31 de jan. de 2019

Violência contra Lula enseja a pergunta: onde está o fundo do poço?

GENIVAL INÁCIO DA SILVA, O VAVÁ, IRMÃO DO EX-PRESIDENTE LULA, MORREU NESTA TERÇA-FEIRA 29, EM SÃO PAULO. ELE FOI VÍTIMA DE CÂNCER NO PULMÃO. (FOTO: RICARDO STUCKERT)</
Degradação de instituições e valores democráticos parece não ter fim

Onde está o fundo do poço? O editor de Justiça do site da CartaCapital, Brenno Tardelli, faz essa pergunta em uma postagem feita no Facebook. A indignação se faz diante do impedimento de Luiz Inácio Lula da Silva comparecer ao velório do seu irmão, mas mais ainda, pelo deferimento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, para que a família levasse o “de cujus” até o ex-presidente em um quartel militar.

Há limites e padrões éticos que até em guerras são respeitados. No quadro atual do Brasil, isso virou escracho.

Quem sabe, no futuro outras gerações vão saber contar os tempos medíocres que vivemos.

Quem sabe em algum momento nossa letargia ganhará as ruas contra esses tempos de ignorância, de ausência de informação e depuração sobre a sua verdade, dessa pasmaceira que conduz para uma mal que se transforma numa burrice crônica.

Lula preso numa discussão judicial kafikaniana, numa impossibilidade total de aplicar-se qualquer preceito de Justiça, como se seu grande crime foi ter sido exatamente Lula.

A crueldade da decisão deste caso, na ausência de helicópteros, na falta de policiamento a garantir a ordem, ao risco de fuga, também faz parte dessa engrenagem que nos faz somente nos deparar com o sem solução.

É lógico que a elite desse país ou 1%, ou 0,5%, da população quer através do seu egoísmo gozar só para ela da vida. Aos engenheiros cabe a prisão, o cárcere por ser uma classe média omissa, medrosa, pejotizada, que assina laudo pois do contrário quem manda jamais lhe dará valor. A não submissão lhe condenará a lama, e nessa, só lhe restará esperar por uma campanha de SOS.

A dor de Brumadinho, a prisão do nosso Kafka ou do nosso Mandela, os engenheiros que assinam laudos para os barões de jatinhos, vozes lentas, pausadas, educadas e com solidariedade a luz do mercado, transformam as perspectivas de oxigênio em algo para poucos, só restando os metais pesados para nos arrastarmos na lama. Quem sabe se de tanto rastejar apareça a luz acima do poço.

Eduardo Surian Matias é Formado em Direito pela PUC Campinas (1986). Sócio responsável pela gestão do escritório Loguercio, Beiro e Surian Sociedade de Advogados. Diretor do Instituto Lavoro.

da Carta Capital

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