Foto Joaquim Dantas |
Desde que começou a tocar nas rádios eu sempre gostei de Roda Viva, canção de Chico Buarque que fez muito sucesso nos anos de chumbo, embora que na época a mensagem do poeta me deixasse confuso quanto ao seu real significado.
por Joaquim Dantas
A canção foi gravada por Chico em 1968, um pouco antes de ser decretado o Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5. Muitos críticos musicais e analistas da época afirmavam que a canção representava um sentimento de impotência em relação aos atos do Governo durante os anos da ditadura militar no Brasil, entretanto, eu sempre tive a impressão que não era só isso.
Passadas mais de três décadas do fim do governo militar, estou convencido que a mensagem ia muito mais além do que a insatisfação com o governo do arbítrio. De uma certa forma, a maioria de nós sempre acreditou que era necessário ter tudo, ou quase tudo. Ter amor, poder, sucesso, beleza, dinheiro e por aí vai.
A contradição nessa crença está exatamente em três verbos: ser, ter e poder. SER necessário pode não ser vital. TER tudo pode não qualificar o que é necessário e PODER, é saber estabelecer a distância entre o que queremos e o que podemos ser...
Roda Viva
Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
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