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Algumas etnias brasileiras não vão participar dos Jogos Mundiais Indígenas na cidade de Palmas, no Tocantins.
Algumas por decisão da comunidade e outras porque não foram selecionadas. O evento acontece entre os dias 23 de outubro e 1º de novembro e vai reunir 23 povos nacionais e grupos indígenas de outros 22 países. O objetivo é a integração das diferentes populações, assim como o resgate e a celebração dessas culturas tradicionais.
O líder indígena Renato Krahô explica que um conjunto de motivos levou a sua etnia a desistir da competição, entre eles a falta de transparência da organização dos jogos.
Sonora: "As pessoas que estão à frente são muito fechadas das decisões, nas opiniões. Eles não acatam, não dão oportunidade para outras pessoas falarem. Isso acaba interferindo em muitas coisas. Por exemplo, aqui no Tocantins são sete povos indígenas. Foram escolhidos só quatro, que no nosso entender, correto mesmo seria chamar todas as etnias do estado ainda mais por ser estado sede. Nós não sabemos os critérios para selecionar os povos".
Já os representantes da etnia Apinajé divulgaram uma carta em apoio aos Krahô. Antônio Apinajé explicou que o momento não é de comemoração.
Sonora: "A gente sente que não tem clima hoje no país para realizar um jogo como esse, que vai envolver centenas de povos não só do país como de outros países; mobilizar muita gente, sendo que a situação não é boa. Hoje, o país inteiro reclama a situação das terras sem demarcar, demarcações paralisadas; falta de monitoramento e proteção dos territórios. A questão da violência também. Quando as lideranças resolvem manifestar contra estas coisas erradas aí tem a violência contra as lideranças".
Sara Sanchéz, coordenadora do Cimi, Conselho Indigenista Missionário, na região acredita que a postura dos indígenas é condizente com a realidade vivida.
Sonora: "Existem mais de 180 propostas legislativas que tramitam no Congresso Nacional. Estas propostas querem liberar as terras indígenas para o agronegócio, para os grandes empresas, para os grandes projetos de infraestrutura, para os grandes projetos de geração de energia principalmente usina hidrelétrica, e para a mineração. A mais preocupante é a PEC 215, que está em projeto de votação no Congresso Nacional".
A PEC 215 é uma proposta de emenda à Constituição, que transfere do Executivo para o Congresso Nacional a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas, bem como a confirmação ou não das áreas já demarcadas.
Por meio de nota, a Funai afirmou que a decisão de não participar dos jogos ou de qualquer outro evento é autônoma de cada povo. Porém, a instituição reconhece que o atual momento é de graves ameaças aos direitos indígenas; especialmente no que se refere às propostas em curso no Congresso Nacional.
Também por nota, o Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, que organiza o evento, explica que os critérios para seleção dos participantes são os mesmos desde as edições nacionais. São eles: etnia, crenças e conservação dos costumes. O Comitê informa ainda que, no caso das etnias brasileiras, também foi pré-requisito a participação em alguma edição dos Jogos Nacionais, que acontecem desde 1996. Bom comportamento e cumprimento das regras nas edições passadas também contaram como pontuação para conquistar uma vaga nos I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.
Participam como apoiadores dos jogos o Ministério do Esporte, a Prefeitura de Palmas e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
por Michelle Moreira - Repórter do Radiojornalismo / EBC
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