Morte de Kevin cria furor entre políticos, mas é ignorada em amistoso
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia)
Torcedores brasileiros fazem a festa durante amistoso contra a Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra |
Durante uma semana, todos os aspectos do caso da morte do jovem Kevin Espada foram explorados exaustivamente por políticos, dirigentes e jornalistas. Quando iniciou-se o evento que pretendia homenagear o garoto, no entanto, a festa pela presença da seleção brasileira desapareceu. Protagonista dos noticiários nos últimos dias, o caso Oruro foi praticamente ignorado quando a bola rolou para o amistoso entre Brasil e Bolívia, que supostamente serviria de homenagem ao menino.
Veja abaixo como foi a evolução do caso nos últimos sete dias:
Pressão do Corinthians
Silencioso sobre o assunto desde a tragédia que vitimou Kevin Espada, que morreu atingido por um sinalizador de navio atirado por corintianos que assistiam ao jogo contra o San José, pela Libertadores, o clube do Parque São Jorge comprou de vez a briga dos 12 torcedores que seguem presos em Oruro. No meio da semana, o presidente Mário Gobbi reuniu-se com dois ministros do alto escalão do Governo Federal pedindo intervenção no caso.
Em uma nota oficial, o cartola até contrariou a postura que o Corinthians defendia publicamente até então, chegando a declarar todos os detidos como "inocentes". A resposta do Governo Federal foi pouco mais que burocrática, explicando apenas que foram enviadas à Bolívia documentações que ajudariam a dar mais celeridade à apuração, sem desrespeitar o regimento do sistema judiciário do país vizinho.
Políticos em turnê
A notoriedade do caso chamou a atenção de um grupo de deputados federais. Liderados pelo petista Vicente Cândido, sete parlamentares viajaram para a Bolívia, passando por La Paz, Oruro e chegando, finalmente, a Santa Cruz de la Sierra.
No caminho, os políticos conversaram com autoridades bolivianos, encontraram-se com os 12 corintianos que estão presos e falaram com os pais de Kevin. Encaminharam todas as situações, mas não conseguiram resolver nenhuma.
Os torcedores seguirão detidos, respondendo à Justiça boliviana. O que os políticos conseguiram foi a mobilização de documentos que podem ajudar a dar mais rapidez ao processo. Agora, os deputados deixam a questão a cargo da embaixada brasileira em La Paz, que promete ajudar como puder os 12 corintianos, que na próxima segunda farão uma espécie de reconstituição do crime.
Para a família, ficou a promessa de uma ajuda financeira vinda do Brasil. Nos próximos dias, Vicente Cândido pretende fechar com o Corinthians quanto da renda do jogo da próxima quarta, contra o San Jose, pela Libertadores, pode ser encaminhada aos pais de Kevin. Além disso, o deputado também diz ter ouvido CBF e Conmebol prometerem o mesmo tipo de ajuda.
O caixa do amistoso
Marcado há um ano, o jogo entre Brasil e Bolívia só saiu do papel, de fato, por consequência da morte de Kevin Espada. Ao anunciar o confronto, José Maria Marin, presidente da CBF, deixou seus colegas da federação boliviana em maus lençóis.
Inicialmente, o encontro seria uma forma de comemorar os 50 anos da conquista da Copa América de 1963, maior título da história do futebol local. Carlos Chávez, cartola boliviano, no entanto, se viu obrigado a doar parte da renda da partida para os familiares de Kevin quando Marin disse que esse era o grande motivo do amistoso.
Seguiu-se uma sucessão de erros diplomáticos. Os pais de Kevin não receberam nenhum convite oficial para a partida até a última quarta-feira. Quando foram procurados, se sentiram incomodados com a situação, reclamaram do descaso e se negaram a aparecerem no estádio.
Nos próximos dias, a Federação Boliviana deve se reunir para finalmente decidir quanto a família Beltrán Espada receberá pelo amistoso, que teve estádio lotado em Santa Cruz de la Sierra.
Kevin ignorado
O problema é que o estádio lotado esteve muito longe do clima de respeito que se poderia esperar de uma homenagem a um jovem morto de maneira trágica. A despeito deste ter sido uma das razões do encontro, nenhuma menção foi feita a Kevin Espada.
Nas cercanias do estádio, o clima era de uma festa ímpar para a população da cidade, que tem muitos brasileiros. Dentro dele, a música alta só parou quando os ex-jogadores, campeões de 1963, deram uma espécie de volta olímpica reduzida com a taça conquistada há 50 anos, sendo muito aplaudidos pelo público.
O mais perto de uma homenagem que o estádio foi a faixa, carregada pelas duas equipes, que pedia paz nos estádios. Nas arquibancadas, faixas faziam alusões a clubes e regiões brasileiras e mandavam recados para TV"s, mas nenhum citava Kevin Espada.
Quando o sistema de som do estádio anunciou que o público deveria respeitar um minuto de silêncio, parecia que havia chegado o momento de lembrar do ocorrido. Ledo engano. Mais uma vez ignorando uma das razões do encontro, a Federação Boliviana decidiu homenagear Jose Saavedra, ex-presidente da Federação Boliviana, morto há alguns dias.
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