Evangélicos são minoria no poder em Goiás
Márcia Abreu
Via: Jornal Opção
Expressividade na política goiana é mito. Seis evangélicos estão presentes na Assembleia Legislativa, dois na Câmara Federal e dois no Executivo das principais 20 cidades
Fotos:Fernando Leite/Jornal Opção
Evangélicos que exercem mandato como deputados são a força política do segmento
As igrejas, sejam elas evangélicas ou católicas, sempre buscaram se aproximar da política. Elas organizam suas redes de relações para atuar nas campanhas eleitorais, indicando candidatos. Os objetivos são, entre outros, defender bandeiras próprias, participar de decisões, conseguir fundos e obter facilidades em novos empreendimentos. Mas a crença protestante tem crescido muito no Brasil, ao ponto de a participação dos evangélicos na política tornar-se expressiva. Mas não em Goiás. A reportagem fez um levantamento e constatou que, no que diz respeito à presença de evangélicos no poder, a expressividade é pequena.
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e os três senadores goianos — Cyro Miranda (PSDB); Lúcia Vânia (PSDB) e Wilder Morais (DEM) — são católicos. Dos 17 deputados federais, dois foram identificados como evangélicos: Dona Iris (PMDB), que não quis informar a igreja que frequenta, sob argumento de “evitar propaganda”; e João Campos (PSDB), da Assembleia de Deus. Jovair Arantes (PTB), prefeitável em Goiânia, é espírita kardecista. Doze deputados federais por Goiás são católicos e dois não foram encontrados para falar de qual religião são adeptos.
Na Assembleia Legislativa do Estado, dos 41 deputados em exercício, 34 foram ouvidos. Desses, 28 são católicos. São evangélicos Ademir Menezes (PSD); Daniel Messac (PSDB); Fábio Souza (PSDB); Luiz Carlos do Carmo (PMDB); Misael Oliveira (PDT) e Túlio Isac (PSDB). Ademir é da Assembleia de Deus; Fábio, da Fonte da Vida; Misael, da Videira; e Túlio, da Ouvir e Crer.
O levantamento também foi feito no Poder Executivo das 20 principais cidades do Estado. Há dois evangélicos. Raquel Rodrigues (PP), prefeita de Santa Helena – ela não quis revelar a Igreja, disse que “não vem ao caso”; e Edmario Castro Barbosa (PMDB), prefeito de Ceres. Ele frequenta a Presbiteriana do Brasil. Os demais — prefeitos de Goiânia, Aparecida, Anápolis, Trindade, Senador Canedo, Jataí, Rio Verde, Catalão, Itumbiara, Luziânia, Valparaíso, Formosa, Cristalina, Goianésia, Minaçu, Mineiros, Porangatu e Uruaçu — são católicos.
Dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostram que a proporção católica reduziu no País nas últimas duas décadas. A evangélica subiu. Passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010 - 60,0% de origem pentecostal; 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados.
No que se refere à educação, os evangélicos são os grupos com maiores proporções de pessoas a partir de 15 anos sem instrução. Sessenta por cento dos evangélicos pentecostais recebem até um salário mínimo. Os espíritas têm a maior quantidade de religiosos com curso superior completo.
A pouca força dos evangélicos na política goiana também pode ser notada através do cenário eleitoral. O setor está representado graças à candidatura do vereador Simeyson Silveira (PSC). Simeyzon foi um dos vereadores mais bem votados na disputa à Câmara de Goiânia em 2008, mas não tem expressão na Casa. É apagado e discreto. O ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (sem partido), que deixou o PMDB por falta de espaço, é o responsável por sua candidatura. O ex-peemedebista, que também é evangélico, é padrinho de Simeyzon na corrida ao Paço Municipal.
A oposição, composta por partidos do grupo do governador Marconi Perillo (PSDB), não conseguiu lançar um candidato evangélico. O deputado estadual Fábio Sousa, pastor e filho do apóstolo César Augusto, responsável pela Igreja Fonte da Vida, tentou incansavelmente ser candidato, mas não conseguiu. Fábio foi o vereador mais novo por Goiânia. Teve votações expressivas tanto na Câmara quanto na Assembleia Legislativa. Além disso, tem bom trânsito no meio evangélico. É preciso dizer que a igreja administrada por seu pai nasceu em Goiás e se expandiu, chegando a várias cidades brasileiras e a outros países. Nem assim a candidatura de Fábio emplacou.
Quem também esteve perto de ter o nome lançado foi o deputado federal João Campos, membro da Assembleia de Deus. Ele é próximo ao governador e forte no meio evangélico. Mas a candidatura não vingou. João Campos e Fábio Sousa não foram candidatos e ainda perderam a vice na chapa majoritária da base para um carismático – Francisco Júnior (PSD).
Deputado estadual, Francisco foi destaque enquanto vereador, sendo presidente da Câmara Municipal. É um dos políticos mais expressivos da Renovação Carismática Católica (RCC) e foi eleito graças à ajuda dos fiéis. Francisco é vice de Jovair Arantes, o candidato da base aliada.
Chama a atenção o fato de alguns políticos evangélicos se negarem a revelar as comunidades que frequentam. A impressão que se tem é a de que eles não querem segmentar a atuação com medo de perder votos; por isso, omitem a igreja. A prefeita de Santa Helena, Raquel Rodrigues, argumentou que a informação é irrelevante; já a mulher de Iris Rezende (PMDB), ex-prefeito de Goiânia, declarou que não quer fazer propaganda. A deputada estadual Isaura Lemos (PCdoB), prefeitável, disse que é cristã, mas não entrou em detalhes.
De acordo com o IBGE, o crescimento do número de evangélicos no país foi acompanhado pela expansão dos fiéis que transitam por mais de uma igreja ou que não têm vínculos com nenhuma instituição. Segundo o Instituto, ao serem questionadas sobre sua religião, 9,2 milhões de pessoas (4,8% da população) responderam simplesmente ser evangélicas, sem citar nenhuma igreja específica. Como os pesquisadores do IBGE não insistem, não é possível saber se o cidadão ouvido frequenta mais de uma igreja, uma só ou nenhuma. Hoje em dia é comum o evangélico transitar por mais de uma comunidade, como os católicos.
Veja o mapa da religião dos principais políticos de goiás
Força dos evangélicos é medida nas discussões morais
Os evangélicos têm presença significativa em partidos importantes do Estado, como PSDB e PMDB. No entanto, não há hegemonia. “De qualquer forma, são influentes na Assembleia e na Câmara na medida em que se mobilizam em temas conflituosos, como aborto e casamento homoafetivo.” A avaliação é do sociólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Flávio Sofiati.
Para o professor, a melhor forma de medir a força dos religiosos, sejam católicos ou evangélicos, é nas votações relacionadas a temas morais, como os indicados acima. Ele explica que há políticos que não são diretamente ligados às igrejas, mas que receberam ou esperam receber apoio nas eleições. Já os políticos de denominações religiosas claras acabam exercendo autoridade sobre os fiéis, pois relacionam o poder divino com o terreno. “Ou seja, o candidato da igreja, ao receber as bênçãos do líder religioso, assume a tarefa de representar os interesses da igreja no espaço público”, pontua.
Pesquisas qualitativas apontam que a Assembleia de Deus e a Universal do Reino de Deus possuem grande capacidade de mobilizar seus fiéis em torno de candidaturas. Os neopentecostais em geral são mais preparados nesse tema, diz o professor, visto que necessitam do poder público para crescer.
Questionado sobre a resistência de alguns políticos em revelar a comunidade que frequentam, Flávio Sofiati diz que isso é comum e cita o caso de Celso Russomano (PRB), candidato à prefeitura de São Paulo. “Russomano é de um partido diretamente ligado à Igreja Universal, mas tenta se distanciar para conseguir votos de fiéis de outras igrejas, principalmente de católicos.”
O esconder ou revelar a religião, completa Sofiati, passa pela estratégia política de cada candidato e depende do cargo que pretende concorrer. Para prefeito, é preciso ampla aprovação, portanto, de diferentes setores. Para vereador, pode-se contar com o apoio de setores determinados.
Quanto ao poder dos fiéis sobre os políticos, ele é inexpressivo. O professor Flávio Sofiati reforça os dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, de que Goiás tem contribuído significativamente no País para o declínio católico e o crescimento evangélico, principalmente na vertente pentecostal.
Márcia Abreu
Via: Jornal Opção
Expressividade na política goiana é mito. Seis evangélicos estão presentes na Assembleia Legislativa, dois na Câmara Federal e dois no Executivo das principais 20 cidades
Fotos:Fernando Leite/Jornal Opção
Evangélicos que exercem mandato como deputados são a força política do segmento
As igrejas, sejam elas evangélicas ou católicas, sempre buscaram se aproximar da política. Elas organizam suas redes de relações para atuar nas campanhas eleitorais, indicando candidatos. Os objetivos são, entre outros, defender bandeiras próprias, participar de decisões, conseguir fundos e obter facilidades em novos empreendimentos. Mas a crença protestante tem crescido muito no Brasil, ao ponto de a participação dos evangélicos na política tornar-se expressiva. Mas não em Goiás. A reportagem fez um levantamento e constatou que, no que diz respeito à presença de evangélicos no poder, a expressividade é pequena.
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e os três senadores goianos — Cyro Miranda (PSDB); Lúcia Vânia (PSDB) e Wilder Morais (DEM) — são católicos. Dos 17 deputados federais, dois foram identificados como evangélicos: Dona Iris (PMDB), que não quis informar a igreja que frequenta, sob argumento de “evitar propaganda”; e João Campos (PSDB), da Assembleia de Deus. Jovair Arantes (PTB), prefeitável em Goiânia, é espírita kardecista. Doze deputados federais por Goiás são católicos e dois não foram encontrados para falar de qual religião são adeptos.
Na Assembleia Legislativa do Estado, dos 41 deputados em exercício, 34 foram ouvidos. Desses, 28 são católicos. São evangélicos Ademir Menezes (PSD); Daniel Messac (PSDB); Fábio Souza (PSDB); Luiz Carlos do Carmo (PMDB); Misael Oliveira (PDT) e Túlio Isac (PSDB). Ademir é da Assembleia de Deus; Fábio, da Fonte da Vida; Misael, da Videira; e Túlio, da Ouvir e Crer.
O levantamento também foi feito no Poder Executivo das 20 principais cidades do Estado. Há dois evangélicos. Raquel Rodrigues (PP), prefeita de Santa Helena – ela não quis revelar a Igreja, disse que “não vem ao caso”; e Edmario Castro Barbosa (PMDB), prefeito de Ceres. Ele frequenta a Presbiteriana do Brasil. Os demais — prefeitos de Goiânia, Aparecida, Anápolis, Trindade, Senador Canedo, Jataí, Rio Verde, Catalão, Itumbiara, Luziânia, Valparaíso, Formosa, Cristalina, Goianésia, Minaçu, Mineiros, Porangatu e Uruaçu — são católicos.
Dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostram que a proporção católica reduziu no País nas últimas duas décadas. A evangélica subiu. Passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010 - 60,0% de origem pentecostal; 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados.
No que se refere à educação, os evangélicos são os grupos com maiores proporções de pessoas a partir de 15 anos sem instrução. Sessenta por cento dos evangélicos pentecostais recebem até um salário mínimo. Os espíritas têm a maior quantidade de religiosos com curso superior completo.
A pouca força dos evangélicos na política goiana também pode ser notada através do cenário eleitoral. O setor está representado graças à candidatura do vereador Simeyson Silveira (PSC). Simeyzon foi um dos vereadores mais bem votados na disputa à Câmara de Goiânia em 2008, mas não tem expressão na Casa. É apagado e discreto. O ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (sem partido), que deixou o PMDB por falta de espaço, é o responsável por sua candidatura. O ex-peemedebista, que também é evangélico, é padrinho de Simeyzon na corrida ao Paço Municipal.
A oposição, composta por partidos do grupo do governador Marconi Perillo (PSDB), não conseguiu lançar um candidato evangélico. O deputado estadual Fábio Sousa, pastor e filho do apóstolo César Augusto, responsável pela Igreja Fonte da Vida, tentou incansavelmente ser candidato, mas não conseguiu. Fábio foi o vereador mais novo por Goiânia. Teve votações expressivas tanto na Câmara quanto na Assembleia Legislativa. Além disso, tem bom trânsito no meio evangélico. É preciso dizer que a igreja administrada por seu pai nasceu em Goiás e se expandiu, chegando a várias cidades brasileiras e a outros países. Nem assim a candidatura de Fábio emplacou.
Quem também esteve perto de ter o nome lançado foi o deputado federal João Campos, membro da Assembleia de Deus. Ele é próximo ao governador e forte no meio evangélico. Mas a candidatura não vingou. João Campos e Fábio Sousa não foram candidatos e ainda perderam a vice na chapa majoritária da base para um carismático – Francisco Júnior (PSD).
Deputado estadual, Francisco foi destaque enquanto vereador, sendo presidente da Câmara Municipal. É um dos políticos mais expressivos da Renovação Carismática Católica (RCC) e foi eleito graças à ajuda dos fiéis. Francisco é vice de Jovair Arantes, o candidato da base aliada.
Chama a atenção o fato de alguns políticos evangélicos se negarem a revelar as comunidades que frequentam. A impressão que se tem é a de que eles não querem segmentar a atuação com medo de perder votos; por isso, omitem a igreja. A prefeita de Santa Helena, Raquel Rodrigues, argumentou que a informação é irrelevante; já a mulher de Iris Rezende (PMDB), ex-prefeito de Goiânia, declarou que não quer fazer propaganda. A deputada estadual Isaura Lemos (PCdoB), prefeitável, disse que é cristã, mas não entrou em detalhes.
De acordo com o IBGE, o crescimento do número de evangélicos no país foi acompanhado pela expansão dos fiéis que transitam por mais de uma igreja ou que não têm vínculos com nenhuma instituição. Segundo o Instituto, ao serem questionadas sobre sua religião, 9,2 milhões de pessoas (4,8% da população) responderam simplesmente ser evangélicas, sem citar nenhuma igreja específica. Como os pesquisadores do IBGE não insistem, não é possível saber se o cidadão ouvido frequenta mais de uma igreja, uma só ou nenhuma. Hoje em dia é comum o evangélico transitar por mais de uma comunidade, como os católicos.
Veja o mapa da religião dos principais políticos de goiás
Força dos evangélicos é medida nas discussões morais
Os evangélicos têm presença significativa em partidos importantes do Estado, como PSDB e PMDB. No entanto, não há hegemonia. “De qualquer forma, são influentes na Assembleia e na Câmara na medida em que se mobilizam em temas conflituosos, como aborto e casamento homoafetivo.” A avaliação é do sociólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Flávio Sofiati.
Para o professor, a melhor forma de medir a força dos religiosos, sejam católicos ou evangélicos, é nas votações relacionadas a temas morais, como os indicados acima. Ele explica que há políticos que não são diretamente ligados às igrejas, mas que receberam ou esperam receber apoio nas eleições. Já os políticos de denominações religiosas claras acabam exercendo autoridade sobre os fiéis, pois relacionam o poder divino com o terreno. “Ou seja, o candidato da igreja, ao receber as bênçãos do líder religioso, assume a tarefa de representar os interesses da igreja no espaço público”, pontua.
Pesquisas qualitativas apontam que a Assembleia de Deus e a Universal do Reino de Deus possuem grande capacidade de mobilizar seus fiéis em torno de candidaturas. Os neopentecostais em geral são mais preparados nesse tema, diz o professor, visto que necessitam do poder público para crescer.
Questionado sobre a resistência de alguns políticos em revelar a comunidade que frequentam, Flávio Sofiati diz que isso é comum e cita o caso de Celso Russomano (PRB), candidato à prefeitura de São Paulo. “Russomano é de um partido diretamente ligado à Igreja Universal, mas tenta se distanciar para conseguir votos de fiéis de outras igrejas, principalmente de católicos.”
O esconder ou revelar a religião, completa Sofiati, passa pela estratégia política de cada candidato e depende do cargo que pretende concorrer. Para prefeito, é preciso ampla aprovação, portanto, de diferentes setores. Para vereador, pode-se contar com o apoio de setores determinados.
Quanto ao poder dos fiéis sobre os políticos, ele é inexpressivo. O professor Flávio Sofiati reforça os dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, de que Goiás tem contribuído significativamente no País para o declínio católico e o crescimento evangélico, principalmente na vertente pentecostal.
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