Seria risível se não fosse tão tristeTriste, porque a grande tragédia com quase 300 mortos se transforma em mais uma etapa da guerra de informação que tem o mesmo objetivo – acusar a Rússia
A derrubada do avião Boeing 777 da Malaysia Airlines no espaço aéreo da Ucrânia se transformou em nova batalha política com meios e objetivos bem definidos.
É lamentável observar mais uma vez que a grande mídia internacional se transformou num meio de divulgação de ódio, mentiras, definições preconcebidas e conclusões precipitadas.
O governo da Ucrânia e seus serviços de segurança, conhecidos pelas suas preferências de "política civilizada, democracia e princípios morais", não tiveram dúvida, avisando o mundo logo depois da tragédia que o avião foi abatido pelos mísseis russos BUK lançados pelos separatistas pró-russos.
No dia 18 de julho a representante dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU, Samantha Power, declarou que os separatistas não teriam condições de usar o complicado complexo BUK. Em outras palavras, ela insinuou a possibilidade de participação dos militares russos neste ato.
Praticamente ao mesmo tempo o Ministério da Defesa russo encaminhou 10 perguntas para seus colegas ucranianos em relação ao acontecimento, cujas respostas poderiam ajudar a comunidade internacional a descobrir com maior brevidade as verdadeiras razões da tragédia.
Uma das poucas mídias, se não a única, o portal "Voz da Rússia" publicou na íntegra essas perguntas, que até hoje continuam sem respostas.
As perguntas são :
1. As autoridades ucranianas acharam os culpados desta tragédia imediatamente. É claro que, para Kiev, a culpa é dos insurgentes [os separatistas do Sudeste da Ucrânia]. Quais são os fundamentos por trás desta conclusão?
2. Será que Kiev pode informar os detalhes do uso dos complexos Buk [mísseis terra-ar] na zona dos combates? Principalmente, qual é a necessidade de sua presença lá, visto que os insurgentes não têm aviação?
3. Por que as autoridades ucranianas permanecem passivas na questão da formação da comissão internacional? Quando é que ela vai começar a atuar?
4. As forças armadas da Ucrânia podem prestar aos peritos internacionais a documentação que contabiliza os mísseis "ar-ar" e "terra-ar" usados nos complexos antiaéreos?
5. A comissão internacional terá acesso aos dados objetivos sobre a movimentação dos aviões da Força Aérea ucraniana no dia da tragédia?
6. Por que os controladores de voo deixaram o avião mudar sua rota para o norte, onde Kiev realiza a chamada operação antiterrorista contra o povo das regiões Leste e Sul do próprio país?
7. Por que o espaço aéreo na zona de combate não foi completamente fechado para o tráfego aéreo civil?
8. Kiev pode comentar as mensagens nas redes sociais divulgadas supostamente por um controlador espanhol que trabalha na Ucrânia, de que o Boeing derrubado estava sendo escoltado por dois aviões militares ucranianos?
9. Por que o Conselho de Segurança da Ucrânia começou a analisar as conversas dos controladores de voo com os pilotos do avião sem a participação dos representantes internacionais?
10. Será que tiraram alguma lição do caso, semelhante, do Tu-154 russo abatido sobre o mar Negro? Naquela ocasião as Forças Armadas da Ucrânia negaram até o fim o seu envolvimento, e a Rússia só conseguiu determinar a culpa deles ao apresentar provas irrefutáveis.
O avião russo foi abatido a caminho ao Israel por um míssil ucraniano.
Os dirigentes dos países ocidentais tomaram a decisão de iniciar as novas sanções contra a Rússia caso ela não tome as medidas para desescalar a situação na Ucrânia.
Obviamente, a derrubada do Boeing 777 dentro do espaço aéreo ucraniano não ficou sem a atenção de vários analistas políticos e militares da Rússia.
Rostislav Ischenko, presidente do Centro de Análise Sistemática e Prognóstico, afirma que esse tipo de armamento apresenta ameaça para a aviação civil em qualquer lugar do mundo, e por isso tem que ser muito controlado. Ele não acredita que a parte ucraniana vá divulgar a documentação solicitada pelo Ministério de Defesa da Rússia, e inclusive ignorar todas as perguntas, mesmo porque quando o Boeing ainda não tinha caído, e ninguém sabia o que aconteceu, Kiev já tinha anunciado que o avião da Malaysia foi abatido pelos separatistas pró-russos.
Aparentemente, Samantha Power também tinha conhecimento antecipado desse “fato”. Ela declarou que os separatistas pró-russos não conseguiriam abater o Boeing sem ajuda externa. Isso significa que para ela já ficou provado que o avião foi abatido pelos separatistas.
Entretanto, as provas de participação dos separatistas, com ou sem ajuda externa, não foram apresentadas.
Apesar disso, continua o analista, existem sérias razões para atribuir esse lançamento às forças ucranianas, e ele oferece os seguintes argumentos:
Em primeiro lugar, o espaço aéreo onde o míssil abateu o avião pertence à Ucrânia, onde os complexos ucranianos BUK estavam em 100% de prontidão.
Fora disso, o ato do lançamento desses mísseis dificilmente passaria despercebido, ainda mais na região de Donetsk, com uma grande população. Torna-se impossível nesta área urbana preparar em segredo o equipamento do BUK e realizar o lançamento de seus mísseis.
Não devemos esquecer – continua Rostislav Ischenko – que existe a hipótese de que o Boeing foi abatido por um caça, e os separatistas, por sua vez, não possuem aviação.
Importante lembrar, também, que este tipo de lançamento é facilmente percebível. Se o lançamento fosse realizado do território russo, isso seria detectado por satélites americanos. Washington e Kiev não apresentaram este tipo de provas.
O analista ainda relembra uma curiosidade: os dirigentes ucranianos começaram a preparar a opinião pública sobre a derrubada do avião praticamente uma hora antes do acidente com o Boeing.
Ao mesmo tempo, dentro do Conselho de Segurança da ONU começaram a surgir rumores de que os separatistas têm equipamento moderno, o que faz pensar que tanto em Kiev quanto no Conselho de Segurança já sabiam o que iria acontecer.
Finalmente, declara Ischenko, os acontecimentos posteriores mostraram que os formadores de opinião ucranianos também estavam preparados para a tragédia com o Boeing, apesar de que agiram de maneira pouco profissional.
Eles declararam, por exemplo, que as forças de segurança da Ucrânia prenderam pessoas que tinham como objetivo corrigir o lançamento de mísseis.
O analista chama a atenção para o absurdo dessas declarações, levando em consideração que os mísseis não são canhões comuns, e seu lançamento não precisa ser corrigido.
Logo os meios de comunicação da Ucrânia divulgaram a informação de que o complexo BUK foi transferido para a Rússia, esquecendo que para chegar à fronteira russa precisava percorrer 500km, e toda a área está sob controle dos satélites americanos, o que torna praticamente impossível o movimento desse enorme comboio militar sem ser percebido.
Não seria mais fácil explodi-lo, ao invés de demonstrar a sua existência?
Rostislav Ischenko acredita que tudo isso parece mais uma provocação preparada, e que tinha vários objetivos.
O primeiro foi a própria declaração do presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, de que o avião foi abatido pelos separatistas e por isso pediu a presença das forças da OTAN na Ucrânia, devido à lamentável situação de próprio exército ucraniano, que aparenta não ter mais condições de vencer os separatistas. O presidente quer restabelecer a situação com ajuda das forças estrangeiras.
Segundo objetivo: piorar a relação da Rússia com os países da Europa.
Como se sabe, os países europeus não têm muita simpatia pelas propostas de entrar com novas sanções contra a Rússia, mas o avião abatido pode fazer a Europa mudar de ideia.
O terceiro objetivo foi declarado por Washington: a exigência de que ambas as partes retirem suas forças militares da região. O exército ucraniano está em situação complicada, e será necessário um tempo para a mobilização de novos recursos.
Finalmente, o quarto objetivo mencionado por Rostislav Ischenko: possibilitar ao presidente ucraniano declarar que na Ucrânia estão presentes terroristas que decidiram liquidar um avião com passageiros. Com isso seria fácil fazer a Comunidade Europeia fechar os olhos para os meios que Kiev usa nessa guerra.
Na opinião de outro analista político, Mikhail Aleksandrov, do Centro de Pesquisas Políticas do Instituto de Relações Internacionais de Moscou, os dirigentes ucranianos precisam dar muitas explicações, mas até o momento não disseram nada. Por exemplo, a gravação das conversas entre os controladores de voo ucranianos com o Boeing, em poder do serviço de segurança ucraniano, estão fechados para todos, inclusive para os investigadores internacionais.
Tudo isso lembra a provocação com o Boeing coreano, em 1983. Ele lembra que essa provocação tinha como objetivo mudar a opinião publica e apresentar a União Soviética como um império do mal.
O analista faz a curiosa declaração de que agora o nível de execução dos projetos desta natureza nos Estados Unidos já não é aquele, é claramente perceptível a degradação do nível de gerência.
Essa declaração influencia o nível de execução dos atos provocativos.
Particularmente no caso de Boeing da Malaysia, segundo Aleksandrov, os erros aparecem a cada instante. Não é por acaso que o presidente dos EUA não fez acusações diretas à Rússia, dizendo que os mísseis foram lançados do território que está sob controle dos separatistas. Não está claro, portanto, o que ele tinha em vista. Nem Lugansk nem Donetsk estão totalmente sob o controle dos separatistas. Os aeroportos, por exemplo, estão em mãos dos militares ucranianos.
Para Mikhail Aleksandrov está bem claro que a histórica derrubada do Boeing é uma provocação que tem como objetivo acusar a Rússia, mas que foi realizada de uma maneira diferente do planejado.
Os dois analistas acham que será necessária mais de uma semana para os investigadores internacionais chegarem a conclusões mais claras. Mas já existem várias perguntas que continuam sem resposta, e várias conclusões sem fundamento.
Os meios de comunicação da Ucrânia começaram a publicar as notícias sobre o complexo BUK que os militares ucranianos estão tentando esconder dos olhos do mundo. Ao mesmo tempo estão surgindo outras notícias de que o avião foi abatido por mísseis de um caça.
A história continua...
do Diário da Rússia

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