25 de dez. de 2017

Dallagnol e as igrejas batistas

O procurador Deltan Dallagnol, da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba
Dallagnol e as igrejas batistas: como o fundamentalismo religioso-político do PR é bancado com dinheiro público

Por Kiko Nogueira no DCM

Recebemos o seguinte email a respeito da matéria sobre a influência das igrejas batistas de Curitiba sobre o procurador Deltan Dallagnol e seus homens da Lava Jato:

Li há pouco por indicação de uma amiga o excelente artigo sobre o antipetismo das igrejas batistas. Como sou ligada às pessoas de Curitiba, peço sigilo sobre meu nome porque posso perder meu emprego. Conheço bem as pessoas envolvidas e elas podem facilmente me identificar, pelos motivos que ficarão evidentes a seguir.

1) Os seminários é que disseminam o fundamentalismo de inspiração fascista. 

2) Há pouco mais de uma dúzia de casos, mas só para citar o exemplo central, dentre os mais críticos: a Faculdade Teológica Batista do Paraná (situada na av. Silva Jardim, 1859, Curitiba). Centro do fundamentalismo fascista (ser antipetista é o de menos), esse seminário batista é uma dessas instituições que aproveitam a brecha de uma fiscalização rarefeita para, mediante um verniz de pesquisa científica, obter dinheiro público através de bolsas de estudo e demais subsídios. Digo e provo, pois de acordo com a Portaria Normativa/MEC nº 17, de 28 de dezembro de 2009, que dispõe sobre o mestrado profissional no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes): “O corpo docente do curso deve ser altamente qualificado, conforme demonstrado pela produção intelectual constituída por publicações específicas”.

3) Ora, com financiamento também vindo dos EUA, através de missionários americanos, o seminário tem função eminentemente política, de extrema direita. O mestrado é tanto uma isca quanto uma espécie de legitimação para doutrinação. A referida instituição religiosa não atende minimamente aos critérios exigidos pela portaria, conforme qualquer um pode facilmente verificar, inclusive porque os dados estão disponíveis no próprio site da instituição (). A relação de docentes possui um link direcionado para os currículos lattes, o que permite livre exame aos interessados, e a conseqüente constatação dos fatos.

4) O problema é que há docentes inaptos, segundo o nível de excelência exigido pela Capes. Os fraquíssimos registros acadêmicos do Diretor Geral, Jaziel Guerreiro, somente chamam à atenção pelo tom folclórico, sobretudo pelo título de sua pesquisa de doutoramento: “Sai, Satanás”. Mas os problemas são mais amplos. Luiz Roberto Soares Silvado, cujo suposto doutorado é também um curso livre com nome fantasia de “doutorado”. A qualificada produção intelectual dos docentes desse “Mestrado Profissional”, preconizada pela Capes, por sua vez é inexistente. Soares Silvado lista, como produção científica mais recente, um livro de “Esboços de Sermões” (“é pastor coordenador geral da Igreja Batista” segundo a apresentação do Lattes). Como “trabalhos completos publicados em anais de congressos”, importante item de avaliação para o CNPq, indica publicação de uma devoção religiosa no “Congresso da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil”. Mark Alan Ellis ainda é pior, pois não tem publicação alguma de qualquer espécie. E muitos outros seguem no mesmo nível.

5) Outro ponto interessante de análise é que as poucas publicações dos demais professores desse corpo docente em revistas, aspecto mais valorizado pela Capes, são os artigos na revista “Via Teológica” (ISSN 1676-0131), justamente a revista cujos editores e membros da comissão editorial são em grande parte os próprios docentes do programa de mestrado da Faculdade Teológica Batista do Paraná! Trata-se, portanto, não de um rigoroso programa de estudos, mas de um mecanismo endógeno marcado pelo “compromisso doutrinário com a Convenção Batista Paranaense” (conforme as instruções dadas aos interessados em submeter, subscrever e publicar artigos, vide < http://ftbp.com.br/viateologica/?page_id=8>).

6) O oportunismo desse grupo de bispos e obreiros, com expressiva participação de missionários norte-americanos, em obter vultosa verba da Capes (dinheiro público, portanto), sob o simulacro de programa de mestrado, contudo, é apenas um detalhe. Esses seminários, com o protagonismo desse, do Paraná, é que forjam os pastores que reproduzem, como as escolas islâmicas xiitas e wahabitas, o radicalismo de direita. Isso precisa ser denunciado.

7) O problama maior, contudo, é que isso é induzido de fora. Vale a pena consultar o lattes dos americanos, que possuem ligações com pessoas do partido republicano, dos EUA. Tudo é inconsistente nesses sujeitos (que podem até ter contato direto com agências americanas CIA, mas não tenho como provar).

8) O currículo de Alan Doyle indica um docente cujo mestrado foi obtido sem defesa de dissertação e um doutorado validado a posteriori; caso também de David Allen Bledsoe, “um orientador de Trabalhos de Conclusão de Curso no Mestrado Profissional”, que possivelmente pleiteia titulação com cursos supostamente de doutorado sem reconhecimento formal no Brasil (embora cite a PUC, no Lattes). É amplamente conhecido o fato de que agremiações fundamentalistas americanas oferecem cursos rápidos de extensão com título de Ph.D. Esse problemas também ocorrem, sem querer esmiuçar muito, com Mark Alan Ellis, um docente sem mestrado e com doutorado emitido por uma instituição não-reconhecida pela Capes (esse é que deveria ser alvo de um jornalista investigativo, suspeito isso pelas coisas que ele diz).

9) Já estou me estendendo muito. Meu objetivo não é detalhar nada, mas apenas mostrar que “embaixo desse angu tem caroço”. Minha experiência in loco diz, no entanto, que a disseminação fascista nasce nos seminários. 

10) Não precisa ser detetive para ver que a aprovação desse curso junto a CAPES/MEC foi irregular. Políticos de Curitiba ajudaram (e, conforme falam, até o Magno Malta que é batista também). Para uma denúncia sobre o fisiologismo nos processos de avaliação da Capes vale a pena ler a crítica do professor Alfredo Storck (UFRGS) à nomeação do  Coordenador da Área Filosofia/Teologia da CAPES, no site da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof): “Para que as avaliações trienais transcorram no clima de serenidade e confiança de que necessitam, faz-se necessário o respeito tanto às regras formais que norteiam o processo de indicação de coordenadores quanto o respeito às práticas tradicionamente reconhecidas pelas comunidades acadêmicas. Quebras inesperadas e de expectativas apenas geram insegurança quanto ao respeito futuro das decisões das áreas e em nada contribuem para fazer avançar o sistema de avaliação.”
http://www.anpof.org/portal/index.php/pt-BR/comunidade/community-forum-pack073a51/item/9-tema-01/378-sobre-a-indicacao-do-coordenador-da-area-e-a-autonomia-das-subcomissoes

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