"Operação Impensável": Em 1945 os 'aliados' já tinham planos secretos contra a Rússia soviética
No final de maio de 1945 Josef Stálin ordenou que o Marechal Georgy Zhukov deixasse a Alemanha e viesse a Moscou. Stálin estava preocupado com as ações dos aliados britânicos.
Stálin observara que as forças soviéticas desarmavam os alemães e os enviavam a campos de prisioneiros; mas os britânicos, não. Em vez de desarmar e prender os alemães, os britânicos estavam cooperando com eles e lhes permitiam manter a capacidade de combate. Para Stálin, a única explicação para esse comportamento era que os britânicos planejassem usar depois aqueles soldados alemães.
por Yuriy Rubtsov
pravda.ru
Stálin sabia que a atitude dos britânicos era flagrante violação do acordo entre governos, segundo os quais tropas que se rendessem tinham de ser desarmadas e imediatamente desmontadas.
A inteligência soviética pôs as mãos (e os olhos) no telegrama secreto que Winston Churchill enviara ao marechal-de-campo Bernard Montgomery, comandante das forças britânicas. O telegrama ordenava que Montgomery recolhesse as armas e as conservasse disponíveis para serem devolvidas aos alemães, caso a ofensiva soviética continuasse.
Seguindo instruções de Stálin, Zhukov condenou duramente as atividades dos britânico no Conselho de Comando dos Aliados (União Soviética, EUA, Reino Unido e França). Disse que a história registrava poucos exemplos de tamanha traição e descaso com compromissos assumidos entre nações que tinham, ou se haviam comprometido a ter, status de aliadas. Montgomery rejeitou a acusação. Poucos anos depois admitiu que recebera ordens para fazer exatamente o que Zhukov acusara os ingleses de terem feito e que as executara. Como soldado, não tivera alternativa.
Disputava-se batalha feroz nos arredores de Berlim. Dessa vez, Winston Churchill disse que a Rússia Soviética convertera-se em ameaça mortal para o mundo livre. O primeiro-ministro britânico queria que se criasse um novo front no leste, imediatamente, para conter a ofensiva soviética. Churchill vivia obcecado pela ideia de que, depois de derrotado o exército nazista alemão, a União Soviética já surgia como nova ameaça.
Essa é a razão pela qual Londes quis que Berlim fosse tomada por forças anglo-norte-americanas. Churchill quis também que os norte-americanos libertassem a Checoslováquia e Praga com a Áustria controlada pelos aliados, todos sob as mesmas condições.
Já em abril de 1945, Churchill dera instruções para que o Grupo de Planejamento Conjunto das Forças Armadas Britânicas planejasse a Operação Impensável [orig. Operation Unthinkable], nome de código de dois planos relacionados de um conflito entre os aliados ocidentais e a União Soviética. Os generais receberam ordens para traçar meios para "impor à Rússia a vontade dos EUA e do Império Britânico". A data hipotética marcada para o início da invasão, pelos aliados, da Europa hipoteticamente tomada pelos soviéticos, seria 1º de julho de 1945. Nos últimos dias da guerra contra a Alemanha de Hitler, Londres deu início a preparativos para apunhalar a União Soviética pelas costas.
O plano previa guerra total para ocupar as partes da União Soviética que tiveram significado crucial para o esforço de guerra, e assestar assim golpe decisivo, que tiraria das forças armadas soviéticas a capacidade para defender-se.
O plano incluiu a possibilidade de as forças soviéticas recuarem com profundidade para dentro do próprio território, tática que já havia sido usada em guerras anteriores.
O Alto Comando Britânico considerou esse plano militarmente irrealizável, porque as forças soviéticas superavam as forças aliadas na proporção de três para um - na Europa e no Oriente Médio, onde o plano previa que se travassem os combates. As unidades alemãs entravam nessa conta como tentativa de equilibrar a correlação de forças: por isso Churchill tanto precisava de que os prisioneiros alemães continuassem em prontidão para combater.
O Gabinete de Guerra concluiu:
"O Exército Russo desenvolveu um Alto Comando capaz e muito experiente. O exército é incomensuravelmente mais forte, vive e se movimenta em escala muito mais leve de manutenção que qualquer exército ocidental, e usa táticas firmes, baseadas sobretudo na pouca importância atribuída às baixas, para alcançar o objetivo. O equipamento foi rapidamente aprimorado durante a guerra e hoje é bom. Sabe-se o suficiente sobre esse desenvolvimento, para dizer que com certeza absoluta o exército soviético não é inferior aos das grandes potências. A facilidade que os russos mostraram para desenvolver e aprimorar equipamento e armas existentes, e para produzi-los em massa foi realmente muito impressionante. Já se sabe até que houve casos de os alemães terem copiado traços básicos de armamento russo."
Os planejadores britânicos chegaram a conclusões pessimistas. Disseram que qualquer ataque seria "imprevisível" e que a campanha seja "longa e cara". Na verdade, o relatório dizia "Se vamos iniciar guerra contra a Rússia, temos de estar preparados para guerra total, que seria longa e cara". A superioridade numérica das forças do campo soviético deixavam poucas possibilidades de sucesso.
A avaliação, assinada pelo Comandante do Estado-maior das Forças Conjuntas, dia 9/6/1945 - na próxima 4ª-feira serão 70 anos! - concluía:
"Estaria além de nossas capacidades alcançar sucesso rápido, mas sempre limitado, e estaríamos comprometidos em guerra longa, contra todas as probabilidades de sucesso. E essas probabilidades convertem-se em pura fantasia, se os americanos cansarem, ficarem indiferentes e deixarem-se arrastar pelo ímã da guerra no Pacífico."
O primeiro-ministro recebeu rascunho do plano dia 8 de junho. Por mais que o enfurecesse, Churchill teve de se conformar, ante a evidente superioridade do Exército Vermelho. Mesmo com a bomba atômica já incluída no inventário militar dos EUA, o novo presidente dos EUA Harry Truman também teve de aceitar o argumento e a conclusão.
Na sequência, em reunião com o ministro de Relações Exteriores da URSS Vyacheslav Molotov, Truman pegou o touro pelos chifres. Fez ameaça mal disfarçada de que se poderiam aplicar sanções econômicas contra a União Soviética. Dia 8 de maio, o presidente dos EUA ordenou que se reduzissem significativamente, sem qualquer notificação prévia, a venda e a entrega de suprimentos. Chegou a ponto de fazer retornar às bases nos EUA, todos os navios norte-americanos que já estavam a caminho da URSS.
Algum tempo passou, e a ordem foi cancelada, ou a URSS não entraria na guerra contra o Japão, algo de que os EUA muito precisavam. Mas as relações bilaterais haviam sido feridas para sempre.
O memorando assinado pelo secretário de Estado em exercício Joseph Grew dia 19 de maio de 1945, dizia que a guerra contra a URSS era inevitável. Ordenava 'endurecer posições' nos contatos com a URSS. Segundo Grew, recomendava-se iniciar imediatamente os combates, antes que a URSS conseguisse recuperar-se da guerra e restaurar seu vastíssimo potencial militar, econômico e territorial.
Os militares receberam impulso dos políticos. Em agosto de 1945 (a guerra contra o Japão ainda não terminara), o mapa dos alvos estratégicos dentro da URSS e Mandchúria foi apresentado ao general L. Groves, chefe do programa nuclear dos EUA. O plano indicava 15 das maiores cidades da URSS: Moscou, Baku, Novosibirsk, Gorky, Sverdlovsk, Chelyabinsk, Omsk, Kuibyshev, Kazan, Saratov, Molotov (Perm), Magnitogorsk, Grozny, Stalinsk (provavelmente, Stalino - a atual Donetsk) e Nizhny Tagil. Cada alvo vinha acompanhado de descrições: geografia, potencial industrial e alvos a atingir primeiro. Washington abriu novo front: dessa vez, contra seu aliado.
Londres e Washington imediatamente esqueceram que haviam combatido lado a lado, ombro a ombro, com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Esqueceram também todos os compromissos que haviam assumido nas conferências de Yalta, Potsdam e São Francisco.*****
"Operação Impensável" é o nome de um plano inicial de guerra feito pelo governo britânico em 1945. Tal operação consistia na invasão da então União Soviética por forças militares britânicas, poloneses exilados, americanos, e até alemães recém rendidos. Dada a superioridade do poder militar da União Soviética, os demais 'aliados' optaram por não executar tal operação"
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