6 de mai. de 2018

A representação parlamentar tem que ser legítima

Rapper MV Bill participou de debater no FestiPOA na manhã desta quinta (3) | Foto: Joana Berwanger/Sul21
MV Bill: ‘Quando não há representatividade, depositamos as esperanças em quem não vive os problemas’

Uma das principais atrações da 11ª FestiPoa Literária, o rapper e escritor MV Bill participou na manhã desta quinta-feira (3), no Salão de Atos da UFGRS, de um painel do rapper gaúcho Rafa Rafuagi. A pauta, porém, era a política, a necessidade de representatividade e de as centenas de jovens que lotaram o local, muitos deles ainda secundaristas vindos em excursões, ocuparem mais espaços e não deixarem para membros de outros setores da sociedade os representarem em governos e parlamentos.

Nascido Alex Pereira Barbosa no Rio de Janeiro, em 1974, MV Bill ganhou notoriedade nacional pelas suas letras calcadas em temas sociais no final dos anos 1990. Paralelamente, na década seguinte, desenvolveu uma carreira de escritor, sendo autor e co-autor de livros como “Cabeça de Porco” e “Falcão – Meninos do Tráfico” (oriundo de um documentário de mesmo nome), obras que muitos dos presentes na fila para autógrafos e fotos que se formou ao final do evento levaram para que ele assinasse.

Em uma rápida conversa após passar quase uma hora posando para fotos com fãs, MV Bill se disse feliz de participar de um debate em uma feira literária com uma plateia composta majoritariamente por jovens negros e negras e poder falar um pouco sobre a importância da participação política para essa nova geração. “Eu acho que é muito simbólico a gente estar aqui nesse teatro, dentro de uma feira literária, acho que a ocupação de espaços é uma forma de ultrapassar as barreiras que às vezes a música, o hip hop e a arte impõem, e partir para um outro campo, que é o campo do encontro com quem consome aquilo que a gente produz. Acho muito bom falar para uma geração que é quem vai começar a votar, falar para eles da importância do voto, mas também de se colocarem à disposição da política partidária, para que de alguma forma se auto-representem e a gente não precise mais de uma representação de fora”, disse MV Bill.
Fala de MV Bill atraiu excursões de alunos secundaristas | Foto: Joana Berwanger/Sul21

O músico e escritor defendeu que é preciso renovar os quadros políticos, mas que essa renovação precisa trazer novos grupos sociais para os parlamentos e governos, não apenas substituir velhos conhecidos dos eleitores por mais jovens, com os mesmos sobrenomes. “A gente já passou há muito tempo da fase de continuar depositando a esperança em quem reproduz esse modelo falido de política. A gente tem mais de 30 partidos no Brasil, parece muito e é muito em quantidade, mas se você for ver nos afazeres, é mais do mesmo. Quando a gente não tem representatividade para homossexuais, para lésbicas, para as pessoas pretas, para os brancos pobres, para os indígenas, a gente tem que depositar a nossa esperança em quem não vive o problema. Acho que o problema está muito mais próximo de ser solucionado se quem estiver assinando essa pasta for uma pessoa de baixo”, afirmou. “A gente quer outras pessoas. Se elas vão acertar, é uma grande incógnita, mas eu apostaria nisso”.

Perguntado sobre a razão para ainda haver uma grande falta de representatividade da população negra na política — apenas 22 dos 513 parlamentares eleitos para a Câmara em 2014 se declaravam negros, 4,3% do total, e outros 15,8% se declararam pardos –, o rapper considerou que uma das barreiras é que muitas pessoas não querem se envolver com a “sujeira” da política. “É um grande desafio botar mais pessoas do povo dentro da política, porque as pessoas que têm algum tipo de aptidão ou que têm vontade de fazer têm medo de com quem tem que se envolver. O sistema e a estrutura política são preparados para a corrupção, para o errado, para o governar somente para os mais ricos, e os pobres ficam cada vez mais esquecidos”, disse.

Questionado se ele próprio não pensava em participar da política, MV Bill disse que essa possibilidade, por enquanto, não está nos seus planos, pois prefere focar na mobilização social e em incentivar uma maior participação na política a partir da conscientização de que é só com isso que as condições de vida podem ser melhoradas.
Foto: Joana Berwanger/Sul21


Foto: Joana Berwanger/Sul21
fonte Sul 21 

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