Foto Julia Nassif/Ignacio Lemus |
Mesmo com os números da reforma agrária difíceis, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ainda faz, com sua Feira Nacional uma amostra do que é feito pelos assentados como forma de prestar contas à sociedade. Num quadro em que há dois anos nenhum novo cadastro para assentar famílias é feito, o MST traz a conquista, obtida com respeito à terra, à diversidade das regiões e fortes na produção sem nenhum tipo de agrotóxico.
João Paulo Rodrigues é taxativo ao dizer que se arrisca a afirmar que esta é a maior feira do Brasil do ponto de vista da diversidade. Ele é dirigente nacional do MST e porta voz nesta edição da Feira que começou nesta quinta-feira, dia 3, e vai até domingo, dia 6, no Parque da Água Branca, na capital paulista. João Paulo informa que lá serão comercializados mais de 1,2 mil itens produzidos em 23 estados e no Distrito Federal, locais onde o movimento se organiza.
O dirigente vai mais longe ao lembrar que o agronegócio é, basicamente, monocultura. São cinco produtos do agronegócio: soja, cana, papel, boi e milho, contra a diversidade do movimento. E o MST, de todo o Brasil, leva 330 toneladas de produtos em 1,2 mil itens diferentes que, por si, falam sobre o que é e a importância da reforma agrária.
Neste momento delicado da vida política brasileira e de ódio crescente aos movimentos sociais, a estratégia do MST é dialogar com a sociedade a partir da sua produção, informar que o fim e a tarefa da reforma agrária é a produção de alimentos saudáveis, é a luta por políticas sociais onde todos tenham as mesmas oportunidades, é o bem estar. Não é guerra que o MST busca, ao contrário, é a pacificação em torno de suas bandeiras e levar a certeza de que este é o caminho certo, já alcançado em outros países.
Sempre bom lembrar que a violência no campo tem como vítimas exatamente o lado dos camponeses, então é bom frisar que o MST não quer a luta, quer a pacificação. Desde o golpe de 2016 foram 106 mortos no campo, todos ligados à luta pela terra, nenhum na luta contra os que lutam contra a terra.
Este cenário de muitas mortes no campo e poucos assentamentos realizados era a realidade em 2003, quando Lula assumiu. Gradativamente o quadro foi mudando, apaziguando mortes e assentando um grande número de famílias. No golpe, o quadro inverteu novamente, onde o clima de crise democrática fez com que houvesse um aumento na onda de ódio contra o MST e seus integrantes.
Hoje a questão é dialogar com a sociedade, mas através da diversidade e qualidade de produtos. E não só, a Feira tem uma programação intensa com seminários e shows, inclusive com a Unidos do Tuiuti se apresentando no último dia. Um verdadeiro encontro do campo com a sociedade.
Sociedade precisa entender que reforma agrária é alimento saudável, não o contrário. Significa uma mudança radical na qualidade de vida. E entender isso é sair da crítica ideológica ao MST e entrar no real papel do movimento na vida das pessoas da cidade.
Já são 1 milhão e 100 mil famílias assentadas. Deste total, 400 mil permanecem na base do MST em 1.226 municípios. O movimento calcula que hoje já são 8 milhões de hectares de terra com produção de alimento saudável em, mais ou menos, 1% do território nacional.
Quando instados a responder sobre a possibilidade de apoiar candidatos para formação de uma bancada da reforma agrária, os dirigentes João Paulo Rodrigues e Débora Nunes são taxativos: eles não representam nenhum partido político, não são base de nenhum partido político, são um movimento social e, como tal, lutam por melhores condições, contra a reforma trabalhista e a reforma da previdência. São a favor de oportunidades para todos, mas não são partido político. Se ligam ideologicamente a alguns partidos, mas não são quadros partidários.
Na programação do evento, shows de artistas como Martinho da Vila, Otto e Ana Cañas, e seminários sobre a agroecologia e o genocídio negro. No sábado é esperada a vista de pré-candidatos à Presidência da República, como Manuela D'Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT).
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