1 de jul. de 2020

Wilson Aragão e Zé Geraldo - Cuide bem da sua Estrada


Wilson Aragão Foto Joaquim Dantas Fotografia®
Wilson Aragão
Foto Joaquim Dantas Fotografia®

Biografia de Wilson Aragão

Wilson Oliveira Aragão (25 de abril de 1950) é um cantor e compositor brasileiro. Com quase 40 anos de carreira, cinco discos lançados e músicas gravadas por grandes artistas nacionais e internacionais, é autor de pérolas do cancioneiro nacional como “Capim-Guiné”, “Mosaicos”, “Guerra de Facão” e “Sertões e Sertões”. A sua história é celebração às raízes do nordeste e, também, lembrete para a importância da música nordestina no cenário nacional.

Nascido na cidade de Piritiba/BA, no piemonte da Chapada Diamantina, começou cantando na adolescência em corais de igreja e de colégio. Já neste tempo, se achava diferente por gostar de músicas, estilos e ambientes proibidos por sua família, que era evangélica, e por já sentir a veia artística se manifestando por meio de poesias, pinturas e músicas. Com a separação dos pais foi para São Paulo, trabalhar e fazer faculdade, mas continuou compondo e escondendo as músicas. A arte ficou escondida nos seus cadernos até criar coragem de mostrar aos amigos mais próximos, que o encorajaram a mostrar as composições aos artistas da época. Com a gravação de Raul Seixas, Capim Guiné foi sucesso em todo Brasil. A partir daí Aragão ganhou o mundo fazendo shows e divulgando seus trabalhos em rádios e televisões.

A sua música fala, principalmente, do homem do campo, suas lutas e anseios, seus amores e dissabores. Seus ritmos passeiam por baladas, xotes, martelos, galopes e canções. Tem como Pátria o sertão baiano, inspiração do seu cancioneiro, sempre voltado para a dignidade, humildade e sapiência do sertanejo. Aragão já faz parte do grande São João e cantorias pelo sertão brasileiro, tornando-se parte da vida poética do Nordeste. Em seu vasto trabalho, já teve parcerias com grandes nomes da música brasileira, como o inesquecível Raul Seixas com a canção “Capim Guiné”, título do seu primeiro disco.

Este poeta-cantador faz as suas andanças, sempre irreverente, levando consigo vários “causos” que, sempre bem contados, despertam no povo o sentido alegre da vida após um dia de batalha e é respeitado por todos os cantadores pela grande luta por uma música de qualidade. Wilson Aragão é casado com Mirian e possui três filhos: Pedro, Wilson Filho e Rui.


Wilson Aragão Foto Joaquim Dantas Fotografia®


Wilson Aragão, cantador e poeta do Piemonte


Nome: Wilson Oliveira Aragão. Sina: de cigarra, cantar até morrer. A estrada de um cantador tem origem no barro que primeiro o concebeu. E neste caso, é a cidade de Piritiba, que naquele longíncuo 1950, quando ainda pertencia a Mundo Novo, é a origem de tudo para aquele menino magrinho que, desde pequeno já acompanhava o pai nos plantios de mangalô, aipim e feijão. Filho de Alda Oliveira Aragão e Deolino Ferreira de Aragão, o menino era um apaixonado pela paisagem. De vez em quando, o garoto largava se apoiava na enxada e olhava para a paisagem em volta, o mar de pequenas serras espalhadas naquela amplidão ora desolada, ora verdinha quando as raras chuvas caíam naquela área vizinha à Chapada Diamantina. Poderia ter enveredado pela pintura mas preferiu colorir sua existência, e a de seus ouvintes, com as sete notas da aquarela musical.

A lua, quando nascia cheia, parecendo uma imensa bolacha, iluminava a mente do menino. Os dizeres dos matutos, em seu rude filosofar, também. Dona Alda, briosa com a formação literária do menino, lia Castro Alves, Cecília Meirelles e Catullo da Paixão Cearense. Nos dias dos sambas rurais, ia com o pai para os povoados de areia Branca e do Cobé, ver as chulas, repentes e batuques de Bel, Silvano, Zé Beté, Gildásio. Em casa, um rádio de quatro faixas colocavam Wilson em sintonia com a música brasileira nacionalizada em ondas de AM: Nelson Gonçalves, Jackson do Pandeiro, Anísio Silva, Zé Gonzaga e Luiz Gonzaga. Ainda na infância, Wilson muda-se com a  família para Mirasserra, distrito de Morro do Chapéu.

Começou a freqüentar na adolescência a Igreja Presbiteriana. “Tínhamos bons maestros e cantando em coral e me iniciei na música”, relembra Wilson que logo descobriu o violão. Em 1965 a Jovem Guarda de Roberto Carlos invade litoral e sertões espalhando eletricidade, romances e carros nas suas músicas. O incauto matuto, no calor dos 15 anos, ganhou novos ídolos, vestiu calça apertada, deixou a cabeleira rebelde e, de repente, seu Deolino viu o filho, em pleno sol da caatinga andar naqueles trajes, como se Liverpool fosse Morro Chapéu e a Rua Augusta o Chapadão. “Foi nessa época da Jovem Guarda que a gente montou um grupo de bailes chamado Os Horríveis e aí me iniciei na música”, relembra com saudade Wilson Aragão em seu apartamento no Engenho Velho de Brotas. Sua casa, aliás, é uma galeria de artesanato sertanejo, presentes de amigos e de admiradores.

De volta ao regional, Wilson se junta a Trovão, Babá e Tom Andrade para formarem o grupo Chapada Diamantina, de duração curta mas que vem a Salvador e se apresenta em programas nas TVs Itapoan e Aratu , sem repercussão. Quando os pais se separam, no início dos anos 70, ele vai trabalhar e estudar em São Paulo, onde faz faculdade e se aperfeiçoa em recursos humanos, tornando se especialista em planos de cargos e salários. Com o violão pontilhando somente as horas vagas, trabalhava na Eletropaulo e Listas Telefônicas Brasileiras. Um belo dia o cantador vê num jornal paulista um grande anúncio convocando trabalhadores especializados em diversas áreas para o Pólo Petroquímico e o Cia. Voltou para Bahia e ficou no Pólo por 15 anos. “Empresas me disputavam” pontua sem falsa modéstia, devido a sua especialização em planos de cargos e salário,s mas o coração do cantador se apertou com as injustiças que presenciou. “Naquela época vi muita coisa no pólo que não concordei, corrupção na minha mesa, diretores tirando salários de operários para dar a quem não merecia”.

Casado com Miriam há mais de 20 anos, Wilson conta que, junto com a companheira, botou a viola nas costas e saiu pelo Brasil afora deixando os chaminés pra trás. Contador de causos e memorialistas das coisas do sertão, logo se enturmou e participou de eventos alternativos na cultura sertaneja na capital e no interior como feiras, bares e restaurantes em vários estados do Nordeste, Sudeste e Centro Oeste. Assim, “em sua carreira de errante cantador”, foi se aproximando mais de outros cantadores e violeiros como Elomar, Vital Farias, Décio Marques, Diana Pequeno Helvécio Santana, Fábio Paes, Paulinho Jequié e Dinho Oliveira, dentre outros, brotando muitas parcerias. O ano de 79 foi um ano marcante em sua vida. Segundo relata, uma ‘tramamóia’ acontecida nos tempos da ditadura, entre um banco, um grileiro e outras instituições tiraram o pedaço de terra de seu pai. O filho tomou as dores do pai e o lamento saiu com o nome de Capim Guiné: como se a raposa, a sussuarana e o pardal e os outros bichos fossem os atores da farsa.

“Eu ficava aqui nesta salinha no Engenho Velho de Brotas e meus amigos no Engenho Velho me dizia Aragão sua música é boa porque você mostra a Elba Ramalho, pra fulano pra cicrano. Depois de pronta botei tudo numa fita e fui mostrar pra Elba Ramalho, ela estava em evidência e me disse, bicho, tua música é toda linda mas dá um tempo porque os produtores pediram pra eu tirar uma música pra botar outra música não sei de quem, essas coisas assim”…

TOCA RAUL – Naufragado o plano de ser gravado por Elba Ramalho, Wilson viu uma nova no horizonte, o roqueiro Raul Seixas. Como ele apareceu na história? Wilson relembra: “aparece um rapaz de Piritiba chamado Beto Sodré, ele pegou minha fita e disse: me dá que quem vai gravar isso aqui vai ser Raul Seixas, e levou a fira pra Raul Seixas. Na época eu não tinha telefone em casa então nós fomos pro posto da Telebahia telefonar, na Barra. Ansioso, ele foi com Beto Sodré. O Maluco Beleza, do outro lado, cumprimentou e foi direto ao assunto: Bicho, adorei tua música, linda! Mas tem uma coisa assim, Cê faz assim: Comprei um sítio/ plantei jabuticaba/ dois pés de guabiraba/  não tem isso aí? Eu queria mudar! Mudar como Raul?”, perguntou Wilson Aragão.

E Raul sugeriu o novo verso pelo telefone: “Eu queria fazer assim: Plantei um sítio no Sertão de Piritiba… . Eu tive em tua terra, bicho, adorei Piritba” O compositor de Metamorfose Ambulante visitou o solo piritibano em 1979, com Beto Sodré. “Conheceu todo mundo, tirou fotografia, ficou amigo de todo mundo, ficou 10 dias e virou nome de avenida,”, relembra.  A segunda mudança da música operada por Raul Seixas foi o verso Dois pés de guataíba. A conversa seguiu e é Wilson que fala: “Cê quer colocar Comprei um sítio no sertão de Piritiba e pra rimar com Piritiba, Raul? Pode deixar que eu já achei uma planta! Misturou meu pé de guabiraba com as pindaíbas que ele bebia nas cachaças e  saiu dois pés de guataíba, que até hoje eu procuro nos dicionários de planta e não acho”. Em 83 Capim Guiné tocou no Brasil todo e Raul assumiu a co-autoria. Piritiba bombou e hoje “Capim Guiné” é o nome do seu arraial junino. Com participações em vários eventos ligados à militância de esquerda, Wilson gravou ainda o LP Capim Guiné e o CD Filosofia do Jegue. Mora no mesmo lugar, no Engenho Velho de Brotas, com seu proseado de cabôco violeiro e sua simpatia sertaneja.

editado a 14:12hs

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