20 de nov. de 2013

Palavras - Por Alexandra Marília Gallindo Lira

Palavras
Por Alexandra Marília Gallindo Lira

Falamos, e no mal-entendido da linguagem nos tornamos humanos e amamos. Na palavra uma amizade se dissolve, um amor pode acabar, o rumo da história do mundo muda, a ciência se sustenta. Tantas vezes, no amor ou na amizade, esquecemos de zelar pela palavra, coisa frágil e decisiva, líquida e consistente, efêmera e eterna- coisa repleta de paradoxos e nuances.

 Na palavra mora o desejo, o descuido, a falta de sensibilidade, de responsabilidade. Na palavra o tesão, o chiste, o encontro, o adiamento. É na palavra que você partilha um segredo e espera que ele seja preservado, é na palavra- cicatriz que o corpo pode gritar, é na palavra-silêncio que o sentido vai se produzindo entre ecos, ruídos e afetos mudos prontos para serem falados, simbolizados. É preciso cuidado com as respostas rápidas que damos no cotidiano, cuidado ao diminuir o tombo do outro, o segredo do outro, a escritura do outro, o gesto que a palavra pode abrigar.

 A palavra, essa coisa evanescente, mas que nos deixa suas marcas indeléveis- essa coisa que nos ensina a escutar a diferença, essa coisa que nos salva do abismo do nada. Penso que o maior tesouro lacaniano é construir uma teoria onde a palavra tem peso. Há gente que fala, fala, fala, mas não se deixa penetrar pela fala do outro. É preciso cuidado ao dizer - há certas falas que são um estupro.

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