A eleição presidencial de 2018 esteve ganha pela oposição enquanto a única referência dos conservadores era a associação com o monumental desastre de Michel Temer. Hoje, “Michel Temer” virou espantalho a ser inflado e agitado durante a campanha eleitoral. Mas não está claro se o eleitorado votará contra os conservadores por sua conexão ao golpe parlamentar ou se os favorecerá na renovada expectativa de derrotar um candidato, imbatível há quatro disputas, sustentado nuclearmente por PT, PSB, PDT e PC do B. Hoje, dilacerou-se o conjunto quatro vezes vencedor: o Partido dos Trabalhadores, hegemônico, não contará com os votos unânimes dos partidos que sempre o apoiaram e nem mesmo com a totalidade de seu próprio eleitorado. Hoje, a nuvem da política mudou drasticamente de silhueta.
Depois de sucessivas derrotas jurídicas e tímida resposta dos movimentos nas ruas, o PT iniciou o afastamento da realidade com a campanha autodestrutiva de que uma eleição sem Lula seria fraude. Não registrou a indiferença do aparato judiciário e policial às ralas manifestações de adesão nas grandes cidades, adotando o contraditório movimento de negar legitimidade às decisões da justiça e a ela recorrer, confiando no nobre critério de neutralidade dos operadores. Parecia agir na presunção de que ou as críticas contra o judiciário convinha como propaganda ou de que conseguiria persuadi-lo pela força dos argumentos.
As acusações da esquerda contra o Judiciário, contudo, têm granítica procedência. Infrações e arbitrariedades jurídicas fazem parte do consenso que inclui a avassaladora maioria dos partidos políticos, o eficaz mecanismo do sistema globo de informação para iludir a opinião pública, todos os órgãos de representação do capital e, por fim, a maioria do Judiciário, extensamente comprometido com aberrações jurídicas desde o julgamento da Ação Penal 470. E a cláusula pétrea do golpismo consiste em impedir o retorno da centro-esquerda ao circuito de poder político. Não se trata, aqui, de frívolo recurso de retórica partidária, mas refletido juízo sobre a dissimulada conspiração que o caricato impedimento de Dilma Rousseff desnudou.
Depois de reconhecido o vazio das ameaças de que o MST, substituindo a já clara impotência da CUT, ocuparia cidades e praças contra as arbitrariedades de Sergio Moro, a discussão sobre eventual resistência à ordem de prisão elevou os dirigentes petistas a superior patamar de desvario. Em seguida ao que jamais aconteceria, a prisão de Lula, o roteiro delirante aproveitou a solidariedade à indiscutível vítima de perseguição política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convertendo-a, por intimidação, em inaceitável culto à personalidade de um irreconhecível candidato presidencial Lula.
Hoje, há um Lula indulgente com o totalitarismo dos diretores do PT, da CUT, do MST, transtornado em fanatismo em muitos militantes, e candidato que mantém refém grande parte das forças populares. Mais preocupado em derrotar competidores em seu próprio lado do que impedir a vitória da reação. Todos os quadros do PT e partidos próximos, além de personalidades historicamente admiradoras do extraordinário ex-metalúrgico, têm sido apresentados a um enigmático Lula, messiânico e expropriador da vontade autônoma das forças populares. Antes, o destino de Lula se associara ao destino dos pobres; hoje, Lula pretende que o destino das massas se associe ao seu, aprisionado a um combate mesquinho contra um personagem nanico – o juiz Sergio Moro. Os democratas esperam que o preço não seja a vitória da reação, com o encarceramento real da população pobre a seu destino miserável.
por Wanderley Guilherme dos Santos no Segunda Opinião
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