14 de out. de 2013

Uma ilusão chamada Reguffe

Uma ilusão chamada Reguffe
“Não é que Brasília seja um ovo de codorna. A burguesia é que é restrita”, me disse um amigo jornalista, ao comentar o fato de que todos os moradores do Plano Piloto parecem se conhecer. Bem, eu não conheço de perto o deputado Reguffe, agora pré-candidato ao Palácio do Buriti, mas tenho amigos em comum com ele que o admiram profundamente. Eles me garantiram que esse representante do povo brasiliense é mesmo um idealista, cheio de boas intenções e sobretudo muito honesto. Acredito neles e nunca soube de nada que pudesse desabonar o campeão de votos da cidade. Portanto, o que vou escrever agora não é um ataque pessoal, mas a simples e democrática opinião de um cidadão sem vínculos partidários.
Então, vamos lá: a popularidade de Reguffe é uma das coisas que mais me intrigam na política. Por que ele recebe tantos votos, se nada faz para melhorar a vida da população? Posso estar enganado, mas até onde eu sei tudo o que Reguffe faz é abrir mão de verbas de gabinete e cortar as suas próprias despesas parlamentares. Li, no Facebook, que ele sozinho teria economizado milhões de reais do contribuinte.
É aí que começa a ilusão: na verdade, essa economia não existe, pois a verba que deixa de ser gasta por um deputado não é devolvida aos cidadãos. O dinheiro volta para a Câmara, que pode usá-lo em outras coisas ou devolvê-lo ao Executivo. Uma vez incluídos no Orçamento, os recursos públicos só retornam aos pagadores de impostos por meio de serviços, obras, ações de governo.
Portanto, ao deixar de gastar o dinheiro colocado à disposição do seu gabinete, o que o deputado faz na prática, talvez sem perceber, é permitir que essa verba seja usada por outros agentes públicos. O dinheiro vai parar nas mãos de pessoas que, possivelmente, não têm a mesma honestidade do parlamentar de Brasília.
Segundo os puros de coração, o melhor efeito dessa suposta economia é o fato de servir de exemplo para os políticos, ao provar que a máquina pública pode funcionar com muito menos dinheiro. Estamos, assim, diante de mais uma ilusão muito bem alimentada pela mídia. O que falta no Brasil não é dinheiro, e sim o uso eficiente dos recursos para melhorar a saúde, a educação, a segurança e a infraestrutura (estradas, redes de comunicação etc.).
Pelo fato de agir sozinho, quase como um apolítico dentro da política, Reguffe não arregimenta outros parlamentares para a sua causa, e  o seu exemplo cai no vazio. A economia proporcionada por ele pode ter efeito simbólico, mas o povo precisa mesmo é de realidade: hospitais, escolas, polícia nas ruas. Ao se colocar acima da política, Reguffe passa a ter poucas chances de aprovar propostas que poderiam melhorar, efetivamente, a vida da população.
Porém, é preciso reconhecer: Reguffe jamais enganou o seu eleitorado. As pessoas que votam nele concordam, muito conscientemente, com a tese de que a melhor forma de fazer política é não fazê-la. E, pensando bem, a grande quantidade de votos recebida por ele não tem nada de surpreendente. A opção por Reguffe representa muito bem um certo zeitgeist da classe média de Brasília, de uma burguesia que, movida por um obscuro sentimento de culpa, faz questão de se declarar socialista, ou politicamente correta, enquanto mantém os hábitos da sociedade mais capitalista e individualista do País. Votar nele é uma forma de ficar de consciência limpa sem contribuir muito para mudar a realidade.
Não por acaso, o grande ídolo de Reguffe é o senador Cristovam Buarque, um idealista que não conseguiu executar as suas utopias, seja no governo do DF ou no Ministério da Educação. O honesto Cristovam é o oposto do “rouba mas faz” e, assim como Reguffe, tem uma legião de fãs. Aliás, um eventual governo de Reguffe poderia ser bem parecido com a passagem de Cristovam pelo Buriti de 1995 a 1998: muita conversa e poucas realizações.
Respeito o deputado Reguffe e os seus eleitores, mas tenho a minha opinião. Apresentar belos discursos à mídia e deixar de gastar dinheiro não leva nenhum país para a frente. O que faz diferença é saber usar os impostos para melhorar a vida dos cidadãos. E sem roubalheira, claro.
Para muitas pessoas, o fato de um político não roubar no Brasil atual, a exemplo de Reguffe, já é lucro. Essa visão não deixa de ser triste. Deveríamos esperar bem mais dos nossos representantes, pois há dezenas de problemas graves à espera de solução. São necessárias medidas práticas e urgentes, e quem não ajuda acaba atrapalhando, já que o tempo passa e os cidadãos continuam em dificuldade. Isso também custa caro.

Fonte: http://www.meiaum.com.br

5 comentários:

Unknown disse...

Interessante e curiosa a forma que o criador do texto encontrou para enegrecer a postura do personagem central. A pergunta é: Será esta pessoa dotada de alguma sanidade? Como é fácil ser capaz de criticar a abdicação racional de outra pessoa e ainda assim não perceber sua própria necessidade de intervenção psiquiátrica?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Desculpe mas todo o texto é expressão da opinião pessoal do autor. Sequer menciona provas de que as verbas recusadas pelo parlamentar em questão é devolvida para uso de outros. Desculpe novamente, mas não posso concordar com a opinião de uma pessoa que se limita a mencionar o ex governador Joaquim Roriz como "Rouba mas faz". Roubo é roubo. Não é por acaso que o autor e o ladrão que faz são xarás. rsrsrsrsrs...

Blog do Arretadinho disse...

Prezado Everson Carvalho, em primeiro lugar muito obrigado pelos comentários e, com o objetivo de esclarece-lo, informo que o Blog é um espaço democrático para que as pessoas manifestem sua opinião, como você o fez. Perceba que não coloquei moderador nos comentários, é só chegar, opinar e publicar.
Em segundo lugar, não sou o autor do texto, perceba que no final da postagem está devidamente creditado a autoria.
Volte quando quiser, saudações fraternas.

Blog do Arretadinho disse...

Por outro lado, prezado Everson, não creio que o autor do texto tivesse a intenção de enegrecer a figura do político citado, porque a cor negra, na minha opinião, não representa nada que seja negativo.
Saudações fraternas.