O PMDB e o vice-presidente da República, Michel Temer, tiveram todas as oportunidades para se distanciar do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha.
No dia 20 de agosto, Rodrigo Janot apresentou denúncia ao STF e decretava ali o fim da linha para Cunha.
Por Renato Rovai
Na Revista Fórum
Naquele momento, o PMDB e o vice-presidente da República tinham como sugerir ao aliado que se afastasse da presidência da Casa e aguardasse a investigação. Se agissem dessa forma, não permitiriam que ele passasse a usar seu cargo apenas com o objetivo de se defender. E que ao fazer isso colocasse o país refém de uma questão pessoal, que passava por buscar derrubar Dilma para tentar segurar a Operação Lava Jato.
Ao invés disso, Temer apostou que agora tinha um aliado incondicional e disposto a qualquer coisa por ele. E que a crise institucional poderia lhe presentear com a presidência da República. Feita as contas, atuou para preservar Cunha e utilizá-lo enquanto fosse possível para constranger o governo e a presidenta.
Entre os tantos sinais de Temer a favor de Cunha estão o de nunca ter feito uma declaração colocando em questão a forma como o presidente da Casa agia em relação ao Conselho de Ética. O apoio à manobra que mudou a forma de escolha dos membros da comissão que iria analisar a abertura do processo de impeachment da presidenta. E a destituição do líder do partido Leonardo Picciani (RJ) e a sua substituição por Leonardo Quintão (MG).
Essa última ação, que inclusive tem tido continuidade com a provável antecipação, do Congresso do PMDB com o objetivo de se afastar do governo, foram parte do acordo entre Temer e Cunha.
A operação Temer presidente se desmoraliza completamente com essa ação da PF autorizada pelo Supremo.
O PMDB que planejava se tornar um partido mais forte nessas eleições municipais e ainda herdar a presidência da República, também sai bastante enfraquecido.
Essa operação que tem como principais alvos filiados ao partido, entre eles os ministros dois ministros do partido, Henrique Eduardo Alves e Celso Pansera, podem levá-lo a algo que já se desenhava com o afastamento de Picciani. Um racha só comparado ao que viveu em 1988, quando foi criado o PSDB.
Na semana passada já se iniciavam conversas neste sentido entre lideranças do partido que estavam constrangidas com a ação de Cunha. Isso só tende a crescer se depois deste episódio, Temer e outras lideranças decidirem defendê-lo.
Temer que se comportava como presidente da República na semana passada, a partir dessa ação que torna seu partido o maior alvo da operação Lava Jato se torna do tamanho de Cunha. E terá imensas dificuldades em continuar sendo o grande operador e beneficiário da ação do impeachment de Dilma. Como vinha fazendo nos últimos dias.
Já o governo ganha uma chance. E isso passaria por se livrar do PMDB que lhe chantageia e abrir espaço para outros partidos e para construiu uma nova base. Mas o governo de Dilma vai demorar muito tempo para decidir isso. E como sempre, quando decidir o tempo já será outro. Porque o tempo da política não admite atrasos.
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