e manifesta a esperança de um Chile justo e democrático".
Em seu elogiado discurso, Michele Bachelet lembrou que “nesta manhã nós somos muito mais do que parece. Somos uma multidão, porque celebra conosco, abraçados a nós, todos os que lembram, todos os que amam, todos os que não partiram ou não partirão jamais”.
“Este exercício de verdade e de reconhecimento não é um exercício de auto-piedade ou vitimização. É o exercício de um país que enfrenta ‘cara a cara’, o horror do passado. Conhecer a verdade é a condição de qualquer relato de presente e de futuro como uma nação. Hoje, o Chile é capaz de olhar nos olhos de seu passado, reconhecendo as responsabilidades e condenando a violência do Estado que vivemos como povo”. A candidata reiterou ainda que este exercício não pode estar desprovido das “condições básicas de reconciliação de um povo” que são “a verdade e a justiça”.
Milhares de pessoas com fotografias de desaparecidos marcharam este domingo (8) em memória ao golpe/ Foto: Efe |
Com um gabinete que conta com três ex-colaboradores ou simpatizantes da ditadura, o presidente Sebastian Piñera argumentou que "a responsabilidade [pelos atos da ditadura] se estende àqueles que exerceram altos cargos nas Forças Armadas ou que, por sua influência na época, e sabendo desses fatos, poderiam levantar a voz para evitar abusos".
Perdão para quem?
A respeito do movimento feito por setores da direita e inclusive por representantes do poder judicial, que pediram perdão, nas últimas semanas, pelos abusos da ditadura, a presidenta do grupo de Familiares de Presos Desaparecidos, Lorena Pizarro, observou que “O perdão não significa impunidade, os pedidos de perdão são desprovidos de conteúdo, porque ninguém pediu para acabar com o pacto de silêncio, ninguém disse que deve haver verdade e justiça, porque ninguém disse onde estão os desaparecidos, quem são os soldados e civis envolvidos com esses crimes".
Para Mireya Garcia, militante dos direitos humanos, "os pedidos de perdão não têm nenhum sentido porque são abstratos, porque não têm conteúdo, porque não há uma análise e porque não há uma proposta para que justifique pedir perdão".
Sobre a questão, Guillermo Teillier afirmou ainda que "precisamos saber o que aconteceu com os desaparecidos e executados, e quem são os responsáveis por esses crimes, porque para que alguém peça perdão é preciso dizer por que pede perdão e deve haver um arrependimento e isso deve ser acompanhado pela verdade. Podemos aprovar que alguém peça perdão e oxalá isso contribua para a reconciliação, mas isso deve ser acompanhado pelo reconhecimento do fato e do arrependimento que leva a colaborar com a justiça, com a verdade".
Veja a íntegra do discurso de Bachelet:
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