Dirceu e Genoino se transformam em alvos móveis no presídio da Papuda
A mulher do deputado Genoino, Rioco Kayano, e os filhos Ronan e Miruna, aguardavam a possibilidade de o visitar no Complexo Penitenciário da Papuda na tarde desta segunda-feira |
A intenção do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), de facilitar o ingresso da família do deputado José Genoino no presídio da Papuda para uma visita para lhe prestar atendimento e solidariedade, de acordo com o que disse fonte nos serviços de inteligência ao Correio do Brasil, na manhã desta terça-feira, “gerou um tremendo mal estar junto aos presos comuns”. O alvo da ira de setores organizados entre os presidiários, no entanto, ainda segundo um informe vazado de dentro da cadeia, “é o ex-ministro José Dirceu, pintado como ‘chefe da quadrilha do mensalão”.
– Diria, sem medo de errar, que a vida do Zé (Dirceu) passou a valer um pouco menos depois que ele chegou ao Complexo (da Papuda). Mesmo com a transferência dele e de Genoino para um pavilhão de segurança mínima, o risco de um atentado é o mesmo. Notícia corre entre os presidiários e, invariavelmente, chega aos guardas. E a novidade do momento é a presença de alguém, com o poder que eles tiveram, e têm, na República, em um ambiente volátil como este da cadeia. O risco (de morte) é grande – advertiu a fonte, que mantém o anonimato por razões óbvias.
Dirceu, Genoino e Delúbio Soares, tesoureiro do PT à época do escândalo, em 2005, foram colocados em uma mesma cela, o que já seria “uma medida mínima de segurança adotada pela direção do presídio”, segundo observou aquela fonte. As chances de um ataque a qualquer um deles, no meio da noite, fica reduzida.
– Mas, de outro lado, aumenta a exposição, principalmente de Dirceu, ao longo do dia, pois eles estão liberados para o banho de sol durante a manhã, até o final da tarde – acrescentou a fonte.
Este mesmo integrante da área de inteligência federal também não afasta uma ação política, partindo do exterior como o apoio de setores da oposição, no Brasil, no sentido de promover um fator de tensão junto à sociedade. Um monitoramento mais apurado dos movimentos de setores da extrema-direita no país “tem mostrado que os níveis de ódio nesses segmentos aumentaram com a prisão dos réus (na AP 470). Qualquer força externa mal intencionada, com certeza, aproveitaria esse momento”, revela.
Ruidoso e repleto de falhas legais, como apontam juristas independentes e os advogados dos réus, o julgamento do ‘mensalão’ guarda “essa faceta golpista”, segundo observou a fonte.
– No pior caso, que seria um atentado à vida de Dirceu, ou de Genoino, ou a ambos, a tensão nas ruas tende a subir na mesma medida em que os protestos se elevam nas redes sociais. Mesmo sem esse risco evidente, percebe-se o grau de revolta das pessoas, de um lado, pelas condições de saúde do deputado, e de outro, por um suposto tratamento diferenciado a que estariam fazendo jus na prisão – afirmou.
Na véspera, o ex-deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde (PV), hoje ligado à extrema direita no Brasil, disse na edição de um diário conservador que a galeria de número 13 da Papuda teria sido pintada de vermelho, em homenagem aos petistas presos. O fato não se confirmou, mas foi suficiente para gerar um barulho no Twitter e no Facebook, principais redes sociais em curso no país.
Há 13 anos, a Papuda foi palco de uma das mais sangrentas rebeliões de que se teve notícia no país. Morreram, ao todo, 11 detentos do presídio de segurança máxima. A briga teve origem em um motivo político, com a morte do prisioneiro Ananias da Silva, informante da CPI do Narcotráfico. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de Brasília, Ananias teria ligações com os deputados cassados Hildebrando Pascoal (AC) e José Gerardo (MA). Ambos estão presos na Papuda, acusados de chefiar o crime organizado em seus Estados.
Prisão irregular
A simples presença de Dirceu e Genoino em um presídio de alto risco, como é o da Papuda, para os advogados dos apenados no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), conhecido como ‘mensalão’, já se trata de irregularidade, digna de um processo contra o relator da Ação Penal (AP) 470 e hoje presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa. Sequer partiu dele a decisão de tirar os lideres petistas presos em regime fechado, para a instalação onde passaram ao regime semi-aberto.
Coube ao titular da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, Ademar da Silva Vasconcelos, na véspera, determinar a transferência dos condenados para o Centro de Internamento e Reeducação (CIR). Embora as condições sejam mais amenas, o pavilhão fica dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, onde eles já estavam detidos, observou o senador Suplicy (PT-SP), que os visitou.
O fator político que embaça o julgamento da AP 470 e transforma a vida de Dirceu e Genoino em um alvo a mais em um presídio de alta periculosidade ficou mais uma vez demonstrado na declaração do ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Segundo o magistrado, foi um erro a expedição dos mandados sem as cartas de sentença, que determinam o regime ao qual o condenado está designado. Novamente, a decisão partiu do presidente do STF, Joaquim Barbosa. A decisão, segundo Mello, deu um caráter provisório às prisões até a tarde desta segunda-feira, quando foram transferidos para um pavilhão de segurança mínima. Mello também revelou sua “perplexidade” com o transporte dos condenados para Brasília, já que a lei determina o cumprimento da pena próximo ao domicílio.
– Não entendo essa pressa toda. Não havia nenhum tipo de risco – estranhou.
fonte correiodobrasil
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