O engenhoso Nietzsche
por Walter Sarça, arcano zero.
Nietzsche, o engenhoso Nietzsche. O falacioso Nietzsche. Homem contra o seu tempo, contra a cultura moderna e contra o cristianismo. O livre pensador que jamais se sujeitaria à igreja, e que devido às suas opiniões pode ter sido considerado um anticristo, embora, a meu ver tenha sido um dos filósofos a revelar, nas entrelinhas, a anatomia do cristianismo. Nietzsche, para quem a música é a maior virtude. Para quem Schopenhauer, Richard Wagner e Bizet seriam os grandes gênios das luzes. Para quem as artes são a medida da riqueza de sentimentos. Para quem a mulher perfeita é algo mais raro que o homem perfeito. E que por suas afirmações foi considerado machista. É de sua autoria frases como: “Vai ter com uma mulher? Não te esqueças do chicote” e “O homem será preparado para a guerra e a mulher para o passatempo do guerreiro. O mais é loucura”. Apesar de reconhecer na mulher a capacidade de ser cruel, enquanto o homem chega, no máximo, a ser mal. E nessa ideia está a sua queda.
O filosofo que não se curvaria, homem duro, que não queria ser servido - e sobretudo assumindo uma vida para além do bem e do mal - ao supor a morte de Deus, causou no ocidente um estilhaçar de ideias, digamos que, uma mudança de paradigmas. O precursor da modernidade, aquele que viveu sozinho, não o fez por que preferiu, mas por ter sido rejeitado.
Lou Andreas (1861 – 1937), uma intelectual alemã, nascida na Rússia, foi uma mulher bela e sedutora que quebrou as regras em seu tempo. Escandalizou a sociedade e mesmo a intelligentsia devido às suas ideias e comportamento. Ela dizia para “não se adequar a modelos, nem querer ser modelo para ninguém. Que a vida lhe dará poucos presentes, e se você quiser uma vida, aprenda a rouba-la”. Abandonou o poeta Rainer Maria Rilke por se sentir entediada; colocou o Sigmund Freud no divã; teve um triangulo amoroso com Nietzsche e Paul Rée, entre outras aventuras com personalidades da época.
Fez joguete do “super-homem” Nietzsche, o abandonado, enquanto ele, o livre espírito, queria se casa com ela. O filosofo, por sua vez, em um lugar escuro no terreno dos sentimentos, apesar de não acreditar em Deus, viu o seu inferno, e, estranho, devido ao nobre sentimento chamado amor. Mostra assim, que a filosofia e os conceitos caem por terra quando cedem a uma dor profunda, como uma coceira que de tanto ser coçada, vira ferida. Talvez não tenha sido Lou a grande e terrível destruidora de Nietzsche, mas ele mesmo. Penso que as atitudes dela tenham sido apenas uma faísca, embora das mais importantes, que fez estourar por dentro, não o pensador, mas o homem, que mais tarde viria a ser o grande doente, o louco, o poeta. E assim, matando-o ela lhe deu vida.
Homem frio e intocável nos escritos; comum e frágil no cotidiano. Um alvo, que ao tentar se desviar de um carro, foi atropelado por ele, um carro não necessariamente feminista, mas o amor por uma mulher Livre.
Walter Sarça, arcano zero.
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