22 de fev. de 2019

Crítica | Pantera Negra: não é só mais um filme de herói

Pantera Negra realiza um dos maiores feitos da história do cinema: o primeiro filme de herói a ser indicado na categoria de melhor filme e, mais marcante e histórico ainda, com o elenco quase completamente formado por atores e atrizes negras. Além disso, o longo recebeu também o SAG (Prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood), de melhor elenco em filme, um feito fantástico.

É improvável que Pantera Negra leve a estatueta para casa, mas o simples – não tão simples assim –  fato de ter sido indicado, gera um enorme debate sobre o seu merecimento e qualidade técnica para estar ali. Comparando o longa com filmes como BlackKksman e Roma, é plausível que a estatueta não deva ser entregue ao filme da Marvel, mas em que ponto Pantera Negra se encontra atrás de uma produção como Bohemian Rhapsody? Fique a questão no ar.

A verdade é que o filme de Ryan Coogler possui um excelente elenco, uma das melhores direções da história da Marvel, é uma produção de enormes feitos técnicos, uma beleza plástica estonteante e um roteiro que, dentro de um padrão de filme de herói, atravessa como uma espada a sociedade branca.

Contudo, a sua existência e indicação carregam um simbolismo que nenhum dos demais indicados possui. É simbólico um filme no qual personagens negros são protagonistas e mais, protagonistas de suas próprias histórias, em um universo onde uma nação africana não teve suas narrativas e trajetórias roubadas por países europeus.

Caso você tenha assistido Pantera Negra e, ainda assim, não consiga assimilar o seu valor simbólico e qualidade técnica, acreditando que a sua indicação não seja merecida, façamos mais uma comparação. Dunkirk, filme de Christopher Nolan, indicado em 2018, narra a história de soldados ingleses sob um cerco praticamente sem salvação perpetrado pelo exército nazista. A indicação de Dunkirk nunca foi questionada, afinal de contas, eram os ingleses. Todavia, além de seus efeitos especiais e sonoplastia, o longa foi incapaz de transmitir qualquer sentimento de homens encurralados pela morte. Nolan foi praticamente apático, mas o seu valor histórico lhe deu a sua indicação.

Pantera Negra está longe de ser apático, pelo contrário, é puro sentimento dentro de um contexto histórico que gera raiva, sentimento de vingança, assim como o altruísmo. O seu vilão é movido pelos fatos históricos, movido uma dívida histórica. Mas o filme utiliza todo esse contexto para construir uma narrativa do “e se?”, como seria a história não tivesse sido como foi? Pantera Negra constrói visibilidade, constrói representatividade, constrói sonhos.

Um dos melhores filmes da Marvel, Pantera Negra cumpre o seu papel de filme de herói e extrapola. São universos que se rompem dentro e fora das telas, são barreiras sociais que se rompem dentro e fora das telas. Pantera Negra é sim um grande blockbuster que permitiu um lucro bilionário ao estúdio responsável, mas que também permitiu um gigantesco contraponto a um mundo de heróis que viveu por quase um século com mais do mesmo. Pantera Negra renova e, assim como Mulher Maravilha, abre portas para novos tipos de heróis e heroínas, humanos ou não, adequados a um novo século, à uma nova humanidade, heróis que realmente salvam a humanidade.

FICHA TÉCNICA:

Título: Black Panther
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Sterling K. Brown, Angela Bassett, Forest Whitaker, Andy Serkis, Florence Kasumba, John Kani, David S. Lee, Nabiyah Be, Ashton Tyler, Denzel Whitaker, Atandwa Kani

fonte Produzindo Cultura

Um comentário:

Unknown disse...

Sim, Pantera Negra tá bem longe de ser apenas um filme de super-herois, ele traz ótimas mensagens sobre empoderamento e levanta pontos importantes sobre o racismo. Gostei muito de um que assisti ontem, Diga o nome dela: A vida e Morte de Sandra Bland, um dos melhores documentários recentes muito impactante, sobre um caso que em que uma ativista morreu e que contribuiu em muito para o movimento Black Lives Matter. Acho fundamental para repensarmos sobre o racismo, principalmente nos eua. Super recomendo.