O dia que Chico Buarque esqueceu de escrever

O dia que Chico Buarque esqueceu de escrever

Do Gama

*Joaquim Dantas

Para a Revista Cidade Cult e Blog do Arretadinho

Recentemente vi uma foto do Chico Buarque em uma grande rede social, com uma declaração atribuída a ele, de apoio aos governos Lula e Dilma. O texto diz que, até a posse de Lula, o Brasil era um "paiséco de 5º mundo" e que, em 12 anos, os governos de Lula e Dilma "tiraram a nossa coleira dos EUA, deram um pé no traseiro do FMI e alçaram o país à 6ª potência econômica mundial".

Acontece que o Chico esqueceu de escrever que, de 1904 à 2006, foram construídas cerca de uma centena de Escolas Técnicas no Brasil, sendo que nos 8 anos de mandato de FHC não foram construídas sequer uma Universidade Federal ou Escola Técnica e que, de 2002 à 2010, Período que durou o governo Lula, foram construídas 10 Universidades Federais e 214 Escolas Técnicas no país, que estão formando jovens e adultos Brasil à fora.

Em tempo, vale lembrar que uma Universidade não "funciona" sozinha, a criação de milhares de empregos veio de brinde, ao contrário dos 8 anos de governo socialdemocrata que promoveu arrocho salarial e ostentou uma das maiores taxas de desemprego da história do Brasil. Em abril de 2014 o país teve a menor taxa de desemprego de sua história, menos de 5% e a mantém, com pequena variação, até hoje.

Chico falhou também quando não escreveu pequenas e importantíssimas diferenças entre os governos neoliberal de FHC e progressistas de Lula e Dilma, vamos aos fatos:

• FHC é tão intelectualmente desonesto que usou sua imagem de "Príncipe dos Sociólogos" para implantar o neoliberalismo no Brasil; Lula nunca precisou se fazer passar pelo que não é para chegar onde está, muito pelo contrário, sempre fez questão de mostrar-se como realmente é;

• FHC foi o responsável direto por quebrar o país três vezes, pela elevação da taxa de tributação do lucro das empresas e dos juros da dívida pública (em quase 100% em ambos os casos), sem falar nas reservas internacionais zeradas e dívidas altíssimas em dólar; Lula conseguiu reverter a maior parte da lambança, pagou a dívida com o FMI e elevou o país à 6ª potência econômica e neste quesito o Chico está perdoado porque não esqueceu de escrever;

• FHC mantinha distância do povo e chamava isso de "dignidade do cargo"; Lula não se envergonha de suas origens e não esquece de quem o colocou onde está, o povo que o elegeu e que nele confia até hoje;

• FHC destruiu os sistemas de controle gerencial das empresas, manteve o câmbio fixo e zerou as reservas internacionais em 1998 (o que levou o Brasil a quebrar); Lula instituiu as reservas financeiras como política administrativa, pré-fixou os juros da dívida interna (e em real, não em dólar), conquistou o Investment Grade, baixou os juros para 1 dígito e permitiu a consolidação de empresas que hoje estão no mercado mundial, entre elas a Petrobras, hoje reconhecidamente a maior empresa da América Latina em valor de mercado.

Penso que eu demoraria alguns anos se fosse citar todas as diferenças que existem entre os governos FHC e Lula-Dilma mas, paro por aqui com uma última diferença, os programas sociais.

Faltando 4 meses para as eleições de 2002, começaram a ganhar alguma materialidade os seguintes e únicos programas sociais de FHC: Bolsa-Alimentação (que Lula ampliou para o Bolsa Família, tirando mais de 40 milhões de pessoas da miséria e é a "menina dos olhos" do Governo Dilma); o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que Lula manteve e Dilma deu continuidade), o Bolsa-Escola, o Brasil Jovem e o Vale-Gás.

Principais programas sociais do governo progressista de Lula e Dilma: Bolsa Família, Luz Para Todos, Brasil Alfabetizado, Educação de Jovens e Adultos, Programa Universidade Para Todos (ProUni), Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Pronatec,  Fundo de Financiamento Estudantil(Fies), Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Brasil Carinhoso.

Mas, apesar de todos esses "esquecimentos" do Chico, eu continuo amando sua obra e o grande brasileiro que é.. 

*Joaquim Dantas é pernambucano, poeta, agitador cultural e editor do Blog do Arretadinho