5 de nov. de 2017

Comunidade se mobiliza em defesa do HRG

Manifesto do Fórum Comunitário do Gama (FComGama) sobre o caos no HRG e centros de saúde; documento será entregue ao MPDF, à Defensoria Pública e à CLDF; protestos de rua devem acontecer


É fato que toda a comunidade do Gama e Santa Maria tem conhecimento do caos atual em que vive o HRG, o velho e outrora bom Hospital Regional do Gama. Que já foi um dos melhores do Brasil em estrutura, equipamentos, quadro de pessoal, reconhecido antigamente como de referência no tratamento de várias doenças. Considerado também como Hospital Amigo da Criança. Hoje, inimigo da criança, inimigo do jovem, inimigo das pessoas de meia-idade, inimigo dos idosos. Enfim, inimigo do povo. Verdade que não é o hospital o verdadeiro inimigo. O inimigo, certamente, é outra instituição, é outra coisa. Não tem coração, mas tem cara.

Hoje o HRG sofre com o abandono, o desprezo. Encontra-se em situação crítica. Está na UTI, respira por aparelho, e parece que tem gente que torce para torná-lo um paciente terminal, um doente sem volta. Um cadáver.

Mutilam o seu corpo, arrancando-lhe o PAI, Pronto Atendimento Infantil, do qual milhares de crianças da cidade sempre dependeram.

Depois de fechado o Pronto Atendimento Infantil em outubro de 2016, e diante da reação da comunidade, que algumas vezes foi às ruas, o governo de Brasília, numa ação pirotécnica, espalhafatosa até, vexaminosa certamente, "reinaugurou" a unidade.

Sabia-se, ou pelo menos tinha-se quase certeza, que passados alguns meses, ou dias, o Pronto Atendimento Infantil possivelmente voltaria a fechar. Foi necessário apenas um mês. Na verdade um mês e mais alguns poucos dias, não completando sequer dois meses, o PAI explodiu novamente, dessa vez "sem estrondo, mas com muito gemido". O gemido das crianças que voltaram a não ter atendimento digno e especializado. O gemido das mães que, levando seus bebês nos braços durante as madrugadas frias, batiam a cara na porta do Pronto Atendimento. O choro e gemido dos pais, que viam, sem saber a quem recorrer, seus filhos com febre e chorando de dor, vomitando, quase morrendo e o Estado negando o socorro que por lei deveria dar. O gemido dos pobres.

Mas o caos não se limitou à assistência das crianças da região. O caos, a cada dia que passava, se espalhava pelo hospital. Pelas seus corredores, por suas salas, por seus ambulatórios, por seus setores de exames, pelos seus leitos de UTIs, por suas salas de espera —e que espera. Até mesmo pela sua lavanderia. Pelos seus tetos e paredes rachados. Por suas instalações elétricas, que em época de chuva parecem mais instalações hidráulicas, pois delas saem mais água de chuva do que luz. Taí! Taí uma coisa que falta ao HRG: A luz. A luz que indicasse pelo menos o fim do túnel da certamente maior crise por qual já passou este cinquentão. Meio século de Hospital Regional do Gama, completados no dia 12 de março de 2017.

Em marcha batida, o caos atingiu a UTI. Em outubro de 2017, dos 20 leitos dessa unidade, dez estavam desativados. Recentemente, muito recentemente, três dos dez desativados foram reativados. Agora digam, por favor. Um hospital importante e estratégico como o HRG em que sua Unidade de Tratamento Intensivo fica com apenas metade de sua capacidade não estaria vivendo o caos? Hoje (4/11/2017) dos 20 leitos da UTI sete estão bloqueados. Isso representa 35 por cento do total de leitos. Seja o valor 50 ou 35 por cento, o caos continua. E como continua.

Os leitos da UTI bloqueados, o são, pasmem, por falta de manutenção dos respiradores mecânicos. O custo da manutenção corretiva dos dez respiradores que causaram o bloqueio dos dez leitos, era estimado em torno de 30 a 35 mil reais. Isso é caos ou não é?

O caos atinge também o pronto socorro do hospital. Aí, a clínica médica já há tempo funciona de maneira vergonhosa. A de ortopedia funciona. A clínica médica com mil restrições, deixa o povo na mão. Isto é, na rua da amargura, com suas dores, suas febres, suas indignações.

Um hospital que deixa de fazer cirurgias —várias cirurgias— por falta de roupas lavadas, higienizadas, para médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, pacientes, está no caos? Está, com certeza. Quanto custa vários dias de internação desnecessárias em razão da espera por roupa lavada, ou por anestesista? Isso tanto em termos financeiros e em impedimento da internação de novos pacientes. É o caos, é o caos. É o caos, irmão! Caos na lavanderia também.

Há uma média de 600 a 700 partos por mês no Centro Obstétrico do HRG. E o absurdo é que estão querendo também nessa área implantar o caos absoluto. Pretende, o governo do DF, mesmo depois de seu desmentido formal, fechar o Centro Obstétrico.

Veja a seguir o texto do manifesto do FComGama, Fórum Comunitário do Gama, que será entregue na terça-feira (6/11) ao Ministério Público do Distrito Federal, à Defensoria Pública do DF e à CLDF. Lembrando aqui, que possivelmente, muito possivelmente, haverá manifestações, protestos de rua. Pelo caos no HRG, pela ameaça de mais caos e mais serviços fechados.



MANIFESTO DO FÓRUM COMUNITÁRIO DO GAMA, QUANTO À NEGATIVA DE SAÚDE PÚBLICA NA CIDADE DO GAMA, DISTRITO FEDERAL



O Fórum Comunitário do Gama, Distrito Federal, espaço de debate popular dos moradores e entidades esteve reunido no dia 21/10/2017, das 15 às 17 horas, à Quadra 01, Conjunto “B”, Lotes 218/220, Setor Norte, Gama, DF, para debater em plenária A SAÚDE PÚBLICA DO GAMA, cujos encaminhamentos resultaram neste Manifesto.

A discussão da temática abordada levou ao entendimento de que grande parcela de usuários da saúde pública se encontra desassistida. Os relatos dos presentes deram conta da precariedade da rede local de saúde, com problemas antigos e recentes que não são resolvidos. A falta de transparência, diálogo e entendimento entre governo e população demonstra a precariedade da situação, o descaso com o assunto, e total desconfiança por parte de quem mais precisa desse serviço público.

Abaixo segue a lista dos problemas mais mencionados:

a)   Fechamento do Pronto Atendimento Infantil — PAI;

b)   Restrição no atendimento e risco de fechamento do Centro Obstétrico — CO;

c)   Falta de médico e restrição no atendimento do Pronto Socorro — PS, com grande quantidade de doentes em macas nos corredores;

d)   10 (dez) leitos da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) sem uso por falta de conserto do mesmo número de respiradores mecânicos, manutenção num valor total, aproximado, de R$ 30.000,00 (trinta mil reais);

e)   Cirurgias urgentes ou eletivas impossibilitadas de serem realizadas por falta de anestesistas;

f)    Único tomógrafo encontra-se quebrado;

g)  Lavanderia terceirizada com problema na caldeira. Empresa que explora a lavanderia não realiza o objeto do contrato, deixando faltar roupas e peças indispensáveis aos procedimentos médicos e aos pacientes;

h)   Falta de funcionamento noturno nas Unidades Básicas de Saúde – UBS’s;

i)     Construção parada da Unidade de Pronto Atendimento – UPA;

j)     Construção parada do Centro de Saúde nº 8, sobrecarregando os demais Centros;

k)   Policlínica utilizando instalações precárias no interior do HRG, por falta de espaço adequado;

l)     Inexistência de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na cidade, cujo projeto foi deixado de ser realizado devido o terreno público destinado ser esbulhado por entidade religiosa, cujo processo judicial está em fase de Execução;

m)      Falta de critério formal e transparente de remoção e/ou remanejamento dos servidores, que trabalham aviltados com a possibilidade de serem retirados do seu local de trabalho;

Ante a falta de acesso universal e igualitário por meio de ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde, este Fórum conclui pela existência de violação a direitos, e solicita aos órgãos de controle imediatas providências no sentido de por fim a tais desmandos administrativos, o que o faz pelo envio deste Manifesto:

- à Câmara Legislativa do DF, esperando manifestação de sua Comissão de Educação, Saúde e Cultura – CESC, a quem sugere realização na cidade de Audiência Pública para discutir a temática “Os graves problemas de saúde pública na cidade do Gama;

- ao Ministério Público do Distrito Federal e território – MPDFT, requerendo providências de sua Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde – PROSUS; e

- à Defensoria Pública do Distrito Federal, requerendo providências que lhe sejam pertinentes.

Cidade do Gama, Distrito Federal, em 21 de outubro de 2017.

Mesa Mediadora do FComGama:

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