81 anos da Morte de Trotsky
Por Juan Ricthelly
Hoje é o aniversário de 80 anos da morte de Trotsky, um homem que marcou o século XX, com suas ideias, ações e principalmente com o seu exemplo, sua voz ainda ecoa em muitas mentes e corações, algumas de suas profecias se cumpriram, outras não.
Foi um personagem decisivo da Revolução de Outubro, da Guerra Civil e criador do Exército Vermelho, deixou escritos sobre política, história, filosofia, arte… E chegou a ser reconhecido por Lênin como o mais capaz para sucedê-lo no comando da URSS.
Na disputa pela sucessão de Lênin, foi derrotado pela sagacidade de Stálin, que possuía o domínio da máquina partidária e não hesitava em recorrer à métodos desleais para vencer.
Foi expulso do Politburo, do Partido e da própria União Soviética, perdeu a nacionalidade se convertendo num homem sem pátria, teve pedidos de asilo recusado por vários países, e vagou como exilado por Turquia, França, Noruega e finalmente o México, onde foi assassinado em 1940.
Sua família foi destruída, viu parentes, amigos e simpatizantes serem perseguidos pelo stalinismo, uma de suas filhas morreu de tuberculose, a outra se suicidou, um de seus filhos, cientista, que não se envolvia com política desapareceu, o outro que era o seu braço direito, morreu de forma muito suspeita na França.
Viveu seus últimos anos defendendo o seu legado e a sua história das calúnias e absurdos sem nenhum lastro fático, que tentaram apagar a sua importância e apresentá-lo como um traidor da revolução, que nunca foi.
Tenho Trotsky como uma das minhas principais referências políticas, e tenho dedicado algum tempo estudando suas ideias e a sua história.
Os seus erros e acertos fazem parte da herança dos idealistas que ainda acreditam na materialização da utopia que nos move, nos mantém vivos e cheios de esperança, de que algum dia nós iremos construir um mundo melhor.
Segue o seu testamento, escrito alguns meses antes de sua morte.
"Minha pressão sanguínea elevada (e que continua a elevar-se) engana àqueles que me são próximos sobre minhas reais condições físicas. Estou ativo e capaz de trabalhar, mas o fim está evidentemente próximo. Estas linhas serão tornadas públicas após minha morte.
Não preciso mais uma vez refutar aqui a calúnia vil de Stalin e seus agentes: não há uma só mancha sobre minha honra revolucionária. Não entrei, nem direta nem indiretamente, em nenhum acordo, ou mesmo em nenhuma negociação de bastidores, com os inimigos da classe operária. Milhares de adversários de Stalin tombaram, vítimas de falsas acusações. As novas gerações revolucionárias reabilitarão sua honra política e tratarão seus carrascos do Kremlin como eles merecem.
Agradeço ardentemente aos amigos que se mantiveram leais através das horas mais difíceis de minha vida. Não cito nenhum em particular, porque não os posso citar todos.
Apesar disso, considero-me no direito de fazer exceção para o caso de minha companheira, Natália Ivanovna Sedova. Além da felicidade de ser um combatente da causa do socialismo, quis a sorte me reservar a felicidade de ser seu esposo. Durante quarenta anos de vida comum, ela permaneceu uma fonte inesgotável de amor, magnanimidade e ternura. Sofreu grandes dores, principalmente no último período de nossas vidas. Encontro algum conforto no fato de que ela conheceu também dias de felicidade.
Nos quarenta e três anos de minha vida consciente, permaneci um revolucionário; durante quarenta e dois destes, combati sob a bandeira do marxismo. Se tivesse que recomeçar, procuraria evidentemente evitar este ou aquele erro, mas o curso principal de minha vida permaneceria imutável. Morro revolucionário proletário, marxista, partidário do materialismo dialético e, por consequência, ateu irredutível. Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude.
Natascha acabou de chegar pelo pátio até a janela e abriu-a completamente para que o ar possa entrar mais livremente em meu quarto. Posso ver a larga faixa de verde sob o muro, sobre ele o claro céu azul, e por todos os lados, a luz solar. A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente.
Leon Trotsky
Coyoacán, 27 de fevereiro de 1940."
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