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Professor Zé Antonio com Edvaldo Santana |
O Professor Zé Antonio, Coordenador da Regional de Ensino do Gama, prestigia o show " Nós - o Gama Canta - 25 anos Depois"
Do Gama
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
A noite gelada deste sábado (14) foi aquecida pela boa música de artistas como Edvaldo Santana, principal atração do show "Nós - o Gama Canta - 25 anos depois".
Produzido por Jairo Mendonça e com o apoio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal e da Administração do Gama, o evento foi um tributo a Carlinhos Piauí, Márcio Vieites e Thelma Fonseca, ícones da cultura gamense.
Realizado no Corêto da Praça do Cine Itapuã, projetado por Oscar Niemeyer, o show reuniu importantes nomes da música como Cleisson Batah, Júnior Johns, Cálida Essência, além de Jairo Mendonça, Júnior Canhoto, Fábio Nollasko e Edvaldo Santana, que veio ao Gama pela quarta vez.
Completamente descontraído o Professor Zé Antonio recebeu os cumprimentos do Artista Plástico Mário Salluz, do cineasta Walter Sarça e de tantas outras igualmente importantes pessoas como Jorge Ghezo, Olímpio Lourenço e Paulo Avelino.
Sobre o novo CD de Edvaldo Santana
Além de participar do show Edvaldo Santana aproveitou para divulgar seu mais recente trabalho, o CD Jataí.
Sobre esse trabalho, transcrevo abaixo o artigo do escritor Ademir Assunssão sobre a genialidade de Edvaldo:
"Jataí: o novo disco de Edvaldo Santana é de uma beleza que dá vontade de chorar. Fazia tempo que eu não ouvia tanto um disco. Ouvir até furar, até riscar o disco, até estragar a agulha – como se dizia nos velhos tempos dos vinis. Parece que Edvaldo conseguiu sintetizar todas as suas raízes e antenas. É um disco mameluco, cafuso, mulato, preto-velho, índio-sábio, negro-blues, popular até a medula. É a síntese do Brasil. Aqueles momentos raros que um artista consegue dizer quase tudo. Com beleza. Com contundência. Mas uma contundência que vai entrando pelos ouvidos e se espraiando pelas veias, entrando na corrente sanguínea. Escute: Edvaldo está dizendo verdades em seus poemas cantados. Verdades cristalinas.
Com uma sonoridade belíssima (não há outro adjetivo para traduzir esse disco). Com suas fusões de blues com baião, de samba com balada, de xote com rock’n’roll, com gaitas e pianos que dão vontade de botar o pé na estrada para ouvir e conversar com os malucos iluminados que zanzam pelas esquinas desse mundo. É daqueles discos que se ouve uma vez e já se impressiona.
E a cada audição vão surgindo novas camadas, novas percepções, novos significados. Eu fico ouvindo esse disco e pensando no grande país que o Brasil poderia ser e que consegue desperdiçar incrivelmente as chances. Quando digo “grande país” não estou falando em oitava economia do mundo, em carros do ano parados no trânsito, em torres de luxo deformando os bairros, em ilusões para novos ricos, nem tão ricos assim.
Estou falando de um país onde borbulhe inteligência, criatividade, generosidade, alegria de viver, compreensão de que a vida é mais, muito mais, do que a ganância insana pelo dinheiro.
Edvaldo vem da periferia desse Brasil e traz a música e os poemas mais sábios, simples e elaborados que ouvi nos últimos tempos. Mais sentidos na pele, no corpo, nas veias, no sangue. Não tenho palavras para traduzir o que esse disco significa.
Viva Edvaldo. Viva Luiz Waack, produtor de altíssima competência e sensibilidade. Viva os músicos que emprestam suas habilidades. Jataí é o disco do ano. É o disco da década. É um disco que já está na história da música e da cultura brasileira. Do mundo. É um disco que está nas nossas vidas. Na minha e na sua, mesmo que você o desconheça. Jataí. Jataqui. Jatalá.
Da próxima vez que alguém vier me dizer que não está acontecendo nada na música brasileira eu vou sacar esse disco e dizer simplesmente: então, escuta aí, meu irmãozinho. Tire seu aparelho de surdez e escuta. E vou até o boteco mais próximo festejar a existência rara dessa música e dessa poesia."

A jornalista Teresa Albuquerque, do Correio Braziliense, publicou uma matéria sobre o disco de Edvaldo Santana, Jataí. Confira:
"Parceiro de poetas como Leminski, cantor Edvaldo Santana lança o sétimo CD.
Teresa Albuquerque - Correio Brasiliense
Edvaldo Santana é camarada de Tom Zé e Arnaldo Antunes. Assim como foi de Paulo Leminski, Haroldo de Campos e Itamar Assumpção (só para citar seus parceiros mais famosos). Cantor e compositor paulistano que há 35 anos leva a carreira em esquema independente, ele está lançando seu sétimo disco solo, Jataí, o primeiro em que assina todas as faixas sozinho. Achava que as letras chamavam a atenção porque eram escritas pelos parceiros? Que nada. As letras do novo CD (que vem com bela capa do artista Elifas Andreato) são muito boas. E as "alquimias", como ele chama as misturas que faz — de blues, reggae, baião, xote, música cubana e o que mais vier à cabeça — continuam lá, assim como a voz rouca, ainda que em tom mais suave.
"Jataí tem uma sonoridade diferente dos outros discos que lancei. É semiacústico, mais baseado no meu violão. E a voz não está tão alta, dei uma suavizada", compara o cantor. "Continuo compondo com parceiros, claro. Mas, às vezes, as parcerias não batem com o momento que estou vivendo e acabam entrando em outro disco. Desta vez, quis gravar coisas bem minhas. Jataí tem muito do que estou pensando, do que estou sentindo."
Das 13 faixas, 12 foram compostas nos últimos dois anos. E quatro são homenagens. Aí Joe, que cita o Bloomsday (a celebração de Ulysses, o clássico de James Joyce), no Finnegan's Pub, em São Paulo, é dedicada a Waldir Aguiar, "empresário, agente, produtor, faz-tudo, grande camarada", morto há um ano e meio. Outras duas foram feitas para amigos de Itu (SP), onde o cantor vive atualmente: A poda da rosa, para o jardineiro Valdemar; e Seu Ico, para o poceiro que Edvaldo descobriu ser um ótimo tocador de viola. Foi ele, aliás, quem produziu o primeiro álbum de Seu Ico, aos 65 anos (o violeiro já lançou três). Já Eva Maria dos Anjos, a sexta música do CD, gravada com a participação da cantora Fabiana Cozza, leva o nome da avó paterna.
Filho de pai piauiense e mãe pernambucana, nascido e criado em São Miguel Paulista, um bairro de nordestinos na Zona Leste de São Paulo, Edvaldo Santana conheceu a avó quando tinha 6 anos. "Meu pai era um operário ligado a movimentos políticos e, como a situação não estava boa aqui, ele levou a gente para o Piauí. Mas o sertão estava brabo também. E minha avó ajudou muito a gente", conta ele, o mais velho dos oito filhos, que na letra de Eva Maria dos Anjos diz ter uma foto da avó, "cabocla tupi", mas na verdade nem tem. "É liberdade de criação do poeta, me lembro dela vagamente", ele ri.
Em movimento
Simpático, bom de bola e sempre na ativa ("quem se movimenta recebe, quem se desloca tem preferência", gosta de dizer), Edvaldo começou a trabalhar aos 12 anos e, aos 20, já tinha a música como profissão. Com sua primeira banda, a Caaxió (depois rebatizada de Matéria Prima), chegou a ter 10 músicas censuradas num show no Teatro de Arena, em 1974. Ligado a movimentos universitários, viajou Brasil afora, acompanhou as primeiras ocupações do que viria a ser o Movimento dos Sem Terra (Piá, a única antiga do novo disco, é dessa época, foi composta à beira de um rio em Ponta Grossa, no Paraná). "Sempre fui envolvido com esse lado social, porque venho do povo, das dificuldades", justifica.
A voz rasgada (ele tem calo nas cordas vocais) lhe rendeu dois apelidos: Pato Rouco e Tom Waits da Pauliceia (ele ri dos dois). Também o aproximou um pouco mais do blues, marcante em seu trabalho desde o primeiro disco solo (Lobo solitário, de 1993). "Na verdade, o blues veio mais pela ligação com os renegados, e isso tem a ver tanto com os negros americanos quanto com o povo nordestino", comenta. "Se pegar o que Luiz Gonzaga canta — A volta da Asa Branca, por exemplo — e diminuir o beat, deixar mais lento, você vai ter a linha de blues, até harmonicamente."
Edvaldo cresceu ouvindo Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Pixinguinha, Waldir Azevedo e toda aquela diversidade musical dos programas de televisão dos anos 1960 e 1970 (Wilson Simonal, Elis Regina, Roberto Carlos, os festivais etc). Na lista de influências, também entram Jimi Hendrix, Janis Joplin, Carlos Santana, Raul Seixas, os tropicalistas, Bob Marley… E, claro, seus parceiros famosos, como Tom Zé, Leminski e Arnaldo Antunes, com quem teve "experiências fantásticas".
Aos 56 anos (o aniversário é em 17 de agosto), o alquimista segue circulando (a turnê de Jataí começa em setembro e ele sonha tocar um dia em Brasília), compondo sem parar. "É meu grande trunfo. Porque a gente pode não ter dinheiro, mas se tem arte, está bom, né?"
JATAÍ
Sétimo disco solo de Edvaldo Santana. Lançamento independente, com distribuição da Tratore, 13 faixas. Preço médio: R$ 20. **** "
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