17 de out. de 2014

Extrema direita age à solta e ameaça humorista no Rio

Gregório Duvivier tem sido alvo da direita fascista
porque declarou apoio a Dilma Rousseff
Reacionários dos mais diversos matizes, em ação conjunta no Rio, concentrados na Zona Sul da capital, apoiam-se nos colunistas de extrema direita e nos meios de comunicação conservadores para promover a violência contra militantes de esquerda. 
Na noite passada, o poeta e ator Gregório Duvivier, da trupe que produz o site de humor Porta dos Fundos, foi alvo da maré de ódio que cresce à medida que se aproxima o segundo turno das eleições. O fato foi descrito em nota na coluna do jornalista Ancelmo Gois, do diário conservador carioca O Globo:

“Gregório Duvivier almoçava (nesta quarta-feira) no Celeiro, no Leblon, quando um sujeiro disse que não ficaria mais ali porque ia ‘acabar metendo a porrada’ nele. O talentoso ator e escritor ficou calado”, relata o Gois.

O agressor, porém, seguiu com os xingamentos, dizendo que ele era da ‘esquerda caviar’ e que deveria estar almoçando no bandejão, “já que gosta tanto de pobre. Meu Deus!”, exclama o jornalista.
Duvivier já teria sido vítima de agressões por parte de integrantes da direita fascista, tanto que, dois dias atrás, em artigo publicado no diário conservador Folha de S. Paulo, onde mantém uma coluna, o humorista criticou a patrulha política para que votasse em Aécio Neves e declarou seu apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

“Nos postes da cidade, os adesivos se multiplicam. ´Aqui se vota Aécio´. Você, que não vota como o poste: ame o Rio – ou deixe-o. Aqui não é sua área. Aqui se brinda pelo fim da maioridade penal. Aqui a gente cansou da corja do PT e quer gente nova – mas logo quem? O mensalão tucano, a compra da reeleição, o aeroporto, o helicóptero, tudo virou pó”, disse ele. “A militância de jipe e os comentaristas de portal não me dão essa opção. Se quem defende causas humanitárias e direitos civis é tachado de petista, não me resta outra opção senão aceitar essa pecha”.

Logo em seguida, o colunista de ultradireita Rodrigo Constantino, que escreve no site da revista de mesma tendência política Veja.com e disseminou a expressão “esquerda caviar”, publicou artigo afirmando que o apoio de Gregório Duvivier a Dilma representaria “mais um ponto” para Aécio:
“Causas humanitárias? Tipo… aquelas adotadas na Venezuela ou em Cuba, países que o PT defende? Direitos civis? Tipo… aqueles presentes nos países islâmicos que o PT também defende? Pergunto-me: pode apenas a burrice explicar algo assim?”, questionou o colunista de Veja.com.

Leia, a seguir, o artigo de Gregório Duvivier

Terra estrangeira
Adesivos multiplicam-se nos postes. “Aqui se vota Aécio”. Você, que não vota como o poste: ame o Rio – ou deixe-o.

Eis que de repente, não mais que de repente, toda caminhonete que se preze tem um adesivo do Aécio. No peito do motorista, um brasão, muitas vezes peludo, quando não um cavalo, aquele enorme cavalo em alto relevo, que vai do umbigo ao mamilo. Olham, ele e o cavalo, altaneiros por sobre os bípedes, coitados, que insistem em andar ao rés do chão –ainda não vi uma bicicleta com adesivo do Aécio.
Estou voltando para casa a pé, tarde da noite, quando percebo que uma enorme SUV me acompanha –lustrosa, reluzente, cheirando a blindada. Finjo que não percebo, até que começam a buzinar. Minha auto-estima elevada me faz crer que são fãs do Porta dos Fundos. Aceno simpático. Um sujeito põe a cabeça para fora da janela e berra: ” Vaza, PT! Volta pra Cuba!”

Sento no meio-fio, desolado. Não votei nem manifestei apoio ao PT, tampouco fui a Cuba, mas parece que, aos olhos do mundo (ou, ao menos, do Leblon), tenho uma estrela no braço. Por algum motivo, represento o inimigo. A realidade é dura: moro em terra estrangeira.

Nos postes da cidade, os adesivos se multiplicam. “Aqui se vota Aécio”. Você, que não vota como o poste: ame o Rio –ou deixe-o. Aqui não é sua área. Aqui se brinda pelo fim da maioridade penal. Aqui a gente cansou da corja do PT e quer gente nova –mas logo quem? O mensalão tucano, a compra da reeleição, o aeroporto, o helicóptero, tudo virou pó.

Um amigo, Aécio ferrenho, disse que sonha com um Brasil em que ele possa ir pra Nova Iorque com o dólar um pra um. Aí, eu vi sinceridade. O que não dá é votar Aécio contra a corrupção. O mandato nem começou e ele já está cheio de esqueletos no armário.

Por isso, não voto feliz em nenhum dos dois candidatos. Não importa quem ganhe, já começa endividado –e vai quitar a dívida com dinheiro público. 

Ambos contraíram empréstimos milionários com empreiteiras, bancos, com a Friboi (sim, a Friboi doou a mesma quantia para os dois candidatos –não quis correr riscos) e fizeram acordo com os setores mais reacionários da sociedade. Ambos os governos –não se enganem– vão ser ruralistas, fundamentalistas e corruptos. Seu dinheiro, eleitor, já está comprometido.

Por essas e outras, poderia votar nulo –mas a militância de jipe e os comentaristas de portal não me dão essa opção. Se quem defende causas humanitárias e direitos civis é tachado de petista, não me resta outra opção senão aceitar essa pecha.

fonte Correio do Brasil

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